A expressão inglesa soft skills, que poderia ser traduzida literalmente como "habilidades sutis", abarca uma gama de competências relevantes para o mercado de trabalho que não podem ser comprovadas por diplomas. O aprimoramento dos modelos de negócio jurídico tem forçado os escritórios a redimensionar o valor dado a essas habilidades.
Uma das circunstâncias que explica esse novo olhar é a multidisciplinariedade da carreira. A advocacia, especialmente empresarial, requer a atuação de profissionais de diversas áreas do conhecimento para funcionar. Para tornar a ideia mais concreta, alguns exemplos de soft skills mais valorizadas são habilidade em se comunicar, lidar com frustrações, criatividade, pensamento crítico, empatia e inteligência emocional.
"O básico, o hard skill, o ‘saber direito’, é um requisito essencial para a contratação. No entanto, isso não distingue o candidato ou a candidata. O que os diferencia é a capacidade de resolver problemas", diz Otávio Vieira Tostes, sócio do escritório Tostes & De Paula Advocacia Empresarial, escritório mineiro que está no ranking de 2023 do ANÁLISE ADVOCACIA REGIONAL como uma das bancas Mais Admiradas.
Essa nova perspectiva de quem contrata foi percebida por um estudo do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Direito SP. Na publicação, denominada "Formando a advocacia do presente e do futuro", os pesquisadores constataram que, depois das competências jurídicas, as soft skills são o principal crivo de contratação no mercado. Habilidades técnicas tiveram 39% dos votos dos entrevistados, seguidas de competências de gestão (26%) e habilidades socioemocionais (20%).
Como medir as soft skills?
Como os responsáveis pela contratação nos escritórios podem, então, determinar se um candidato possui ou não soft skills? Tostes responde: "Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Hoje em dia, não há mais espaço para o sócio 'genioso' que não sabe lidar com pessoas. O direito foi feito para as pessoas, então não basta ser um expert no assunto se você não souber lidar com a equipe".
Ele defende que os avaliadores forneçam oportunidades para os candidatos demonstrarem essas habilidades durante o processo de seleção e acredita que a capacidade de liderança é a soft skill mais difícil de ser percebida. "Você só vai descobrir se alguém tem essa habilidade quando essa pessoa estiver liderando", afirma o sócio.
Processos seletivos
"O processo seletivo não pode ser apenas rito de passagem para o ingresso", diz Rafael Canterji, managing partner, do Silveiro Advogados, escritório gaúcho que também foi eleito como um dos Mais Admirados no especial regional deste ano.
Ele enfatiza a importância de uma equipe multidisciplinar conduzir o processo de seleção e de manter o acompanhamento durante o período de adaptação no escritório. "O processo não termina com a contratação, devendo seguir, principalmente, na fase de onboarding", diz Canterji.
De acordo com o managing partner, a equipe multidisciplinar possui parâmetros científicos para avaliar se um candidato possui ou não as soft skills necessárias. No entanto, ele reitera que a observação a longo prazo é uma diligência essencial. "O gerenciamento das emoções muitas vezes requer mais tempo e elementos do que o processo seletivo proporciona", finaliza.