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Veja o retrato da diversidade racial na advocacia brasileira

Com 557 participantes, nova pesquisa analisa como está a representatividade de advogados negros, pretos e pardos em bancas de todo o país, dos quadros iniciais às posições de liderança

14 de August 12h

A presença de advogados negros, pretos e pardos nos escritórios de advocacia do Brasil ainda está distante de refletir a pluralidade da sociedade brasileira. Embora avanços tenham sido registrados nos últimos anos, o Censo Étnico-Racial, realizado no especial ANÁLISE ADVOCACIA DIVERSIDADE E INCLUSÃO 2025, evidencia que os desafios para uma inclusão plena permanecem, especialmente nas posições de liderança.

A pesquisa, que ouviu 557 escritórios de advocacia, revela não apenas números, mas tendências e lacunas: desde a ausência total de representatividade em parte das bancas até casos em que a diversidade é tratada como prioridade estratégica. A pesquisa mostra que, para mudar esse cenário, é preciso ir além do discurso e transformar políticas de contratação e promoção em ações mensuráveis.

Presença de advogados negros nos escritórios

Ao analisar a presença de advogados negros, pretos e pardos em geral nos escritórios, incluindo sócios e não sócios, percebe-se um cenário ligeiramente mais equilibrado que na composição societária, mas os desafios permanecem. A pesquisa de 2025 aponta que, dos 557 escritórios participantes, a distribuição de advogados negros é a seguinte:

Dessa forma, podemos dizer que um em cada dez escritórios não conta com nenhum profissional negro em seu time. Por outro lado, 11% das bancas têm um advogado negro — um passo inicial, mas de alcance limitado.

A maior concentração está entre os escritórios com 2 a 5 advogados negros, representando 184 bancas — um aumento de 18% em relação ao levantamento anterior. Já aqueles com 6 a 10 profissionais somam apenas 9%, e com 11 a 20, são 28 escritórios. Apenas 10% sinalizam estágios mais avançados de inclusão, contando com mais de 20 advogados negros na equipe.

Sócios negros: o desafio da liderança

A representatividade racial diminui significativamente nas posições de liderança. Entre os 557 escritórios participantes, três em cada dez não possuem nenhum sócio negro, preto ou pardo. Em 16% dos escritórios há apenas um sócio negro — um indicativo de que a presença é ainda incipiente.

Os escritórios com 2 a 5 sócios negros totalizam 100, enquanto apenas 11 escritórios têm de seis a dez sócios negros. Casos com mais de dez sócios negros são raríssimos: 1% têm entre 11 e 20, e apenas 11 escritórios da pesquisa contam com mais de 20 sócios negros.

Políticas de contratação: da neutralidade às ações afirmativas

A forma como os escritórios contratam influencia diretamente o nível de diversidade. A maioria (62%) ainda considera exclusivamente habilidades técnicas e adequação cultural, sem critérios específicos para inclusão racial.

Em contrapartida, 95 escritórios dão preferência a profissionais negros, embora sem exclusividade nas vagas. Outros 72 escritórios afirmam estar desenvolvendo políticas de contratação específicas para negros. Apenas 2% realizam seleções exclusivas para advogados negros e 1% dos escritório reserva quantidade específica de vagas para esse público.

Esses dados evidenciam a necessidade de um maior engajamento dos escritórios na implementação de políticas de contratação mais inclusivas e afirmativas, que vão além da simples consideração de habilidades técnicas e busquem ativamente a diversidade racial em seus quadros.

Diversidade na prática

A perspectiva dos escritórios de advocacia é fundamental para compreender as nuances da diversidade racial no setor e as dificuldades da aplicação prática. Bianca Dias, sócia do Serur Advogados, compartilha a experiência de seu escritório, que se destaca pelo compromisso com a promoção da diversidade e inclusão.

O Serur Advogados demonstra seu compromisso com a diversidade com números: 47% dos colaboradores são negros e pardos. Esse resultado é impulsionado pelo projeto "Busca Ativa", que visa identificar e atrair estudantes negros para o escritório, oferecendo-lhes oportunidades de carreira. Apesar dos avanços, a sócia Bianca Dias reconhece a necessidade de melhorias, especialmente no quadro societário, e destaca o papel do Comitê +Diversidade na formulação de estratégias para a inclusão racial.

Bianca reconhece que um dos principais desafios identificados para a inclusão de advogados negros em posições de liderança é a desigualdade no acesso à educação de qualidade. Para combater essa barreira, o escritório investe na "Escola Serur", um programa interno que oferece capacitação e desenvolvimento contínuo. Essa iniciativa prepara os profissionais para assumirem maiores responsabilidades e alcançarem cargos de liderança dentro da organização.

Em relação às políticas de contratação, o Serur combina critérios técnicos com ações afirmativas estruturadas. O projeto de Busca Ativa, por exemplo, promove visitas a universidades para identificar e atrair estudantes negros com potencial, que são acompanhados e desenvolvidos internamente.

"Essa iniciativa fortalece nosso compromisso em ampliar a diversidade e criar oportunidades reais de crescimento no mercado jurídico", afirma Dias.

Além das políticas de contratação, o escritório se dedica a construir um ambiente de trabalho equitativo e acolhedor. Isso inclui treinamentos sobre vieses inconscientes, eventos internos que celebram a diversidade racial, e a atuação do Comitê de Diversidade e Inclusão. Políticas rigorosas contra discriminação, canais de denúncia seguros e o monitoramento constante do clima organizacional são pilares que garantem um espaço justo para todos. 

Caminho para o futuro

Nosso Censo Étnico-Racial de 2025 oferece um retrato multifacetado da diversidade racial na advocacia brasileira. Embora os dados revelem que ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a equidade, especialmente em posições de liderança, as iniciativas de escritórios como o Serur Advogados demonstram que a mudança é possível e necessária.

A coleta e análise de dados, a implementação de políticas de contratação mais inclusivas e o investimento em programas de desenvolvimento e capacitação são passos cruciais para a construção de um ambiente jurídico mais justo e representativo. A transparência e o compromisso contínuo com a diversidade e inclusão são essenciais para que o setor jurídico brasileiro possa refletir, de fato, a pluralidade da sociedade que serve.

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