Caminhos para a sociedade: saiba o que os escritórios esperam dos candidatos à sócios | Análise
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Caminhos para a sociedade: saiba o que os escritórios esperam dos candidatos à sócios

Habilidades de liderança, gestão, criatividade e captação de clientes são destaque dos profissionais elegíveis à sociedade

26 de June de 2024 20h

"Claro que não. A consagração do trabalho do advogado do escritório é ser convidado a ser sócio", disse Rafael Adler, sócio do Comitê de Gente do Azevedo Sette Advogados, quando perguntado se alguém já havia recusado o convite. No Brasil, o jogo da advocacia empresarial parece ter contornos bem definidos: primeiro vem o estágio; os passos seguintes são advogado júnior e pleno; e, no futuro, depois de se provar com muito trabalho, vem o convite para a sociedade.

Os líderes dos escritórios de advocacia observam alguns pontos nos novos contratados: horas faturáveis, desempenho imediato, comunicação, falta de conhecimento, maturidade profissional, habilidade de gestão e liderança, por exemplo. E quanto tempo dura essa avaliação? Durante toda a carreira.

No último levantamento da Análise Editorial para a composição do anuário ANÁLISE ADVOCACIA, foram identificados 4.241 advogados com o cargo de "associados/consultores" distribuídos entre os 314 escritórios dos 772 que forneceram informações detalhadas sobre suas equipes e estruturas.

O estudo também revelou o perfil dos associados desses escritórios: 47% possuem algum título de especialização, 9% possuem mestrado, 3% têm um LLM, 11% concluíram doutorado e 4% obtiveram um MBA. Quando a pesquisa foca nos sócios, os números mudam para 31% deles com mestrado e 11% com título de doutorado, indicando que quase 59% dos sócios alcançaram essa posição apenas com a graduação e a inscrição na OAB.

Imagem: Gráfico disponível na página 273 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2023/2024 da Análise Editorial

Esses números sugerem a possibilidade de sucesso sem uma infinidade de títulos acadêmicos, mas os advogados que trilharam esse caminho sabem — e recomendam — que habilidades de gestão, marketing e planejamento são indispensáveis.

Com atuação full service, o escritório paulistano Azevedo Sette foi eleito Mais Admirado pelo ANÁLISE ADVOCACIA 2023/2024. Dos atuais 48 sócios, cinco deles foram estagiários na banca e 23 foram promovidos de advogados para sócios. "Ou seja, menos de um terço dos sócios vieram do mercado. O Plano de Desenvolvimento Profissional funciona como um plano de carreira e inicia-se com o estagiário que contratamos com a intenção de que ele permaneça conosco no escritório", disse Adler. "Depois, estratificamos por nível de senioridade e eles passam a ser avaliados de maneira objetiva e subjetiva. Então, tenho quatro níveis de senioridade até o advogado ser elegível para a sociedade."

Em média, os associados têm 11 anos de profissão e 37 anos de idade, segundo o ANÁLISE ADVOCACIA 2023/2024, mas as maiores faixas de tempo na profissão são as menores de dez anos (48%) e de 10 a 19 anos (37%). Em termos de idade, a maioria dos escritórios é composta por associados com até 30 anos (33%) e de 31 a 40 anos (43%).

Quando o recorte é feito com os sócios dos escritórios, os números mudam: a maioria deles (46%) tem entre 41 e 50 anos e acumula duas a três décadas de experiência profissional (41%).

Imagem: Gráfico disponível na página 273 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2023/2024 da Análise Editorial

Para os associados, a falta de perspectiva é pior do que a conversa que antecipa um rompimento antes do planejado, caso a liderança não julgue o advogado apto a subir na hierarquia. "Se chegarmos ao ponto de perceber que a pessoa atingiu um limite, teremos uma conversa diferente e diremos: ‘O que você quer? Deseja permanecer no mesmo patamar?’ Se a pessoa estiver satisfeita e isso for bom para o escritório, ela pode permanecer", disse Adler. "Deixamos isso bem claro para a pessoa, para que ela tenha uma escolha."

ASSOCIADOS NA TOMADA DE DECISÕES

Desde que os escritórios se transformaram em grandes corporações, foram criados comitês executivos, de ESG, de governança, de tecnologia e outros. Segundo o ANÁLISE ADVOCACIA 2023/2024, os comitês mais adotados pelos escritórios são o Executivo (63%), Marketing (60%) e Tecnologia e Inovação (58%). A responsabilidade nas decisões é algo muito particular e varia de banca para banca. No Trigueiro Fontes Advogados, os associados têm voto igual aos demais sócios patrimoniais, desde que sejam integrantes do comitê que deliberou sobre a decisão. E nas assembleias? Apenas os sócios patrimoniais podem votar.

