Negociando com Titãs: como o advogado de negócios ganhou destaque no mercado jurídico | Análise
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Negociando com Titãs: como o advogado de negócios ganhou destaque no mercado jurídico

Por Giovani Loss, sócio do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga Advogados

15 de February de 2022 8h

Em 2019, John Oller, autor e ex-associado do tradicional escritório de advocacia Willkie Farr, de Nova Iorque, publicou seu livro chamado "White Shoe". O termo é utilizado para denominar as mais tradicionais firmas de advocacia norte-americanas, referindo-se àqueles advogados da elite, que comumente usavam sapatos brancos com terno, o que sinalizava a formação nas melhores escolas de Direito do país e a associação a uma das grandes bancas de advocacia.

Tal como no Brasil, a profissão jurídica nos Estados Unidos se iniciou centrada nas disputas judiciais. A visão genérica da atividade realizada pelo advogado estava ligada à defesa de interesses em juízo, perante um juiz e, em alguns casos, também perante um júri.

Foi por volta de 1900 que nasceu, no mercado norte-americano, um novo tipo de advogado: o de negócios (business lawyer), aquele que entende a lógica do negócio quase tanto quanto da lei e que assessora seu cliente de forma estratégica.

John Oller retrata em sua obra, de forma detalhada, como esse grupo de advogados visionários ajudou os Estados Unidos a se tornarem uma potência econômica e Wall Street a se consolidar como o centro financeiro do mundo, moldando a forma como eram feitas as negociações no século XX.

A briga entre Thomas Edison e George Westinghouse, que originou o filme The Current War, a criação do Canal do Panamá e as disputas entre JP Morgan e o governo norte-americano pela manutenção do seu império financeiro são mostrados, no livro, sob a ótica de seus advogados, sócios-fundadores ou integrantes de prestigiadas bancas do país, como Sullivan & Cromwell, Davis Polk e Cravath.

Tais advogados deixaram seus legados para a sociedade e, particularmente, para os advogados de negócios em todo mundo. Seus escritórios são instituições que fazem parte da cultura norte-americana, frequentemente citadas ou retratadas em séries e filmes, tais como Billion Dollar Code e The Insider.

Gigantes brasileiros

No Brasil, a era dos advogados de negócios começou bem mais recente, na década de 1990. Assessorando em grandes privatizações, vários escritórios, que hoje são a elite do meio jurídico brasileiro, cresceram e se organizaram como empresas, utilizando princípios inspirados também no modelo norte-americano tradicional, o Cravath System.

Moldando a forma como os grandes negócios são feitos no país, incluindo as operações de M&A, o desenvolvimento do mercado de capitais e de várias novas estruturas de financiamento, a advocacia moderna brasileira segue em crescimento. E tem uma vantagem: ter alguns de seus "Titãs" — que fundaram suas instituições — na ativa e outros que se aposentaram recentemente, ou infelizmente faleceram, inspirando os sucessores com quem conviveram.

Norte-americanos e ingleses líderes na advocacia internacional são tradicionalmente melhores em recordar sua história. Por isso, privilegiados são aqueles advogados brasileiros que souberem reconhecer o momento que estamos vivendo, de consolidação da nossa advocacia corporativa, quando vários dos nossos gigantes advogados ainda estão presentes, influenciando a forma como fazemos a advocacia de negócios.

Da mesma forma, sinto-me honrado por ter trabalhado no escritório norte-americano que possuía Leon Jaworski, procurador-chefe do Caso Watergate, dentre um dos seus expoentes; sinto-me privilegiado por ter integrado o escritório do Dr. Pinheiro, como respeitosamente era chamado José Martins Pinheiro Neto, nos tempos em que comparecia ao escritório de forma esporádica.

Todas as interações que tive com o Dr. Ary, fundador do Mattos Filho e o primeiro diretor da Escola de Direito da FGV/SP, e com Roberto Quiroga, que me inspirou em muitos aspectos profissionais, estão registradas de forma permanente na minha memória.

Assim como negociações e conversas ao longo dos anos com Paulo Aragão e com o amigo Chico Müssnich, do BMA, com Dr. Meyer, do Machado Meyer, e discursos emocionados que presenciei de Ronaldo Veirano, do Veirano Advogados, e de Syllas Tozzini, do TozziniFreire.

Todos acima, além de outros que por limitação de espaço não pude citar, integrantes da primeira geração de Titãs da nossa advocacia, a qual instrumentalizou a profissão e o mundo de negócios brasileiro e nos permitiu, ano após anos, como classe, chegar à liderança nos mais diversos rankings de advocacia da América Latina.

Como bons Titãs jurídicos e por experiência própria, posso dizer que são negociadores duros, muitas vezes com personalidade forte, mas criadores e formadores generosos, que devem ser aplaudidos e emulados.

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