No início de 2016, o World Economic Forum (WEF), emitiu o relatório The Future of Jobs: Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution, indicando as dez habilidades do profissional do futuro: resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, coordenação com os outros, inteligência emocional, julgamento e tomada de decisões, orientação de serviço, negociação e flexibilidade cognitiva.
Para tanto entrevistou gestores e especialistas em recursos humanos das principais empresas mundiais, projetando a necessidade da adequação dos profissionais até 2020.
Nesse cerne, findando o ano de 2019, o mundo jurídico adequou e estimulou as habilidades do seu profissional do futuro?
Numa primeira análise é inegável a evolução tecnológica impingida pelos escritórios de advocacia a procura de sistemas cada vez mais eficientes, bem como a utilização de inteligência artificial para inúmeras funções outrora realizadas por diversos profissionais.
Todavia, no meio dessa busca incansável - e necessária - pela maior eficiência com o menor custo, as habilidades do profissional do futuro, ainda não evoluíram na mesma proporção.
Ao olharmos para departamentos jurídicos e bancas de advocacia, temos que, no que pese toda revolução tecnológica, as funções e, por consequência, a organização dos profissionais do direito, na sua grande maioria, prosseguem de forma muito conservadora, subdivididos pelas áreas de atuação - exemplo trabalhista e cível - ou especializações - recuperação de crédito e consumerista -, mas não necessariamente pela habilidade intrínseca ou desenvolvida pelos profissionais.
O alerta da WEF anos atrás sobre referidas habilidades do profissional do futuro, sinalizou para um caminho sem volta para o labor mundial, inclusive, o mundo jurídico.
O desafio a ser superado pela área jurídica, muitas vezes deveras preocupada com a liturgia - recentemente, com prenomes de tratamento -, é entender que a necessária evolução tecnológica não pode se distanciar da necessária evolução do profissional do futuro.
A necessidade dos gestores quanto a percepção e treinamento das habilidades dos seus profissionais e, repita-se, não necessariamente decorrente das especializações constantes nos respectivos currículos, é condição basilar para a evolução do mundo jurídico.
Mas não é só, a aceitação dessa mudança passa necessariamente pela alteração cultural de uma área ortodoxa, a qual, para sua própria sobrevivência, terá que quebrar paradigmas centenários, afinal, graduações e especializações por si só, não mais serão os únicos predicados do profissional do futuro.
Mister se faz a atenção para afetação das atividades no mundo jurídico, em decorrência da evolução tecnológica, vez que forçará o responsável pela gestão de pessoas a descoberta ou o treinamento de habilidades do profissional do futuro outrora deixadas de lado, afinal, se a inteligência artificial consegue reunir com celeridade e eficiência elementos para a formação de uma pseudo convicção, caberá ao profissional com flexibilidade cognitiva, o julgamento e a tomada da decisão mais assertiva para resolução de problemas complexos ou viabilização de uma negociação.
No mesmo sentido, profissionais do direito baseando-se em Big Data poderão com pensamento crítico entender as falhas na orientação/prestação do serviço aos clientes, otimizando sua operação e, a experiência e satisfação do seu parceiro comercial.
Finalmente, a criatividade, a otimização dos relacionamentos interpessoais - coordenação com os outros - e, acima de tudo a inteligência emocional, tão em voga, completarão o perfil desejado.
Nesse cenário, a sinergia com as benesses advindas da quarta revolução industrial, somente ocorrerá em sua plenitude se, na mesma proporção, ocorrer a evolução e o estímulo das habilidades do profissional do futuro.