O papel dos líderes realmente comprometidos com a diversidade e a inclusão racial | Análise
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O papel dos líderes realmente comprometidos com a diversidade e a inclusão racial

Por Robson de Oliveira, advogado do Demarest Advogados

10 de September de 2020 8h

Diversidade e inclusão são temas que vêm sendo mantidos em pauta, tanto na esfera pública quanto na esfera privada. Passados quase 32 anos da proclamação da Constituição Federal de 1988, considerando os direitos e garantias trazidos a todas as pessoas, ainda que com a edição de estatutos, como o da inclusão e o da igualdade racial, que acabam de completar 10 anos, percebe-se que ainda existe uma longa caminhada a ser trilhada pelos grandes líderes a fim de satisfazer os preceitos constitucionais a assegurar igualdade material e vida digna a todas as pessoas.

Nesse sentido, o mercado de trabalho possui papel fundamental na promoção da igualdade, que não pode ser atingida sem que se pensem as organizações, empresas e todos os demais espaços com diversidade e inclusão, sendo o papel dos líderes das companhias e escritórios de advocacia de extrema relevância para a construção de políticas genuínas.

Um líder efetivamente comprometido, e que pretenda transformações, deve primeiro mudar sua vida a partir das ideias transformadoras que pretende implementar, agindo sempre como um exemplo para aqueles que estão vinculados a sua liderança. Por isto, necessita converter esse seu compromisso em ações. Assim, deve ter conhecimento acerca da legislação sobre a matéria. Embora não faça parte dos currículos da maioria dos cursos, principalmente o de Direito, é indispensável que empresas e escritórios tenham profunda intimidade com a temática do direito antidiscriminatório, adequando suas condutas à legislação existente, principalmente àqueles acordos e convenções internacionais dos quais o Brasil é parte, criando protocolos de ação com o objetivo de evitar discriminações e preconceitos na prestação de serviços e nas relações interpessoais.

No que diz respeito à questão da raça, atenção diferenciada deve ser dada, na medida em que é preciso que se reconheça o Brasil como um país racista, que o racismo é estrutural, portanto foge do plano individual e da intencionalidade, razão pela qual os comportamentos de seus colaboradores podem-se dar por vieses inconscientes, consequência do comportamento natural da sociedade com relação às pessoas negras.

Do mesmo modo, o compromisso com diversidade e inclusão exige o reconhecimento de que o racismo e toda e qualquer forma de discriminação são ruins para os negócios e para o desempenho de suas equipes, tendo em vista que abalam sua imagem pública e dividem os trabalhadores afetando a produtividade.

Neste sentido, o cuidado especial que se deve ter não apenas realizando admissões com esses parâmetros, mas também acolhendo, capacitando todos os membros da equipe e promovendo ações para reter os profissionais, oferecendo-lhes oportunidades para crescer na carreira dentro dos escritórios (ver artigo de minha autoria intitulado "Os Desafios da Inclusão Racial no Mercado de Trabalho").

Dessa forma, faz-se necessária uma reformulação das políticas de recrutamento e seleção na contratação de profissionais negras e negros em todos os postos, para que a inclusão seja efetuada de forma genuína. Nessa linha, é de suma importância desenvolver programas que eduquem os colaboradores para que efetivamente pratiquem a inclusão, percebendo a todos como indivíduos e não como categorias de grupos que são toleradas no ambiente de trabalho.

Também, escolher líderes inclusivos dispostos a desenvolver práticas antirracistas, multiplicar condutas antidiscriminatórias e gerar segurança aos profissionais, outorgando-lhes o pertencimento ao grupo e consequentemente ao escritório.

Não obstante, uma política genuína exige contratar apenas com empresas inclusivas e criativas, que percebam e compreendam o mundo pela perspectiva da diversidade.

A autoavaliação de condutas, recusando a negação aos problemas existentes é crucial para transformar o compromisso com a diversidade e inclusão em um dos pilares de empresas e escritórios, pois é possível perceber quais são os pontos sensíveis e a partir daí formular e reformular políticas, práticas e protocolos de atuação que contribuam para uma evolução nesse processo de atuação plural, diversa e antirracista.

Indispensável, também, que as companhias e bancas de advocacia criem espaços para que as pessoas falem abertamente e de forma segura sobre preconceito, discriminação e racismo. É preciso ouvir como elas se sentem tanto como colaboradoras ou usuárias do espaço pela perspectiva da inclusão e diversidade, servindo a escuta como importante ferramenta para compreender onde estão as falhas, a fim de corrigi-las. Para isso também é necessário criar canais de denúncia, realizar pesquisas e apresentar uma política explícita antidiscriminatória, sem o receio de fazer esse enfrentamento.

Dar imagem inclusiva, diversa e antirracista para as empresas e escritórios é fundamental para colaborar para a inclusão e diversidade na sociedade como um todo e por isto o líder deve ajustar com seus canais de comunicação e publicidade a explicitação de quanto seu espaço transforma-se nessa direção. Como costumo dizer, é importante que as empresas, escritórios e marcas compreendam que a ausência de diversidade e inclusão é ruim para os negócios.

Diversidade e inclusão geram riqueza promovendo uma sociedade mais justa e um verdadeiro líder sabe disso fazendo dessas premissas suas práticas.

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