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Montar seu próprio escritório inclui vários desafios, mas é motivador

Por Fabíola Meira de Almeida Breseghello, doutora em Direito das Relações de Consumo e sócia do escritório homônimo

20 de September de 2022 14h33

Em setembro do ano passado, ainda em meio à pandemia e com um filho de apenas um ano,  decidi fundar o meu escritório de advocacia.

Como sócia-fundadora, montei uma equipe interna especializada em relações de consumo. A banca atua em temas como regulatório, proteção de dados, acessibilidade, legal marketing, vícios, defeitos, garantias de produtos e serviços, tanto no contencioso judicial como no administrativo, além do compliance consumerista.

Atuamos, exclusivamente, para empresas, ou seja, advocacia corporativa, para grandes companhias. Em 2021, os litigantes contra essas empresas eram 70% homens, 21% mulheres e 9% pessoas jurídicas. Até agosto de 2022, porém, identificamos que os litigantes são 64% homens, 33% mulheres e 3% pessoas jurídicas. Por esses números, ao que parece, o número de mulheres na posição de autoras de ações em face das empresas tem aumentado.

Não estaria sendo honesta se dissesse que essa transição de carreira - deixar o escritório onde atuei por 15 anos - foi fácil, mas, sem dúvidas, está valendo o esforço. O primeiro ano foi de investimento, de passar confiança e credibilidade para os clientes, de manter-se na realidade, viver sem ilusões.

Passado esse período, vamos fazendo ajustes, acertando arestas, analisando o que funciona e o que não funciona nas equipes e no atendimento. Mas vejo que agora podemos começar a desenhar um plano de carreira robusto, avaliar o ingresso de outros sócios, focar em determinados segmentos empresariais e buscar sempre a excelência.

Como milhões de brasileiras, tenho que me dividir da melhor forma entre o trabalho e a maternidade. Tal dilema, ao mesmo tempo que aflige, também motiva.

Esse é meu conflito atual, e mulheres com essa característica me inspiram, independentemente do cargo ou posição social que ocupam. Amo o que faço e nem penso parar. Tenho prazer em estar no escritório lidando com grandes questões e estudando a melhor estratégia, mas o coração aperta quando não consigo colocar meu filho para dormir, ao mesmo tempo que aperta quando preciso negar algum convite profissional (uma aula, uma palestra) para poder equilibrar a vida.

Seja em palestras ou na vida em geral, gosto sempre de destacar características profissionais que me inspiram: mulheres que continuam atuando para ter o próprio espaço e que não se abalam por estarem em um ambiente masculino; mulheres que não encontram desculpas para serem fortes, determinadas e que unem desenvoltura e empatia para inspirar e influenciar pelo exemplo e não pela imposição ou pelo cargo.

Atualmente nosso escritório é formado majoritariamente por mulheres (75%), mas isso não ocorre por uma imposição ou premissa definitiva. A ideia é buscar sempre maior diversidade, pluralismo e equilíbrio.

Diferentemente da grande maioria das mulheres, nunca passei por situações de preconceito ou machismo estrutural, ainda que o mercado jurídico seja formado predominantemente por homens.

Felizmente, nunca passei por situações desagradáveis e acredito que seja por nunca me colocar em posição de inferioridade. E é o que eu passo sempre para a equipe - com técnica e bons argumentos, será possível se expressar e eliminar qualquer tipo de preconceito.

Mas sou consciente dos obstáculos que ainda terei pela frente. Mesmo assim, sigo motivada, otimista e com os dilemas de ter ou não outro filho.

Para um escritório novo como o meu seguir avançando, é necessário conquistar a confiança e visibilidade de novos clientes, manter a carteira ativa e crescente, engajar a equipe para não perder talentos e sempre estar atenta se existe alguém remando contra a maré.

Assim, listo cinco dicas para assumir um escritório com liderança.

  1. PLANEJAMENTO FINANCEIRO: É o principal. No meu caso, eu ouvi várias propostas e analisei uma a uma até tomar a decisão de fundar minha própria banca.
  2. TER UMA EQUIPE DE CONFIANÇA: Importantíssimo. Escolha uma equipe que esteja entusiasmada, colaborativa e alinhada com os valores que você deseja ter.
  3. TER UMA REDE DE NETWORK: Essencial. Tanto no meio profissional, porque abrem portas para novos negócios e novos relacionamentos, quanto no familiar, pois toda ajuda é necessária.
  4. TER UMA CARTELA DE CLIENTES QUE POSSAM SEGUIR: Primordial. Ter a confiança dos principais clientes que confiam no seu trabalho e que vão seguir você.
  5. ENFRENTAMENTO DA CONCORRÊNCIA: Antes de abrir o seu próprio negócio, verifique o já existente no mercado e busque um diferencial. Mas saiba que os desafios serão enormes. Esteja preparada técnica e emocionalmente para enfrentá-los.

Fabíola é especialista em Direito das Relações de Consumo e Doutora em Direitos Difusos e Coletivos com ênfase em Relações de Consumo, ambos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É Professora Assistente da Pós-Graduação em Direito das Relações de Consumo. da PUC-SP, Presidente da Associação Brasileira das Relações Empresa Cliente (ABRAREC), Diretora do Comitê de consumo do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (IBRAC), e Árbitra da Câmara de Mediação e Arbitragem Especializada (CAMES). Mais Admirada em cinco edições do Análise Advocacia.

Os artigos e reportagens assinadas não refletem necessariamente a opinião da editora, sendo de responsabilidadeMulti exclusiva dos respectivos autores.

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