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O que os diretores jurídicos avaliam na hora de contratar?

Heads da Enel, Mercado Livre, Owens-Illinois e Caloi, contam na Fenalaw os fatores decisivos na hora de contratar escritórios de advocacia

1 de November de 2023 11h36

No último dia da Fenalaw 2023, 27, uma das mesas reuniu diretores jurídicos de várias empresas de impacto no mercado e perguntou o que todo advogado quer saber: o que eles querem, de fato, na hora de contratar?

Para responder essa pergunta, compuseram a mesa: Ana Rebello, diretora jurídica da Enel; Morgana Corrêa, legal and government arrairs manager da Owens-Illinois Americas South; Ricardo Lagreca, legal corp senior director do Mercado Livre; e Nadia Xavier, diretora jurídica de recursos humanos e compliance pela Caloi. 

A conversa, no entanto, abriu margem para outros assuntos: diversidade e inclusão, gestão, como precificar contratos e até como abordar esses líderes nas redes sociais. Veja a seguir os principais tópicos discutidos durante o bate-papo.

Diversidade & Inclusão

O Mercado Livre é referência em práticas de D&I (Diversidade e Inclusão), devido justamente pelo esforço que a empresa tem feito em mudar a cultura interna e a dos parceiros comerciais. Lagreca relembrou que esse caminho passa pela desconstrução também do olhar dos profissionais. 

"Os escritórios tendem a buscar um perfil campeão. Mas é como montar uma Liga da Justiça só com supermen. Você precisa de talentos diferentes para formar equipes mais diversas, com visões diferentes", contou o diretor.

Ele disse que costuma responder aos convites que recebe pelo LinkedIn de apresentação dos escritórios com um formulário de D&I - prática que o executivo já compartilhou no especial ANÁLISE ADVOCACIA DIVERSIDADE E INCLUSÃO 2023. "Cada vez mais, para ser nosso parceiro, precisa ter alinhamento nesse tema", disse o diretor. 

Rebello também apontou para outra questão: muitos escritórios aderem à prática do "woman washing". Nada mais é do que incluir mulheres na foto, nas demonstrações externas, mas não dar a elas poder de decisão. "O mais importante é que os escritórios façam (práticas de D&I) de forma genuína", disse a diretora da Enel.

Tecnologia

Outro ponto-chave na questão da contratação de novos parceiros é o uso de ferramentas de tecnologia. Rebello afirma que, na Enel, a empresa tem preferido migrar para escritórios que investem em tecnologia. "Tínhamos bancas que tinham o mindset, mas não tinham a ferramenta."

Morgana Corrêa, da Owens-Illinois Americas South, não vê a tecnologia como o principal fator no momento da contratação. "Não temos processos massificados, mas especializados. Defendo sempre a necessidade do advogado ponderar, fazer um balanço das operações e tratar as questões de forma estratégica", disse a diretora.

Precificação e cobrança de honorários

Nadia Xavier, diretora jurídica de recursos humanos e compliance pela Caloi, afirma que, ao avaliar a precificação proposta, "a lógica está menos no modelo e mais no mindset - que tem que ser de parceria". Como exemplo, ela citou a recente contratação de uma arbitragem, que cobra um valor fixo pelo serviço e um percentual em cima do êxito.

"Nosso contencioso, mesmo com um volume menor, trabalha com um modelo de remuneração que valoriza a velocidade da conclusão da ação de consumidor. Os honorários são mais altos dependendo da velocidade com que se chega a um acordo ou à sentença", contou Nadia.

Algo em que os executivos foram unânimes é que o modelo de cobrança por horas ou em que se pede o ressarcimento até de ligações está com os dias contados. "Não dá mais para contratar escritórios por horas sem um limite. Ou é preço fixo, ou é por ação. Pode até ser por hora, mas tem que ter limite", conta Rebello. Outro ponto que ela afirmou é que os preços precisam ter sustentabilidade: serem viáveis para a banca até o final do contrato.

Lagreca, do Mercado Livre, afirma que se vê na função de "negociar os incentivos corretos". "Colocamos no contrato um incentivo maior quando o escritório consegue mediar a situação do que na improcedência. Porque eu não quero ganhar a ação, quero que o consumidor continue sendo meu cliente", afirmou o diretor.

Marketing jurídico

Uma das estratégias de marketing jurídico mais mencionadas na mesa se volta mais para o cultivo e a captação de clientela. Workshops, palestras e cafés nos escritórios, que mostram a expertise dos profissionais e a abertura da banca para a troca de conhecimentos, são uma abordagem mais pessoal e mais bem-vista pelos executivos.

Xavier explicou com mais detalhes: "um escritório que promova eventos, que chame os clientes para se reunirem, com temas que têm a ver com aquelas organizações e onde outros líderes jurídicos têm trocas". Além de ser personalizada, a estratégia é mais pessoal e impactante, e tende a marcar positivamente os escritórios.

Da esq. para a dir: Ana Rebello (Enel), Morgana Corrêa(Owens-Illinois Americas South), Ricardo Lagreca (Mercado Livre) e Nadia Xavier (Caloi). Imagem: Análise Editorial
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