Apoiadores da nova pesquisa da FGV debatem o futuro dos escritórios e profissões jurídicas | Análise
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Apoiadores da nova pesquisa da FGV debatem o futuro dos escritórios e profissões jurídicas

Representantes de grandes escritórios do país, que apoiaram o estudo, debateram o futuro das profissões jurídicas e dos escritórios

1 de September de 2023 7h

Na última quinta-feira, 21, o CEPI (Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação) da FGV Direito SP divulgou os resultados de sua pesquisa intitulada "Formando a advocacia do presente e do futuro: habilidades e perspectivas de atuação". O propósito dessa investigação foi a identificação e discussão das competências necessárias para os profissionais do direito, incluindo as novas áreas e oportunidades, bem como a análise do papel e dos desafios da formação jurídica em um contexto de mudanças tecnológicas.

Em mesa mediada por Alexandre Zavaglia, pesquisador do CEPI, representantes de grandes escritórios do país, que também são apoiadores da pesquisa, discutiram possíveis perspectivas em relação ao futuro dos escritórios e das profissões jurídicas

Sávio Pereira de Andrade, advogado do Machado Meyer, abriu o debate destacando que o estudo promovido pela FGV foi de encontro a uma mudança de pensamento que já estava sendo implementada no escritório. "Essa pesquisa para nós do Machado Meyer auxiliou muito no movimento que já vínhamos fazendo de sair do lugar típico de impasse, em que o advogado que vai ditar as soluções, e passar para o patamar do advogado que se dá as mãos para o cliente e entende a sua dor para resolvê-la junto com ele."

Para André Carvalho Ribeiro, advogado líder de inovação do escritório Finocchio e Ustra, ressaltou que algo importante para um melhor atendimento aos clientes é a capacidade de desenvolver habilidades adicionais às já requisitadas pelos escritórios. "Ouvindo um pouco sobre a pesquisa, eu fico pensando em como estamos olhando para os departamentos jurídicos e o quanto estamos ouvindo-os. É muito interessante olharmos para dentro do escritório e desenvolvermos as nossas soft skills, mas o que realmente importa é a maneira como estamos utilizando isso para melhorar a vida dos nossos clientes. Por isso, eu observo muito as habilidades de comunicação e socioemocionais, pois, no fim das contas, o nosso cliente tem uma demanda e precisamos ouvi-lo para entender."

Gustavo Biagioli, diretor de Compliance e Jurídico Interno do Trench Rossi, pontuou que, para o futuro dos escritórios, a cooperação entre eles é essencial. "Eu não consigo enxergar o mercado jurídico brasileiro sob a perspectiva da transformação sem uma grande cooperação; essa cooperação será a palavra-chave nos próximos anos em relação à sobrevivência de todos os escritórios, sejam eles grandes, médios ou pequenos."

José Mauro Decoussau Machado, sócio nas áreas de Propriedade Intelectual e Tecnologia de Pinheiro Neto, alertou que é preciso que os profissionais busquem se aprimorar diante do avanço tecnológico. "Eu tenho um olhar otimista, mas os advogados estão preocupados com esse negócio de Inteligência Artificial, Chat GPT, mas nós sempre vamos ser necessários. Você não vai perder o seu emprego para inteligência artificial, para o chat GPT; você vai perder o seu emprego para quem sabe mexer na IA melhor do que você. A tecnologia veio para ficar, é algo que já está aí, não estamos falando de futuro, estamos falando de presente, e precisamos nos capacitar e aperfeiçoar nesse aspecto, aprender a usar essas novas tecnologias".

Sobre a queda na procura por cursos na área jurídica, Marcello Junqueira, sócio do Urbano Vitalino, chamou a atenção. "O direito sempre atraiu os adolescentes, mas a procura pelo curso de direito tem caído significativamente não só no Brasil, mas no mundo todo. Por que a gente está perdendo o talento? Por que a gente está perdendo a capacidade de atrair indivíduos com hard e soft skills? Esse é um momento de reflexão, de mudança de mentalidade, pois precisamos entender que aquela advocacia personalíssima e tradicional está ficando para trás."

Complementando a reflexão levantada por Marcello, a sócia do Peck Advogados, Letícia Tavares Málaga, ressaltou a importância da inclusão do direito digital nas universidades para uma melhor formação dos futuros advogados. "O direito digital está crescendo nas universidades, mas ainda é uma matéria muito pontual; nem todas as faculdades percebem a relevância que isso tem para os negócios. Então, como a gente insere todas essas características e habilidades no novo profissional? Ele não precisa ser o advogado programador, mas ele precisa entender de negócios; ele precisa conseguir entender as dores do cliente."