No primeiro dia de palestras da Fenalaw 2022, Alexandre Zavaglia Coelho, professor, advogado e conselheiro da feira, apresentou a mesa "Tendências e Tecnologias para o Setor Jurídico". Fazendo retrospectiva dos últimos dez anos da relação do setor com a tecnologia de dados, Zavaglia apresentou sua visão sobre as soluções que a Inteligência Artificial trará para a área.
Com foco na tecnologia aplicada à diversos segmentos do Direito, o palestrante ressaltou a empolgação de estar no evento após dois anos de encontros virtuais, e descreveu as diferentes formas que as plataformas digitais auxiliariam nas demandas de escritórios e advogados. Zavaglia também ressaltou que, este ano, ele completa uma década de estudo e investimento nas várias áreas que a tecnologia pode auxiliar.
Lembrando o primeiro evento que participou para falar de tecnologia no direito em 2011, Zavaglia mostrou o reflexo das ferramentas tecnológicas no próprio Direito como crime cibernético, herança digital, fintechs e novos modelos de negócios englobados no Direito Digital, tal como áreas já muito amplas que se adequaram às mudanças da tecnologia, como home office em Direito Trabalhista. O segundo aspecto que Alexandre destacou foi a tecnologia aplicada ao negócio do Direito.
Zavaglia disse que a Inteligência Artificial e robôs, antes só vistos em filmes, agora são realidade, inclusive no Direito, e citou Renato Mandaliti, o criador do primeiro robô de leitura de documentos, que há cincos anos havia previsto, junto com Zavaglia, a tendência de mecanismos de estratégia de dados jurídicos, jurimetria, LGPD e uso de informações digitais.
Tentando levar a ciência de dados aos escritórios, o profissional apresentou o primeiro curso do Brasil de ciências de dados ligados ao Direito, e acompanhou o amadurecimento e aceitação do mercado com as ferramentas de automação.
Zavaglia afirma que é possível adequar mecanismos para responder as demandas de cada cliente com um painel gerencial. Através dos algoritmos, o sistema de automação jurídica pode ajudar em uma tomada de decisão importante, como escolher o perfil de sentença de juízes e analisar a decisão por categoria de processo. "Muito mais que o número e dizer que eu vou ganhar ou perder, o que a gente está construindo de verdade e faz sentido é o painel gerencial de todas as informações", explica o especialista.
No caso, acompanhando as inovações da Inglaterra e dos Estados Unidos, Zavaglia afirma que o Legal Design também se mostra essencial nos processos - não só a parte visual, mas a maneira de organização apresentado na tela.
Os pilares da tecnologia
Dividindo em três pilares de atuação, o professor afirma que as possibilidades tecnológicas permitem demandas sociais e oportunidades nos modelos de negócio, sendo eles:
- Os novos impactos do direito material e como os profissionais se preparam é o primeiro pilar de Zavaglia;
- O segundo pilar é efetivamente a tecnologia aplicada, tipos de ferramentas de jurimetria, de contrato ou gestão;
- O terceiro pilar é a formação de capacidade e competência dos profissionais que vão utilizar as novas ferramentas. "O nosso grande desafio aqui é como nós vamos formar as pessoas pra essas novas funções que estão começando a existir e que na verdade elas não conseguem contratar ainda porque elas nãos estão preparadas ainda", explica o especialista.
Mesmo exaltando os resultados promissores das ferramentas tecnológicas, Alexandre pondera e diz que as inovações possibilitadas por esses mecanismos deve ser o fim do ciclo de conhecimento do escritório. Isso porque, segundo ele, muitos clientes escolhem um software altamente sofisticado para resolver problemas à nível de Excel, e isso mais atrapalha o processo de amadurecimento tecnológico do setor por não ser totalmente comprometido pelo cliente.
Carlos Machado, da Docwise, e Gustavo Cattelan Nobre, diretor de tecnologia e inovação no Bichara Advogados, foram convidados de Zavaglia e apresentaram suas experiências.
Já Carlos Machado disse como a tecnologia de armazenamento de dados na nuvem podem auxiliar nos escritórios. Para ele, "informação é uma mistura de tecnologia com cultura, com procedimentos e tudo isso tem que ser trabalhado em conjunto pra dar certo".
Inovação digital a passos lentos
Para à matéria da Análise Editorial, Alisson de Castro, CEO e especialista em gestão do conhecimento e inovação da Modalnetworks, disse que seu grande desafio profissional é levar a ferramenta tecnológica ser aceita culturalmente por pequenos e grandes escritórios.
Por fim, o profissional declarou que a inserção digital é gradual em todos os ambientes profissionais. "O ser humano é analógico, ele não é digital, então a transformação digital acontece até um ponto. Eu não vou transformar sua cabeça, então você precisa entender que isso é uma ferramenta como o celular ou o Zoom. Só que a área jurídica é uma área tradicional, conservadora. Quando a gente chega na aula de Direito, no primeiro dia, no primeiro ano: materialidade. Então você foi formatado pra pensar na materialidade e você vem pro mundo digital que é imaterial. As faculdades estão pensando nisso? Não", conclui o especialista.