Chegamos ao terceiro ano de existência do grupo de mulheres do escritório, ano atravessado pelos revezes de uma pandemia e de home office forçado, que em média impuseram às advogadas desafios notoriamente maiores do que aqueles impostos aos colegas do sexo oposto - especialmente para aqueles com filhos.
No entanto, o objetivo destas linhas não é tratar dessa perspectiva pandêmica de 2020, mas humildemente apresentar como um grupo criado apenas em 2017 pôde propor neste ano um compromisso firme do escritório com a equidade de gênero: a adesão aos Princípios de Empoderamento Feminino da ONU Mulheres, também conhecido pela sigla WEPs (Women Empowerment Principles).
Quando da constituição do grupo e das reuniões iniciais, com a presença apenas de mulheres, as dúvidas eram: "o que queremos com este grupo, afinal?"; "onde está o problema?" e mais, "existe algo a ser endereçado?". Uma coisa era clara: havia o nosso interesse em nos reunirmos, o que por si só já era bastante eloquente.
Foi então que começamos a pesquisar sobre terminologias próprias ao estudo do feminismo, como o machismo estrutural e estruturante, que não perdoa as instituições que integramos, e sobre sororidade. Ao nos depararmos especialmente com esses dois conceitos, entendemos que se tratava de uma questão não apenas nossa, mas de toda a sociedade (estrutural), e que uma forma de iniciar a solução seria por meio da colaboração entre as próprias mulheres (sororidade).
Depois desse processo interno, decidimos transformá-lo em externo e trazer experiências de fora para lançar luz sobre o que queríamos tratar. Falar com mulheres líderes e estudiosas do tema nos pareceu um bom começo, e por sorte conhecíamos uma quantidade expressiva delas: nossas clientes. A partir daí tivemos a sorte de contar com executivas que integravam os quadros da diretoria e que toparam generosamente ceder o seu tempo para compartilhar as suas experiências conosco.
Como as opiniões sobre o ainda delicado tema de gênero são das mais diversas, buscamos deixá-las bastante confortáveis para contar sobre a sua trajetória como quisessem, podendo optar entre abordar aspectos relacionados ao fato de serem mulheres na liderança, ou não. No entanto, em uma sala lotada de mulheres, é natural que essa questão se torne o centro do debate, incluindo dificuldades e renúncias familiares, estratégias para acessar oportunidades, formas de se posicionar em ambientes tradicionalmente masculinos, programas de mentoria e tantas outras.
De forma bastante franca, conseguimos promover trocas entre as mulheres da nossa equipe e essas clientes, estreitando os nossos laços por uma via que a princípio não parecia, mas depois se tornou óbvia.
Além das líderes mulheres nos ambientes dos clientes, tivemos a oportunidade de ouvir também especialistas em questões de gênero, como a à época presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB/PR, Luciana Sbrissia Bega, que, para uma plateia de homens e mulheres, falou sobre vieses inconscientes e esclareceu como é sutil (ou nem tanto?) a discriminação que sofremos e aplicamos. Também com a presença dos nossos colegas homens, tivemos a honra de receber a professora da UFPR e coordenadora do Política Por/De/Para Mulheres, Eneida Desiree Salgado, que nos contou a importância de representatividade feminina nos espaços de poder, inclusive os privados, e como deve ser o nosso processo emancipatório, de dentro para fora, à la Paulo Freire.
Com a criação do grupo e com a mobilização das mulheres em torno desses encontros, foi possível chamar a atenção e conscientizar a liderança do escritório para a necessidade de criação de uma política de diversidade estruturada, começando pela equidade de gênero. Trilhando esse caminho, culminamos neste ano na adesão aos WEPs, contando com o apoio dos sócios e de toda a equipe do escritório.
Especificamente quanto aos WEPs, formalizamos a adesão com a ajuda da consultora da ONU, Tayná Leite, que, além de realizar a palestra inicial de conscientização na cerimônia de adesão, guiou as líderes internas do escritório no passo a passo de elaboração do diagnóstico e orientações sobre como iniciar a implantação.
Apesar de ainda estarmos começando esta nova fase, reconhecemos o quanto já avançamos na conscientização do tema e o quanto ganhamos na cooperação entre as mulheres do escritório.