O Universo Corporativo contempla uma grande gama de premissas, e algumas das principais incluem o crescente (e constante) aumento de eficiência e da produtividade, assim como da geração de valor, e da lucratividade.
Um dos pilares das empresas mais lucrativas, e com maior valor, é justamente a perenidade dos bons resultados (inclusive, mas não unicamente financeiros), que por sua vez permite que sejam efetivamente sustentáveis. E, para que assim seja, é preciso que o valor geral seja a efetiva soma de valor para todos os "stakeholders", em todos os aspectos (e de forma constante).
Tais organizações precisam ser, portanto, realmente melhores, assim como necessitam de controles e processos internos melhores, além de apresentar produtos/serviços melhores, e também contar com decisões e escolhas melhores (e não apenas buscar rapidez e menores custos, que podem ser bastante "arriscados" em diversos casos, e tendem a ser "passageiros").
Destacamos, ainda, a importância de se "proteger", tanto quanto possível, a reputação e a imagem das organizações, que podem ser fortemente afetadas em casos de erros de avaliação que produzam efeitos adversos.
Nesse contexto, a Inteligência Artificial e a Automação, em linha com outros avanços tecnológicos, através, do uso de softwares/sistemas cada vez mais sofisticados vem ganhando espaço nas organizações, ao aliar padronização, rapidez, redução de custos e automação de tarefas, entre outros.
Muito se festeja essa nova realidade, que todos devemos acompanhar e conhecer, mas além disso, recomendamos cuidado e análise estratégica, inclusive de riscos, pois oportunidades em geral também incluem riscos, assim como "novidades". E também sugerimos que as decisões ocorram "caso a caso" e não de forma geral (ao menos por enquanto).
Temos que nos lembrar, sempre, de que "tudo na vida tem ao menos dois lados"; e que arrojo e cautela precisam encontrar um certo grau de "equilíbrio", em benefício da pretendida evolução e geração de valor.
Assim, destacamos que toda essa "nova tecnologia" é realmente super importante e pode ajudar muito, mas ainda não substitui as pessoas (e repetimos - ao menos não por enquanto, e nem de forma total).
Essas "ferramentas", crescentemente sofisticadas, são de fato grandes aliadas do aumento de eficiência nas organizações e apresentam oportunidades de melhorias, mas demandam, também, análise crítica, muito cuidado e avaliação estratégica em sua utilização.
Seres humanos comentem erros, e têm falhas, mas a tecnologia também; até mesmo por conta dos parâmetros e objetivos considerados em sua "programação", dos "vieses" (propositais ou não), de maneira que a estratégia em cada organização precisa contemplar que se trata de ferramenta, e que seu uso precisa ser implementado em conjunto, e como complemento, ao que fazem as pessoas; sem a ilusão de que sejam infalíveis, e que efetivamente substituam totalmente a atuação humana (especialmente em temas estratégicos e que envolvam grandes riscos).
Assim como pessoas utilizam a tecnologia, os "sistemas" são também criados por pessoas, e essa própria "programação" pode conter falhas.
Em outras palavras, eventuais falhas humanas, que a tecnologia vise ajudar a corrigir, não se resolvem sem revisões, análises e checagens humanas, inclusive em sua utilização, pois são criados por elas.
Especialmente em questões mais estratégicas e sensíveis, entendemos que a avaliação (em cada organização e caso) precisa considerar bem mais do que "apenas" rapidez, automação e custo direto.
O tema é tão amplo, complexo e polêmico, que em vários aspectos vem sendo discutida a devida regulação, local e mundial, pois há muitos enfoques, responsabilidades, e riscos - além dos avanços.
Um dos filtros recomendados nesse tema é a inclusão da área de gestão de riscos da organização, em conjunto com a área de tecnologia, além de outras que cada organização eleja, para analisar, em cada caso, como utilizar as ferramentas - para o efetivo ganho de segurança e de eficiência.
Em outras palavras, o que (ao menos por enquanto) se recomenda, é a atuação "conjunta" de humanos e de tecnologia, sem a delegação plena aos sistemas; inclusive por conta de responsabilidades - por erros que nem sempre serão fáceis de se identificar.
Quando houver (por exemplo) erros, falhas, inconsistências, e imperfeições, na coleta ou na análise de dados, e/ou no encaminhamento de decisões, pelos "sistemas", a "culpa" será do operador do software, de quem o escolheu, de quem implementou, de quem comercializou, de quem o concebeu, ou até de outros?
O setor de seguros, por exemplo, já vem inclusive avaliando e discutindo a questão das reponsabilidades e das possíveis relações dessas com as apólices; como demonstração da amplitude e da complexidade do tema.
Nesse contexto destacamos a relação da tecnologia com algumas das áreas que ajudam a ampliar as chances das empresas serem melhores, mais rentáveis e mais sustentáveis, notadamente riscos, além da governança corporativa, do compliance e do ESG.
Também nessas áreas as novas ferramentas ajudam muito, permitem que se obtenha, e que analise dados e informações de forma mais rápida, ampla, e barata, mas não afastam por completo a atuação humana para identificar e
avaliar os riscos e a necessidade de cuidados, pois a experiência tem demonstrado que por mais que se avance com sistemas, há aspectos que apenas humanos conseguem constatar e avaliar, não apenas por inteligência, e experiência, mas em muitos casos também por especialização, senioridade, e até sensibilidade.
Em diversas situações, a tecnologia pode "até" permitir uma "primeira triagem", mais rápida e barata, mas a efetiva análise de risco e eventual correção de premissas e de vieses, assim como de distorções, e ainda a inclusão de considerações mais sensíveis por questões específicas precisa da observação e da decisão humana.
Exemplos como auditorias, "due diligences", análise de riscos mais sensíveis, laudos e certificações, e diversos aspectos do compliance e do ESG, como por exemplo contratação de terceiros, de fornecedores e outros, precisam "ir bem além" de analisar documentos, e demandam, em alguns casos, não apenas a atuação humana como também que essa seja presencial (e "no local"); por vezes de maneira recorrente e frequente.
Quando a questão demanda que efetivamente se conheça uma situação, pessoa, empresa, local, ou prática, com muita frequência precisamos reconhecer que a atuação humana ainda é imprescindível.
Por mais que existam sistemas/softwares excelentes no mercado, e que tantos outros surjam "todos os dias", assim como nós, nenhum deles é perfeito, nem totalmente completo e nem infalível; e todos busquemos a melhoria contínua.
Nesse contexto, entendemos que as ferramentas vieram "para ficar e ajudar", mas ainda conviveremos com a tecnologia, como apoio às nossas atividades (e não como substituta plena) por algum tempo.
Acompanhemos.
Leonardo Barém Leite é sócio sênior do escritório Almeida Advogados em SP, especialista em Direito Societário e Contratos, Fusões e Aquisições, Governança Corporativa, Sustentabilidade e ESG, Compliance, Projetos e Operações Empresariais, e Direito Corporativo; também é árbitro, professor, conselheiro, e autor de diversas obras. Presidente da Comissão de Direito Societário, Governança Corporativa e ESG da OAB-SP/Pinheiros.
Os artigos e reportagens assinadas não refletem necessariamente a opinião da editora, sendo de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.