A mais recente edição do ANÁLISE ADVOCACIA DIVERSIDADE E INCLUSÃO mostra que a maioria dos escritórios de advocacia ainda não estabelece orçamento específico para diversidade e inclusão. Segundo o levantamento, 58% das bancas afirmam não ter verba definida para iniciativas na área.
Resistência em investir
Mesmo com avanços recentes, a destinação de orçamento para diversidade e inclusão ainda enfrenta resistência no universo jurídico. Segundo Silvia Leticia de Almeida Rocha, sócia do Arystóbulo Freitas Advogados e coordenadora do Comitê de Diversidade, Inclusão e Responsabilidade Social do escritório, a pauta ainda não é tratada de forma estratégica em muitas bancas. "Apesar dos avanços em D&I no universo jurídico, o tema ainda é incipiente em muitos escritórios e ainda percebido como sinônimo de voluntariado, principalmente quando confundido com responsabilidade social. Com o tempo, o amadurecimento das ações e a inserção de D&I na cultura organizacional emerge a percepção de que tratar D&I de forma organizada e estratégica, com o estabelecimento de metas e destinação de orçamento específico, pode significar um investimento importante para a banca, resultando em mudança de clima organizacional, atração e retenção de talentos."
Na avaliação de Bianca Dias, sócia do Serur Advogados, a resistência também tem raízes culturais, ligadas ao perfil tradicional do mercado jurídico. "Diversidade e Inclusão são temas que demandam uma profunda mudança de cultura. O mundo jurídico, em muitos aspectos, espelha os comportamentos sociais, pelo que a compreensão da importância de ações de diversidade e inclusão demanda aderência ao tema pelos responsáveis pela condução dos negócios, para que haja um maior engajamento das equipes envolvidas, a partir daí. É comum que haja resistência a mudanças, o que pode ser uma das causas desses percentuais de investimento financeiro no tema, dentro do universo do Direito - que, tradicionalmente, é mais conservador do que outros segmentos."
Impacto dos investimentos
Apesar da uma parcela considerável não possuir orçamento definido, 15% dos participantes da pesquisa afirmaram ter verba destinada à diversidade e inclusão. A maior fatia desses escritórios disse que investem até 1% do faturamento. Para Silvia, esse percentual pode ser suficiente para gerar resultados, desde que os recursos sejam bem direcionados. "Este patamar pode gerar impacto real e relevante nas iniciativas de D&I, desde que direcionado com planejamento e em adição a iniciativas que não gerem dispêndio financeiro. Ainda mais importante do que destinar um orçamento ao tema é tratar D&I de forma perene, com o firme posicionamento da banca e o incentivo constante ao envolvimento de todos do escritório. Quando se logra êxito em inserir D&I na cultura do escritório, os investimentos se retroalimentam e muito se consegue fazer, ainda que com poucos recursos."
Otimização de recursos
Com a maior parte dos escritórios destinando pouco ou nenhum orçamento para diversidade e inclusão, torna-se essencial fazer valer cada centavo investido. Para Bianca Dias uma das formas mais eficazes de otimizar recursos é envolver as próprias equipes. "Pensando em projetos que mobilizem voluntários, dentro das suas equipes. Muitos temas de D&I reverberam nos indivíduos, inclusive em seus ambientes de trabalho. Estruturar grupos de trabalho, projetos, ideias e ações que possibilitem a participação espontânea e voluntária dos integrantes otimiza os recursos existentes."
Já Silvia destaca que o ponto de partida deve ser um bom planejamento, aliado à busca por soluções criativas. "Inicialmente, é fundamental ter um adequado planejamento das iniciativas, para trazer previsibilidade e evitar custos desnecessários. Outros caminhos possíveis são: buscar iniciativas que não exigem dispêndio financeiro; estabelecer parcerias com pessoas, ONGs ou empresas que atuam no setor e que têm interesse na pauta, podendo oferecer sua expertise voluntariamente ou com custo reduzido; buscar voluntários para as iniciativas; apoiar pequenos empreendedores, que, muitas vezes, apresentam custos bem mais baixos; buscar doações."
De custo a investimento
Transformar diversidade e inclusão em política institucional não significa aumentar despesas: significa investir no futuro e na competitividade do escritório. Silvia destaca que, quando D&I integram de fato a cultura do escritório, geram ganhos em clima organizacional, produtividade e retenção de talentos, o que mostra que não se trata de custo, mas de investimento. "A experiência em nosso escritório tem demonstrado que, quando diversidade e inclusão passam a integrar a cultura do escritório, há um ganho no clima organizacional e, consequentemente, em produtividade. "
"A convivência entre pessoas diversas, com um programa institucional direcionado para a inclusão de diferentes grupos minorizados e um trabalho constante e cuidadoso sobre o tema, traz um apurado senso de coletividade e a sensação de pertencimento, com ganhos para todos os envolvidos. Além disso, o posicionamento do escritório sobre diversidade e inclusão tem atraído talentos no mercado jurídico e tem sido fator de retenção. Estes elementos, aliados à conquista reputacional do escritório, demonstram que diversidade e inclusão não devem ser vistas como custo, mas como investimento", complementou.
Bianca reforça que o tema também é impulsionado por uma evolução social e pela pressão do mercado, que cobra das organizações práticas alinhadas à diversidade e inclusão. "Uma evolução social constante, que se reflita em todos os ambientes coletivos, a exemplo dos locais de trabalho, escolas, igrejas, clubes etc., os quais representam microcosmos da sociedade, nos quais há resistência a pautas de diversidade e inclusão. Do mesmo modo, uma maior pressão do mercado - junto, por exemplo, a fornecedores, com a cobrança de adesão aos temas vinculados a D&I, resulta em aumento da aderência ao tema."