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Dione Assis fala sobre o movimento Black Sisters in Law

A conversa com a advogada debateu a igualdade racial, a oportunidade de emprego para advogados negros e a fundação do grupo Black Sisters in Law

14 de July de 2023 10h
Dione Assis fala sobre o movimento Black Sisters in law

O TV Análise, canal da Análise Editorial no YouTube, recebeu na última quinta-feira, 13, Dione Assis, fundadora do grupo Black Sisters in Law e sócia do escritório Galdino & Coelho Advogados, eleito Mais Admirado pelo anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2022.

A conversa foi mediada por Silvana Quaglio, Alexandre Secco e Aline Fraga, respectivamente diretora-presidente, sócio e conselheiro editorial e editora de conteúdo da plataforma digital. A head da Análise abriu a live destacando o crescimento da força dos grupos de apoio, como o Black Sisters in Law, e o papel que esses grupos exercem no mercado jurídico e sociedade.

Dione iniciou sua fala contando como surgiu o interesse pela área do direito: "Aos 13 anos, durante uma visita ao Tribunal de Justiça, tive a oportunidade de participar de uma sessão de júri, e o juiz fez um tour comigo antes da sessão. Foi ali que surgiu meu interesse e uma dúvida: como eu poderia me tornar uma juíza? Ele me disse que precisaria cursar a faculdade de Direito, e desde então isso ficou em minha mente. Sempre estudei com o objetivo de entrar na faculdade de Direito".

A fundadora do Black Sisters in Law destacou que o caminho até a faculdade não foi fácil. "Mas até chegar na faculdade, o caminho foi bem longo, porque eu, uma menina negra, moradora da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, não tinha perspectiva, não tinha referência familiar nem próxima de como eu poderia fazer isso. E graças a uma reportagem, conheci a Educafro, uma das maiores ONGs que busca inclusão e diversidade da população negra no mercado de trabalho. A partir daí, comecei a participar dos eventos e descobri que a Educafro havia assinado uma parceria com a FGV, e os alunos da Educafro que passassem no vestibular teriam bolsa de 100%. Essa passou a ser minha meta, e então eu consegui ingressar na faculdade".

Dione destacou que, durante o período universitário, a falta de debate sobre inclusão trouxe dificuldades para ela. "Na minha época de faculdade, como a inclusão não era uma pauta tão profunda como é hoje, enfrentei muitos desafios para concluir a graduação. No entanto, não permiti de forma alguma que esses desafios se tornassem obstáculos para o meu sucesso. Pelo contrário, eles serviram como molas propulsoras para que eu aproveitasse ao máximo aquela oportunidade, que era a oportunidade da minha vida".

A advogada abordou o surgimento do grupo Black Sisters in Law e contou que o projeto surgiu de uma maneira completamente diferente do que é hoje: "O projeto não nasce da forma como está constituído hoje. Ele nasce de uma demanda de amigas que participavam de uma rede que conecta mulheres do mundo inteiro, mulheres que atuam na área de insolvência estruturação e que anualmente realizam um Congresso Internacional no Brasil. Fui convidada para palestrar neste Congresso e me pediram para trazer outras palestrantes. Foi quando conheci duas pessoas e sugeri a criação de um grupo no WhatsApp". Ela afirma que o grupo começou a crescer organicamente e hoje conta com 1500 advogadas negras em todo o Brasil e no exterior.

Dione destacou que os escritórios ainda enfrentam dificuldades na forma como buscam profissionais negros. "Falta intencionalidade. Eu acredito que o mercado está buscando de maneira equivocada esses profissionais, focando apenas na frieza das informações de um currículo, como se isso pudesse realmente refletir quem a pessoa é e o que ela é capaz de fazer. Não busca conhecer a história dela."

A advogada ainda afirmou que os escritórios não estão abertos a mudar seus hábitos e contratar pessoas negras. "Isso decorre de uma cultura enraizada nos escritórios. Precisamos começar a quebrar esse padrão e permitir a aproximação. O Black Sisters in Law está tentando fazer isso. Os escritórios estão recebendo um público ao qual não estão acostumados, e eles precisarão se policiar e construir um ambiente que acolha essas pessoas, pois é uma experiência completamente diferente para uma advogada negra. Não é fácil para ela adentrar em um grande escritório e se estabelecer lá dentro; ela chega com medo."

Silvana ressaltou a dificuldade em tratar o tema, mas afirmou que existe progresso: "Há muito trabalho a ser feito, sabemos que temos muito a fazer, mas estamos vendo que o movimento começou. O movimento ESG, por exemplo, não surgiu do nada".

Dione encerrou sua participação na live afirmando que sempre é possível se aprimorar. "Há muito a fazer, mas eu tenho um lema: sempre dá para fazer. Nada é irremediável, desde que haja vontade e intenção genuína de transformação, compreendendo o que está sendo feito e embasando-se em um propósito correto."

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