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Executivos comentam como a IA fortalece o compliance

Representantes do BTG Pactual, BRF e São Paulo Futebol Clube abordam os benefícios e desafios da tecnologia para a govenança das empresas

1 de October 12h45
(Imagem: Análise Editorial/Getty Images/iStockphoto)

A Inteligência Artificial (IA) tem impulsionado diversas mudanças nas empresas, o que se estende às políticas de compliance. A crescente adoção da tecnologia por companhias brasileiras alavanca esse movimento, pois elas buscam otimizar processos internos e externos.

O estudo "Desbloqueando o potencial da IA no Brasil", encomendado pela Amazon Web Services (AWS) à Strand Partners, revela que 40% das empresas brasileiras já utilizam IA. Desse total, 62% estão no estágio inicial de implementação, 26% no intermediário e apenas 12% no transformador, onde a tecnologia é empregada em propósitos mais avançados.

Focado nesse tema, a Future Law Experience 2025 promoveu um painel sobre os dilemas do compliance na era da IA. Para o debate, a organização convidou representantes do BTG Pactual, BRF e São Paulo Futebol Clube - três organizações distintas, mas com visões complementares sobre o assunto.

Aplicações e usos da IA

Conforme outra pesquisa, "Consumo e uso de Inteligência Artificial no Brasil" (Observatório Itaú/Datafolha, 2025), 70% dos brasileiros utilizam a ferramenta para apoio no trabalho, diversão ou estudos. Reynaldo Goto, CCO da BRF, afirma que a IA pode ser "muito benéfica" para uma série de processos internos, detalhando como a tecnologia tem sido aplicada.

Goto aponta que uma das aplicações é na roteirização e sugestão assertiva de vendas, área de "muito valor agregado". No entanto, o executivo alerta que isso abre espaço para fraudes. Assim como a IA facilita a comercialização de produtos, ela também auxilia no monitoramento desses processos.

"A utilização de IA para fazer esses mapeamentos e uma sugestão de venda apropriada tem muito valor. O monitoramento, para identificar fraudes na elaboração desses pedidos, tem trazido bastante resultado. Podemos observar não só a produtividade, mas também se existe algum tipo de fraude no processo de roteirização por parte dos vendedores", destaca Goto.

Outra funcionalidade, mencionada por Reynaldo, é o uso da tecnologia para a due diligence. Na visão do executivo, a IA permite captar informações precisas para identificar se um parceiro de negócios - com o qual a companhia planeja fechar um novo contrato - possui dados desabonadores que possam ser prejudiciais à negociação.

Além desses usos, Goto salienta que a IA pode auxiliar na calibragem da linguagem para treinamentos e processos de comunicação. Adicionalmente, a área de compliance migrou seu chatbot - que respondia a mais de 22 perguntas - para um sistema de IA generativa que, segundo o executivo, entrega respostas muito mais elaboradas.

No entanto, ele ressalta que esse uso traz desafios de adaptação para os funcionários. O tempo necessário para calibrar a IA até que forneça respostas adequadas pode gerar irritação em quem não está familiarizado. Portanto, o treinamento é crucial, pois incentiva os colaboradores a usar a tecnologia adequadamente.

Letramento e uso consciente da inteligência artificial

Outros dados do estudo "Consumo e uso de Inteligência Artificial no Brasil" (Observatório Itaú/Datafolha, 2025) indicam que, embora 93% dos brasileiros usem IA no dia a dia, 46% da população ainda não compreende o significado do termo e 18% sequer ouviu falar da ferramenta.

Para Roberto Armelin, diretor de compliance do São Paulo Futebol Clube, o treinamento dos colaboradores é fundamental para o uso consciente da IA em qualquer organização.

Armelin revela que o clube está focado no letramento dos colaboradores, para que eles compreendam o uso e os limites da ferramenta. A meta é evitar o risco de vazamento de dados. O executivo afirma que o projeto de tecnologia e uso de IA da instituição ainda está em fase inicial, mas já apresenta resultados positivos.

"Ainda usamos muito pouco, mas já temos alguma aplicabilidade com o programa de compliance. Ele está facilitando o processo, ainda recente, de mudar a cultura interna para que o Programa de Integridade Tricolor (PIT), como chamamos no São Paulo, faça parte da cultura interna e do dia a dia dos nossos colaboradores", afirma Armelin.

IA na criação de políticas internas

Por meio da inteligência artificial, é possível agilizar decisões internas, como a criação de políticas de compliance mais assertivas e com linguagem universal. Natalia Maira, compliance associate director do BTG Pactual, concorda com essa funcionalidade, mas pondera sobre a importância de revisão e repasse a especialistas, para evitar erros que possam ser prejudiciais no futuro.

Maira destaca que a velocidade é um ganho importante da IA, mas ressalta a importância da proteção de dados para evitar vazamentos. "Todas as indústrias necessitam de ações que sejam rápidas e também seguras, para não ficarmos expostos novamente a riscos desnecessários", pontua.

Portanto, o cenário de compliance brasileiro para as empresas têm muito à ganhar com o uso de ferramentas de inteligência artificial. O monitoramento de fraudes, ajustes de comunicação, ou até mesmo criação de políticas internas, são apenas alguns dos exemplos dos benefícios que o uso da IA pode trazer para as empresas. Dessa forma, não é necessário comprometer dados sensíveis, e muito menos a reputação da organização.

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