Saiba como escolher a IA ideal para escritórios de advocacia | Análise
Análise

Saiba como escolher a IA ideal para escritórios de advocacia

47% dos escritórios já usam IA, mas como selecionar a certa? Especialistas revelam o caminho para atender a demanda de forma segura

14 de October 18h58
(Imagem: Análise Editorial/Divulgação)

O uso de Inteligência Artificial (IA) tem sido amplamente discutido em diversos setores, e na advocacia não é diferente. A ferramenta oferece inúmeros benefícios às bancas, como ganho de tempo, segurança e assertividade nos processos. Contudo, antes de colher esses benefícios, há uma etapa crucial: a escolha da IA ideal.

Atualmente, muitos escritórios já utilizam essa tecnologia internamente. Segundo a pesquisa do ANÁLISE ADVOCACIA 2025, 47% dos escritórios já consideram a Inteligência Artificial como principal ferramenta jurídica. A ferramenta fica à frente do Legal Design e dos Sistemas de CRM (Customer Relationship Management), que, juntas, somam 40% da adesão das bancas.

A escolha da IA ideal

Escolher uma IA que consiga atender todas as demandas do escritório é uma tarefa complexa. É preciso considerar muitos fatores para justificar o investimento e garantir que ele gere produtividade e resultados. Para Daniel Marques, diretor executivo da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L),o melhor caminho para alcançar esse objetivo é compreender que o ponto de partida não é a tecnologia, e sim as dores.

"A pergunta 'qual é a sua dor' está errada, porque sua principal dor é a dor do seu cliente. A partir disso, você vai entender quais são os processos e procedimentos que existem no escritório que geram fricção no entendimento da dor do seu cliente, e aí você vai buscar as ferramentas", afirma Daniel.

Além disso, o diretor executivo da AB2L recomenda que todas as bancas utilizem ferramentas de IA Generativa jurídicas. Uma IA destinada ao mercado jurídico, ele explica, pode trazer uma série de benefícios que outros tipos de GenAI (Inteligência Artificial Generativa) não conseguem abarcar para as necessidades da advocacia.

Entre os benefícios enfatizados por Daniel, estão a camada de proteção da informação e a especificidade para o mundo do Direito. Além disso, essas tecnologias permitem uma melhor gestão do conhecimento, com respostas mais personalizadas para o escritório, e prompts mais adaptados a cada realidade, servindo para qualquer banca, independentemente do seu tamanho.

Para Marques, esse é um passo natural que todo escritório precisa dar se quiser se manter relevante no mercado.

De olho na inovação

Ricardo Alves, sócio e head de inovação do Fragata e Antunes Advogados — banca eleita Mais Admirada no anuário ANÁLISE ADVOCACIA —, afirma que existem alguns passos importantes para a escolha de uma IA adequada para o escritório.

"A primeira coisa é avaliar o custo; isso é mandatório. Mas jamais se deve deixar de ter uma etapa de checagem pelos advogados e por uma equipe técnica. Ainda que você possa ter feito uma construção de fluxo e validado o modelo, é preciso avaliar caso a caso antes do protocolo", afirma Ricardo.

De acordo com o AI Index Report 2024, realizado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, o investimento corporativo em Inteligência Artificial alcançou US$ 252,3 bilhões em 2024, e cresceu mais de treze vezes desde 2014. Isso indica que o mercado tem investido cada vez mais na criação e aprimoramento dessas tecnologias.

Com esse cenário de constante evolução, o sócio do Fragata e Antunes Advogados afirma que designar um sócio interno apenas para fazer a gestão de projetos de IA pode ser uma forma interessante de monitorar novas tecnologias que podem auxiliar em diversos projetos internos do escritório.

Tamanho importa

Como continuar crescendo, sem aumentar o número de colaboradores, e ainda manter a produtividade? Esse foi um desafio que o Mascarenhas Barbosa Advogados — banca eleita sete vezes Mais Admirado no anuário ANÁLISE ADVOCACIA — enfrentou, levando à implementação do Projeto IARA, uma ferramenta criada para otimizar a elaboração de peças jurídicas.

Robert Nixon, ex-advogado do Mascarenhas Barbosa e um dos coordenadores do Projeto IARA, destaca que, no processo de escolha da Inteligência Artificial (IA), levar em consideração o tamanho da organização é um passo essencial.

