Programa ID.Afro | Análise
Análise

Programa ID.Afro

Responsável pelo projeto: Helena Rabethge, gerente de responsabilidade social corporativa do Machado Meyer Advogados

24 de October de 2024 15h

DESAFIO

Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE, divulgada em 2022, as pessoas pretas e pardas representam apenas 33% da advocacia brasileira, apesar de serem mais de 55% da população do país. Este número se reduz ainda mais quando se analisa a presença de pessoas advogadas pretas e pardas em grandes escritórios, vez que representam apenas 11% deste grupo, segundo uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) com a Aliança Jurídica pela Equidade Racial.

Diante deste cenário, o Machado Meyer, dentro de seu Comitê de Diversidade e Inclusão criado em 2011, se dedica à frente de equidade étnico-racial dentro e fora do escritório, a partir do programa denominado ID.Afro.

Assim, o ID.Afro conta com um grupo de afinidade com o objetivo de promover a equidade étnico-racial por meio de debates e iniciativas voltadas à diversidade e inclusão de pessoas pretas e pardas, como processos específicos de recrutamento e seleção, programas de mentoria e oferecimento de bolsas, atuando como ferramentas para combater o racismo.

Uma das principais iniciativas da frente é o programa Mentoria ID.Afro, cujo objetivo é contribuir para a equiparação de oportunidades e ampliação da população negra no mercado de trabalho, desde a entrada até a permanência no Machado Meyer. Assim, a iniciativa foi desenvolvida com foco no desenvolvimento de carreira e na retenção de jovens talentos negros no escritório, a partir da orientação das pessoas mentoradas em encontros mensais com sua pessoa mentora.

SOLUÇÃO

O programa de Mentoria ID.Afro do Machado Meyer é um programa de mentoria que busca aprimorar as competências e fortalecer habilidades de estudantes autodeclarados pretos ou pardos que trabalham no escritório para o seu crescimento pessoal e profissional.

Com duração de 9 (nove) meses, a mentoria é focada em estudantes pretos ou pardos advindos do programa Incluir Direito ou de processos seletivos tradicionais. O Incluir Direito é um projeto do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA) dedicado à geração de oportunidades para jovens negros estudantes de cursos de Direito, promovendo o aprendizado, fortalecendo a autoestima e o senso de pertencimento, criando conexões e estimulando a troca de conhecimento entre as pessoas participantes.

Neste sentido, o projeto tem como objetivos específicos: (i) promover a interação dos jovens negros entre si; (ii) promover a interação entre o jovem, individualmente, e um profissional com mais tempo de carreira; (iii) buscar o aprimoramento profissional; e (iv) despertar o seu protagonismo no mercado de trabalho.

Como atividade prévia ao início do programa, todas as pessoas mentoras voluntárias passam por um treinamento sobre os temas de sensibilização e letramento racial, sobre a estrutura do programa de mentoria e sobre as boas práticas e estrutura sugerida para os encontros individuais.

A estrutura mensal do programa é dividida entre (i) um encontro coletivo mensal com foco em conteúdo; (ii) um encontro individual (pessoa mentora e pessoa mentorada); (iii) um encontro coletivo de pessoas mentoras; e (iv) um encontro coletivo entre pessoas mentoradas e o time de Pessoas e Cultura.

São trabalhados temas presentes no dia a dia dos estagiários e trainees do Machado Meyer Advogados, mas que, por conta de questões de desigualdades e discriminações históricas, não são comumente desenvolvidas durante o período de formação acadêmica: pontualidade e comprometimento, networking e LinkedIn, visão sistêmica e comunicação assertiva, conciliação de vida pessoal e profissional e aprendizagem contínua.

Como ações complementares sugeridas às pessoas mentoradas, é oferecido a Academia Machado Meyer, com os portais de aprendizagem LIT e Witseed, que contam com diversos cursos sobre variados temas; o grupo de afinidade voltado à equidade étnico-racial ID.Afro, que discute temas, projetos e ações dentro do escritório sobre o tema; e a Bolsa de Idiomas ID.Afro, que apoia integralmente os custos de cursos de inglês e português para estudantes autodeclarados pretos ou pardos.

De acordo com a pesquisa "Demands for Learning English in Brazil", conduzida pelo Data Popular Research Institute for the British Council em 2014, apenas 5,1% da população com 16 anos ou mais afirmou ter algum conhecimento do idioma, sendo 9,9% da classe alta e 3,3% da classe média. Entre os motivos apresentados para não estudar inglês, 65% das pessoas entrevistadas afirmaram que os preços dos cursos são altos, 34% mencionaram não ter dinheiro suficiente e 12% expressaram interesse em iniciar as aulas depois de encontrar empregos melhores. No mercado de trabalho, o inglês é considerado o idioma dominante nos negócios internacionais por 91% dos executivos, de acordo com dados da pesquisa Business English/Index Global English (2013).

Considerando isso, o escritório oferece a Bolsa de Idiomas ID.Afro a estagiários e trainees jurídicos, para que possam fazer cursos ou aulas particulares para aprender ou aprimorar o inglês e/ou o português em uma escola de sua escolha ou em um professor particular indicado pelo escritório. Os beneficiários são estudantes autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (i) participantes do projeto Incluir Direito, promovido pelo CESA ou (ii) que ingressaram na faculdade ou universidade em vaga reservada a estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas, nos termos da Lei de Cotas do Brasil, ou (iii) por meio de bolsa de estudos destinada a estudantes autodeclarados negros.

RESULTADO

O projeto Mentoria ID.Afro, que está em sua terceira edição, foi concebido como uma contribuição para equalizar as oportunidades e ampliar a participação da população negra no mercado de trabalho, permitindo-lhes, além do ingresso, a possibilidade de evolução de carreira no escritório.

No último ciclo, 85% dos alunos que passaram pelo programa foram contratados em diversas áreas do escritório, tanto na área jurídica quanto na administrativa. Além disso, o escritório criou uma rede de apoio e mentoria entre os estudantes que se formaram no programa em anos anteriores, que somam mais de 20 pessoas.

Mais ainda, foi possível observar uma crescente no empoderamento e na autoconfiança dos beneficiários impactados pelo programa em seu dia a dia, nas atividades desempenhadas e na interação com pares e pessoas gestoras. Também foi possível verificar uma melhor integração entre a pessoa mentorada e o ambiente que ele está envolvido, tendo em vista a relação de troca e aprendizado com a pessoa mentora.

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