Autismo no Direito: 5 dicas para tornar seu escritório mais inclusivo | Análise
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Autismo no Direito: 5 dicas para tornar seu escritório mais inclusivo

Com pequenos ajustes e mais escuta, é possível ampliar a diversidade e o desempenho do seu time jurídico

16 de April 16h02

A diversidade e a inclusão têm se consolidado como temas centrais no debate jurídico contemporâneo. Dentro desse escopo, o autismo vem ganhando visibilidade e exigindo ações concretas dos escritórios de advocacia. O desafio, a princípio, é ir além da contratação simbólica, criando ambientes efetivamente acolhedores, que respeitem as particularidades e potencializem as habilidades de cada profissional.

Em um setor historicamente marcado por rigidez hierárquica e exigências interpessoais intensas, adaptar-se a novas formas de trabalho e relacionamento não é apenas uma demanda ética, mas também estratégica. Escritórios que investem na inclusão de pessoas autistas relatam ganhos em inovação, engajamento e retenção de talentos.

A seguir, apresentamos cinco diretrizes práticas para tornar seu escritório mais inclusivo para profissionais autistas, com base nas experiências de quem já trilha esse caminho: a advogada autista Jaíne Hellen Machnicki, sócia-fundadora da Machnicki Advocacia, e Helena Rabethge, gerente de Responsabilidade Social do Machado Meyer Advogados.

1. Revise seu processo seletivo com atenção à neurodiversidade

A porta de entrada precisa ser acessível. Processos seletivos tradicionais, que privilegiam dinâmicas de grupo, improviso e habilidades sociais específicas, podem excluir talentos neurodivergentes — não por falta de competência técnica, mas por inadequação do formato.

Jaíne Machnicki destaca a importância de "informações claras e detalhadas sobre o processo seletivo, como será conduzida a entrevista e o que se espera do candidato". Para ela, o essencial é focar nas habilidades reais, e não nas dificuldades comunicacionais ou sensoriais que possam surgir.

No Machado Meyer, Helena Rabethge reforça que a inclusão sem dúvida começa com planejamento. "É necessário preparar a estrutura empresarial para acolher e desenvolver esses profissionais", diz. Contar com consultorias especializadas durante as etapas de recrutamento e integração é uma das boas práticas adotadas pelo escritório.

2. Adapte o ambiente físico e sensorial do escritório

A rotina de um escritório de advocacia é, em geral, marcada por estímulos intensos: ligações constantes, reuniões improvisadas, salas cheias. Para muitas pessoas com autismo, esses fatores podem comprometer o desempenho e o bem-estar.

Por isso, oferecer ambientes silenciosos, com iluminação adequada e áreas de trabalho mais privativas, é um passo crucial. "A criação de espaços que respeitem o ritmo e o estilo de trabalho das pessoas autistas faz toda a diferença", afirma Jaíne.

Helena complementa: "É importante garantir que o espaço físico seja acessível e que existam ambientes com menos estímulos sensoriais. A sinalização clara também contribui para a autonomia". Essas mudanças, além de beneficiarem profissionais neurodivergentes, certamente tornam o ambiente melhor para todos.

3. Invista na formação de líderes empáticos e preparados

Gestores e sócios de escritórios ocupam um papel-chave na construção de uma cultura inclusiva. No entanto, boa vontade não é suficiente: é preciso conhecimento. "Líderes precisam adotar uma comunicação mais direta e clara, criar um ambiente de respeito e aceitação, e se manter abertos à escuta ativa", aponta Jaíne.

Treinamentos especializados, rodas de conversa e inserção do tema nas pautas corporativas são algumas das iniciativas que o Machado Meyer implementou. "Essa preparação ajuda os gestores, sobretudo, a acompanhar os colaboradores com ética e empatia, criando uma cultura organizacional mais forte", diz Helena.

4. Combata o capacitismo dentro e fora do escritório

Capacitismo — a discriminação baseada em habilidades ou deficiências — ainda é um desafio presente no mundo jurídico. "Muitas vezes, as pessoas autistas são vistas apenas por suas limitações, sem espaço para demonstrar suas capacidades", relata Jaíne.

Por isso, a mudança de mentalidade começa com conscientização. Campanhas internas, materiais educativos e grupos de afinidade são formas de engajar o time e transformar o ambiente. A presença de pessoas autistas em posições de destaque também ajuda a quebrar estigmas e ampliar as referências.

5. Valorize as habilidades únicas dos profissionais com autismo

Pessoas autistas podem trazer contribuições significativas para o Direito — sobretudo em áreas que exigem precisão, análise técnica e atenção minuciosa. "A capacidade analítica, o foco intenso em tarefas e a organização sistemática sem dúvida são grandes diferenciais", afirma Jaíne.

Ao reconhecer essas qualidades, o escritório não apenas acolhe melhor seus profissionais, mas também melhora sua própria performance. Como conclui Helena, "ambientes inclusivos tendem a melhorar a retenção de talentos, aumentar a satisfação e promover a inovação".

Autismo no Direito: o próximo passo

A inclusão de pessoas autistas no meio jurídico está apenas começando. Mas o movimento é irreversível — e necessário. Escritórios que liderarem esse processo certamente estarão na vanguarda de um Direito mais humano, diverso e eficiente.

Como ressalta Jaíne, "a jornada para uma verdadeira inclusão é contínua. Cada passo traz mais representatividade e nos aproxima de um futuro mais justo para todos".

Ademais, para os sócios e líderes de escritórios de advocacia, o recado é claro: adaptar-se à neurodiversidade não é um favor, é um compromisso com o presente e o futuro da profissão.

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