Mas o escritório, localizado na Rua Haddock Lobo e com 30 anos de existência, adota práticas modernas na contratação de advogados. No Prêmio Análise DNA+Fenalaw, a banca foi reconhecida na categoria Gestão com um projeto que visa reduzir o turnover do corpo jurídico e aprimorar a cultura organizacional. Foi criado um programa estruturado de estágio e um programa de mentoria, no qual eram considerados apenas candidatos que estivessem cursando o 4º ano, sem restrições quanto à faculdade ou outros critérios. Com essa abordagem, o estagiário tem pela frente os dois anos permitidos pela legislação para contrato, treinamento e experiência. Após esse período, os estagiários com bom desempenho e aprovação na OAB tornam-se advogados do escritório.

E o que o Trigueiro Fontes espera de um colaborador? Esforço, interesse por outras áreas, soluções, coragem e aprimoramento. Em suma, o escritório divide suas expectativas com os profissionais em quatro eixos: Liderança, Profissional, Gestão e Relação com Clientes. "O integrante pode seguir mais de um caminho para alcançar o auge de sua carreira profissional como sócio patrimonial", disse Campos.

"Com alta liderança, é fundamental participar da vida da sociedade, demonstrar interesse e integração, ter espírito em equipe, saber coordenar. Além disso, manter um bom relacionamento com os sócios, possuir capacidade de autocrítica", disse. Segundo ele, como profissional, é essencial esforçar-se para ampliar conhecimentos, apresentar soluções inovadoras e demonstrar coragem nas decisões. Como gestor, é importante exercer liderança, manter bons relacionamentos internos, organizar o trabalho de forma eficiente e otimizar recursos disponíveis. No relacionamento com os clientes, é crucial melhorar continuamente o atendimento, manter um alto nível de empenho, promover atividades de divulgação do escritório e estabelecer uma relação de confiança e cordialidade.

D&I ENTRE OS ASSOCIADOS

A diversidade também passou a contar - e muito - no dia a dia dos escritórios brasileiros. Quando se trata dos sócios, 69% são homens e 31% são mulheres nas bancas indicadas como as Mais Admiradas pelo ANÁLISE ADVOCACIA. Há dez anos, a proporção era semelhante. 

O destaque fica por conta dos associados: atualmente, 57% são mulheres e 43% são homens, segundo a publicação. Há uma década, as mulheres representavam 52%, enquanto os homens eram 48%. Considerando que os associados são os primeiros na fila para se tornarem sócios, é apenas uma questão de tempo até que as mulheres assumam o comando.

Além disso, a pesquisa do anuário da Análise revela um crescimento na participação de negros e pessoas com deficiência (PCDs) no universo da advocacia. Na edição atual, 53% dos escritórios declararam adotar políticas e ações de diversidade e inclusão, representando aumento de 30% em relação a 2020.

Um cenário mais diverso requer maneiras de aproveitar as qualidades que cada um pode oferecer. A diretora de RH do Trench Rossi Watanabe, Tatiane Ferreti, disse que o escritório é capaz de oferecer caminhos para todos os tipos de colaborador.

Prova de que o mercado de trabalho requer habilidades que antes eram inexistentes é uma pesquisa da FGV Direito SP, onde as competências de gestão e socioemocionais foram consideradas como mais importantes por 26% e 20% dos entrevistados, respectivamente.

As chamadas soft skills passaram a ser mais valorizadas e incentivadas pelos escritórios, inclusive em cargos de liderança. "Desde o início, os advogados são incentivados a crescer dentro da organização", disse Tatiane. "As responsabilidades são crescentes ao longo de sua trajetória profissional e vão desde a gestão de casos jurídicos, relacionamento com clientes, liderança, conhecimentos e experiência em setores industriais, desenvolvimento de negócios, até a participação ativa no crescimento e expansão do escritório".

Aspectos para otimizar a gestão interna têm a maior influência na adoção de novas tecnologias para 41% dos escritórios. Controle, privacidade, proteção de dados e serviços aos clientes vêm em seguida, com 33% e 30%, respectivamente. Isso mostra como oferecer aos advogados possibilidades de aprimoramento técnico é tão importante.

"Investimos em treinamentos especializados para que nossos profissionais não apenas dominem a expertise legal, mas também se destaquem em áreas como gestão de casos, financeira e de pessoas", concluiu.

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