Tudo começou na moeda-mercadoria, o escambo. Não existiam valores, todos os negócios eram feitos com base na troca de mercadorias. No Brasil, os principais ciclos econômicos existentes foram o pau-brasil, o açúcar, o cacau, o ouro e o café. Entretanto, com o passar dos anos, percebeu-se que o escambo não era vantajoso, principalmente pela indivisibilidade das mercadorias, sua dificuldade de circulação e da perecibilidade delas, impedindo o acúmulo de riquezas.
Com a descoberta do metal, o homem passou a utilizá-lo como matéria-prima para seus utensílios e armas. A valorização desses objetos produzidos a base de metal e o metal propriamente dito levou a sua utilização como moeda.
As primeiras moedas de metal não possuíam as características que conhecemos hoje, elas eram produzidas em formato de objetos, em cobre, prata e ouro. Os valores dessas moedas eram correspondentes ao valor comercial do metal utilizado para a sua confecção.
Até o século 19, as moedas de ouro representavam maior valor e as de prata e bronze menor valor. Entretanto, quando da chegada das novas ligas metálicas, as moedas passaram a circular com o valor gravado em sua face, independente do metal utilizado para a sua confecção.
O papel-moeda chegou ao Brasil em 1810. O Banco do Brasil emitia bilhetes com valores preenchidos à mão. Com o passar do tempo, começaram a serem criadas as cédulas, às quais foram evoluindo em questão de técnica de impressão, como papel, tinta, entre outros materiais.
Em 1845, surgiu no Brasil a primeira referência ao cheque, quando da criação do Banco Comercial da Bahia. Contudo, o cheque só foi mencionado oficialmente em 1893, pela Lei 149-B, e regulamentado em 1912, pelo decreto 2.591. O uso do cheque era muito vantajoso, se comparado às cédulas e moedas, para a movimentação de grandes quantias, estando, dentre as principais vantagens, a economia de tempo diante da desnecessidade de contagem das cédulas.
Os cartões chegaram no Brasil no final de 1960, tendo sido popularizado somente em 1990. As transações com cartão cresceram de 275 milhões em 2002 para 2 bilhões em 2007.
Durante 20 anos, o sistema de cartões era comandado por 2 adquirentes, Redecard e Visanet, as quais, juntas, detinham quase 100% do mercado de cartões de débito e crédito, devido a um contrato de exclusividade existente.
O primeiro órgão a intervir no mercado de meios de pagamento foi o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), o qual, em 2010, decidiu pela quebra da exclusividade; estabelecendo que a Redecard não iria mais capturar apenas transações realizadas com as Bandeiras Master e Diners e que a Visanet não iria mais capturar apenas transações realizadas com a Bandeira Visa.
A quebra da exclusividade e consequente abertura do mercado possibilitou o ingresso e crescimento de novos adquirentes, tais como: Getnet, Stone, Global e Elavon, entre outras.
Por não terem capilaridade de agências bancárias, esses novos adquirentes passaram se utilizar de subadquirentes, os quais haviam sido deixados de lado pela Redecard e pela Cielo, então Visanet. A entrada de novos adquirentes no mercado e a consequente utilização de subadquirentes fez crescer o mercado de meios de pagamento, com o aumento da concorrência e a criação de novos produtos.
O Banco Central do Brasil (Bacen) passou a regular o mercado de pagamento com moedas eletrônicas a partir de 2013, atuando efetivamente a partir de 2014, com a edição da Lei 12.865/2013, que conferiu ao Bacen o poder de fiscalização e regulação das empresas de pagamentos eletrônicos.
No controle desse mercado, o Bacen publicou diversas circulares, viabilizando o crescimento de novos negócios. Para tanto, o principal objetivo do Bacen é a análise de risco, visando sempre oferecer segurança e concorrência a todos.
Após regular os mercados das bandeiras abertas e de contas de pagamento, respondendo à uma necessidade do mercado, o Bacen viabilizou a criação das fintechs de crédito: Sociedade de Crédito Direto (SCD) e Sociedade de Empréstimo entre Pessoas.
Mais recentemente, o Bacen estabeleceu as regras básicas para os Pagamentos Instantâneos, que poderão ser efetuados a qualquer dia e horário, criando, inclusive, um Arranjo de Pagamento específico para esta finalidade, o PIX.
Os Pagamentos Instantâneos "são as transferências monetárias eletrônicas na qual a transmissão da ordem de pagamento e a disponibilidade de fundos para o usuário recebedor ocorre em tempo real e cujo serviço está disponível durante 24 horas por dia, sete dias por semana e em todos os dias no ano".
Ainda, o Bacen tem em pauta para os próximos meses regular o Open Banking, que é uma iniciativa criada com o objetivo de tornar o mercado de crédito e de pagamentos mais eficiente, consistente no compartilhamento de dados, produtos e serviços entre as instituições autorizadas a funcionar - tais como: dados de produtos e serviços, dados cadastrais dos clientes, dados transacionais e outros - mediante, é claro, o consentimento do usuário.
A posição adotada pelo Bacen, com a conjugação do binômio segurança - concorrência, desde o momento que passou a regular o setor, mostrou-se bem adequada. Comprovou-se frutífera a medida e traz benefícios ao mercado possibilitar a operação de empresas menores e/ou em seu início de atividade, com um custo regulatório menor; aumentando os deveres prudenciais somente a partir do momento em que o Bacen entende que existe risco sistêmico em sua operação.
Essa liberdade de atuação no mercado, com a diferenciação de regras entre os players, de acordo com seu risco sistêmico e tamanho, gerando significativo aumento de concorrência, e a constante evolução tecnológica faz com que o mercado de pagamento com moeda eletrônica brasileiro seja um dos mais efetivos e interessantes do mundo.
Sem prejuízo desta constatação, os agentes do mercado concordam que ele tem muito a evoluir ainda, sendo campo fértil para novas empresas e novos produtos.
Poucas certezas se têm do futuro, mas uma delas é que as pessoas em geral efetuarão cada vez mais seus pagamentos por meio digital, mais efetivos seguros e ágeis, e não retornarão ao uso do dinheiro em espécie ou cheque.
O avanço da tecnologia, somado a alta competitividade do mercado e a atuação do Bacen para viabilizar a existência de novos negócios, traz a perspectiva de que as transações por meio físico se tornem cada dia mais obsoletas - assim como todos os meios de pagamento anteriores a 1990 - exigindo cada vez menos a presença física das pessoas.
Essa é a tendência para todos os setores: compras (diante do e-commerce); trabalho (diante do home-office); documentos (diante da assinatura eletrônica); e assim por diante.
Afinal, a segurança não está na presença, mas na eficiência.