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O futuro da advocacia está nas mãos das pessoas

Por Edgard Carvalho, sócio do Carvalho Magalhães Advogados

4 de February de 2021 8h

A transformação da advocacia é contínua. Acontecimentos como a pandemia da Covid-19 podem ser catalisadores dessas mudanças, mas as maiores (r)evoluções acontecem quando pessoas assumem uma posição diferente daquilo que sempre foi feito. Assim se inicia uma nova trajetória.

Paralelamente à transformação, coabitam simultaneamente os mais diversos modelos de negócios, os tradicionais, disruptivos, arrojados, conservadores, estratégicos, massificados. Previsões de que um modelo ou outro vai se sobressair é mero exercício de futurologia. Ninguém sabe dizer ao certo quanto tempo um perfil de atuação vai fazer sentido para o mercado. Enquanto houver cliente, um negócio pode subsistir.

É inegável, no entanto, que as mudanças no mundo têm acontecido mais rapidamente, as respostas são vivas e cada vez mais é preciso aprender a conviver com perguntas. Se hoje um modelo faz sentido, amanhã pode desaparecer sem deixar rastros.

Muitas sociedades de advogados já perceberam a mudança e começaram a fazer a lição de casa, investindo em tecnologia e se modernizando. Ocorre que se a operação interna continuar engessada, a velocidade de resposta pode não ser suficiente para garantir a sobrevivência.

A decisão está nas mãos das pessoas. E é por isso que ao invés de tentar adivinhar o futuro, muita gente já está desenhando um novo presente. O formato de negócios em que somente alguns veem retorno financeiro enquanto muitos trabalham parece estar perdendo espaço para algo mais colaborativo e transparente.

As pessoas não querem ficar obsoletas - e aqui não se resume apenas a conhecimento técnico. Cada vez mais é possível enxergar o quanto uma organização é capaz de responder às novas necessidades. Ficar num lugar que não evolui traz a sensação de se ter emprego por prazo determinado. Por essa razão, o mercado jurídico tem assistido movimentações relevantes de pessoas saindo do óbvio e aparentemente seguro para enfrentar o novo e com propósito.

Aliás, ao se falar de propósito, não se trata de uma busca iludida do trabalho perfeito, mas estar em uma organização em que se sai melhor que entrou. É estar num lugar que exige, mas devolve. Um ambiente que se preocupa com quem está dentro para, então, fazer diferença para o mundo.

A ideia de criar o Carvalho Magalhães Advogados, por exemplo, nunca foi para concorrer com o modelo tradicional, já que ficar onde está é a forma mais estável de se garantir previsibilidade, pelo menos a curto e médio prazo.

Nosso formato é dinâmico, em criação. Tudo que já está pronto limita as oportunidades de quem ainda não chegou. São muito mais perguntas do que respostas e algumas, poucas, convicções. Dessas, a aposta em um modelo em que os resultados financeiros são transparentes para que todos possam ter noção do quanto representa o esforço coletivo e individual quando o assunto é dinheiro.

Trata-se também de um modelo que valoriza a diversidade na contratação de pessoas porque entende a relevância da pluralidade de opiniões. Entretanto, para que isso faça sentido, é preciso garantir voz, a autonomia de falar e ser ouvido. Por isso, deve-se mitigar à ideia de hierarquia ao se tratar de estratégias e caminhos. É melhor promover reuniões abertas porque as ideias e soluções não estão atreladas a cargo ou senioridade.

Nossos processos seletivos não exigem apenas experiência, são pensados para serem oportunidades, sem um perfil previamente traçado. As vagas não exigem requisitos desnecessários que limitam ao invés de qualificar. O exercício obrigatório do feedback é uma forma de devolver em conteúdo à dedicação de quem demonstrou interesse e se preparou para a entrevista.

Não é só falar de diversidade, é se preparar para recebê-la. Promover a integração de pessoas trans, por exemplo, exige, no mínimo, um olhar simples para a forma como/se os banheiros estão divididos. Ter um ambiente plural exige mais que cartazes nas paredes; é preciso diálogo aberto e contínuo com a equipe, pois todos estamos em formação. Não é exigir, é promover desenvolvimento.

O formato não está pronto, assim como as pessoas também não estão. É preciso dar cada passo de forma verdadeira, pois, do contrário, significará andar em círculos. Só é possível construir novas trajetórias desligando o piloto automático e permitindo que as pessoas tracem a rota.

Não é a complexidade das ações internas e os investimentos em RH e/ou em marketing que garantirão a sobrevivência de um escritório de advocacia. Difícil prever o que será preciso para tanto, mas, sem dúvida, ser um lugar onde as pessoas querem estar e se orgulham é um grande passo.

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