Na visão de Robert, essa análise foi fundamental para encontrar a melhor solução para o escritório, culminando no Projeto IARA, que otimizou a elaboração de peças internamente. Além disso, a iniciativa foi uma das práticas reconhecidas pelo Prêmio Análise DNA+Fenalaw 2024, na categoria de Tecnologia.

"Foi toda uma análise no sentido de ver a dor que tínhamos, o tamanho em que estávamos e até onde pretendíamos chegar. Somente então, buscamos as soluções mais modernas no mercado que poderiam nos atender nisso", diz Robert.

Cuidado com os dados

Segundo o anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2025, um quarto das menções feitas pelos executivos sobre a área de Proteção e Privacidade de Dados e Tecnologia refere-se exclusivamente à Inteligência Artificial. Isso demonstra o quanto essa tecnologia tem acendido o debate sobre a segurança da informação.

Bruna Borghi, sócia do TozziniFreire Advogados — escritório também eleito Mais Admirado no anuário ANÁLISE ADVOCACIA —, afirma que levar em conta a segurança dos dados é um fator crucial para escolher a IA mais adequada. Inclusive, esse é um critério usado para identificar tecnologias dentro da banca.

"Esse é o critério máximo. Não contratamos nem fazemos testes com nenhuma ferramenta em que corramos risco em relação aos dados. Temos isso como uma motriz aqui no TozziniFreire para qualquer teste. Então, acho que confidencialidade, sigilo e tratamento adequado são essenciais", complementa Bruna.

Essa é uma preocupação inerente ao uso de Inteligência Artificial. Como as GenAI usam dados para treinar o algoritmo, existe o risco de vazamento de dados sensíveis, e é preciso avaliar até que ponto isso faz sentido para a organização. Bruna afirma que identificar as necessidades do escritório facilita a escolha mais coerente para a melhoria de processos internos.

Existe IA ideal?

Para cada necessidade do escritório, é possível que exista uma IA que consiga atendê-la, mas não existe uma solução única capaz de resolver tudo. Essa é a crença de Solano de Camargo, sócio da Lee, Brock, Camargo Advogados (LBCA), que aponta que a busca pela IA ideal é um mito.

Na implementação da ferramenta de IA na LBCA — banca eleita Mais Admirada desde 2007 pelo anuário ANÁLISE ADVOCACIA —, Solano diz que a escolha e a implementação seguiram um tripé bem definido. O primeiro passo foi a capacitação de colaboradores para entenderem as funcionalidades da ferramenta. Com isso, todos os funcionários foram convidados a pensar em possíveis melhorias para suas respectivas áreas. Por último, o escritório testou a solução em uma área de Sandbox, onde avaliou seu amadurecimento e desempenho por algum tempo em relação à proteção de dados, confidencialidade e cibersegurança.

Com essa experiência, Solano afirma que a capacitação é um passo que vem antes mesmo da implementação. "A primeira coisa que seria essencial é o advogado conhecer as competências, entender o que é possível fazer com o uso de IA. Isso é letramento: é fazer, por exemplo, com que o conhecimento nessas competências seja praticado, bastante testado. É até relativamente comum que uma dor que seja pequena e específica exija a combinação dessas competências", aponta Solano.

Inteligência artificial é meio, não fim

Claudio Wilberg, sócio-diretor da Legal Manager — empresa focada em soluções de gestão para escritórios de advocacia e departamentos jurídicos —, afirma que o processo de escolha da Inteligência Artificial (IA) que melhor se encaixa na gestão do escritório deve passar por vários testes para identificar se pode ser implementada com sucesso.

Contudo, Claudio alerta que, apesar de as IAs estarem cada vez melhores, os profissionais ainda não devem usá-las como etapa final do processo. Na sua visão, a revisão humana continua sendo essencial para evitar erros.

"A Inteligência Artificial é apenas uma ferramenta dentro do conhecimento acumulado, mas que tem que ser refinada. Na hora de usar isso em um documento final, ou em um conjunto de documentos para o seu cliente, ou para o juiz, ou para colocar em uma peça, não assuma que a IA está pronta para gerar peças finais ainda, porque elas não estão", conclui Wilberg.

Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L)Bruna BorghiClaudio WilbergDaniel MarquesFragata e Antunes AdvogadosLee, Brock, Camargo Advogados (LBCA)Legal ManagerMascarenhas Barbosa AdvogadosRicardo AlvesRobert NixonSolano de CamargoTozziniFreire Advogados