Iniciativas de equidade de gênero - um caminho em construção | Análise
Análise

Iniciativas de equidade de gênero - um caminho em construção

Natália Zanelatto, advogada da Andersen Ballão Advocacia

21 de January de 2021 8h

Chegamos ao terceiro ano de existência do grupo de mulheres do escritório, ano atravessado pelos revezes de uma pandemia e de home office forçado, que em média impuseram às advogadas desafios notoriamente maiores do que aqueles impostos aos colegas do sexo oposto - especialmente para aqueles com filhos.

No entanto, o objetivo destas linhas não é tratar dessa perspectiva pandêmica de 2020, mas humildemente apresentar como um grupo criado apenas em 2017 pôde propor neste ano um compromisso firme do escritório com a equidade de gênero: a adesão aos Princípios de Empoderamento Feminino da ONU Mulheres, também conhecido pela sigla WEPs (Women Empowerment Principles).

Quando da constituição do grupo e das reuniões iniciais, com a presença apenas de mulheres, as dúvidas eram: "o que queremos com este grupo, afinal?"; "onde está o problema?" e mais, "existe algo a ser endereçado?". Uma coisa era clara: havia o nosso interesse em nos reunirmos, o que por si só já era bastante eloquente.

Foi então que começamos a pesquisar sobre terminologias próprias ao estudo do feminismo, como o machismo estrutural e estruturante, que não perdoa as instituições que integramos, e sobre sororidade. Ao nos depararmos especialmente com esses dois conceitos, entendemos que se tratava de uma questão não apenas nossa, mas de toda a sociedade (estrutural), e que uma forma de iniciar a solução seria por meio da colaboração entre as próprias mulheres (sororidade).

Depois desse processo interno, decidimos transformá-lo em externo e trazer experiências de fora para lançar luz sobre o que queríamos tratar. Falar com mulheres líderes e estudiosas do tema nos pareceu um bom começo, e por sorte conhecíamos uma quantidade expressiva delas: nossas clientes. A partir daí tivemos a sorte de contar com executivas que integravam os quadros da diretoria e que toparam generosamente ceder o seu tempo para compartilhar as suas experiências conosco.

Como as opiniões sobre o ainda delicado tema de gênero são das mais diversas, buscamos deixá-las bastante confortáveis para contar sobre a sua trajetória como quisessem, podendo optar entre abordar aspectos relacionados ao fato de serem mulheres na liderança, ou não. No entanto, em uma sala lotada de mulheres, é natural que essa questão se torne o centro do debate, incluindo dificuldades e renúncias familiares, estratégias para acessar oportunidades, formas de se posicionar em ambientes tradicionalmente masculinos, programas de mentoria e tantas outras.

De forma bastante franca, conseguimos promover trocas entre as mulheres da nossa equipe e essas clientes, estreitando os nossos laços por uma via que a princípio não parecia, mas depois se tornou óbvia.

Além das líderes mulheres nos ambientes dos clientes, tivemos a oportunidade de ouvir também especialistas em questões de gênero, como a à época presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB/PR, Luciana Sbrissia Bega, que, para uma plateia de homens e mulheres, falou sobre vieses inconscientes e esclareceu como é sutil (ou nem tanto?) a discriminação que sofremos e aplicamos. Também com a presença dos nossos colegas homens, tivemos a honra de receber a professora da UFPR e coordenadora do Política Por/De/Para Mulheres, Eneida Desiree Salgado, que nos contou a importância de representatividade feminina nos espaços de poder, inclusive os privados, e como deve ser o nosso processo emancipatório, de dentro para fora, à la Paulo Freire.

Com a criação do grupo e com a mobilização das mulheres em torno desses encontros, foi possível chamar a atenção e conscientizar a liderança do escritório para a necessidade de criação de uma política de diversidade estruturada, começando pela equidade de gênero. Trilhando esse caminho, culminamos neste ano na adesão aos WEPs, contando com o apoio dos sócios e de toda a equipe do escritório.

Especificamente quanto aos WEPs, formalizamos a adesão com a ajuda da consultora da ONU, Tayná Leite, que, além de realizar a palestra inicial de conscientização na cerimônia de adesão, guiou as líderes internas do escritório no passo a passo de elaboração do diagnóstico e orientações sobre como iniciar a implantação.

Apesar de ainda estarmos começando esta nova fase, reconhecemos o quanto já avançamos na conscientização do tema e o quanto ganhamos na cooperação entre as mulheres do escritório.

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