Ao concluir a universidade, muitos advogados se deparam com um grande desafio: como empreender sem terem sido preparados para isso. As faculdades de Direito, em sua maioria, formam excelentes técnicos, mas raramente capacitam seus alunos para criar, gerir e expandir seus próprios negócios de forma sustentável.
Nossa formação jurídica é sólida na teoria e na prática profissional, porém limitada quando o assunto é empreendedorismo, gestão e liderança. Assim, o advogado que decide empreender precisa aprender na experiência diária, apoiando-se em suas habilidades natas, contando com a sorte de tê-las.
Delegar, por exemplo, é um exercício desafiador para muitos advogados. Confiantes em sua própria excelência técnica, frequentemente enfrentam dificuldade em transferir responsabilidades e confiar plenamente em outros profissionais, ainda que altamente qualificados. Contudo, delegar é um passo indispensável para quem deseja construir, consolidar e expandir um escritório de sucesso.
Ninguém empreende sozinho — e o advogado não é exceção. O empreendedorismo é uma jornada coletiva que exige gestão eficiente do tempo, tanto o próprio quanto o da equipe. A inteligência artificial pode e deve ser uma aliada estratégica nesse processo, mas a responsabilidade de precificar, rentabilizar e tornar o serviço atrativo ao cliente continua nas mãos do profissional.
Empreender é, por essência, assumir riscos. É investir tempo, energia e recursos sem garantias de retorno no prazo desejado. Ainda assim, é preciso resiliência, adaptabilidade e coragem para mudar, revisitar metas, redefinir estratégias e fazer novas escolhas, sem compromisso com o erro.
O advogado empreendedor precisa compreender a dinâmica do mercado jurídico, conhecer seus concorrentes, desenvolver visão estratégica e definir com clareza o que quer e o que não quer realizar. Deve, igualmente, escolher com sabedoria os profissionais que estarão ao seu lado e, sempre que possível, olhar para o futuro, antecipando tendências, desafios e oportunidades.
Em minha trajetória, ao longo de décadas na advocacia, pude perceber que existem diversas formas de empreender: seja como parte integrante de uma sociedade que valoriza a cultura empreendedora, com objetivos ambiciosos e estratégias bem delineadas, seja de forma individual, buscando constantemente novas possibilidades junto a clientes — atuais ou potenciais —, mantendo atenção permanente às tendências de mercado, a novos produtos e serviços, e ampliando de forma contínua a rede de contatos e relacionamentos, para que as oportunidades se multiplicassem.
Posso afirmar, com convicção, que as melhores oportunidades surgiram de clientes que, assim como eu, evoluíram em suas carreiras, assumiram diferentes posições e permaneceram próximos, demandando meu trabalho onde quer que estivessem. Costumo chamá-los de "clientes da vida toda", aqueles que mais merecem ser cultivados.
Aliás, criar, manter e gerir relacionamentos — sejam com profissionais ou com clientes — é uma das tarefas mais complexas e, ao mesmo tempo, mais essenciais para todo gestor. Envolve administrar expectativas, conciliar aspirações, construir vínculos de confiança e promover um ambiente que estimule o crescimento, o engajamento e o senso de pertencimento.
Acima de tudo, é crucial compreender a diferença entre o bom gestor e o verdadeiro líder. Muitos líderes são bons gestores, mas nem todo gestor é, de fato, um líder. Alguns nascem com essa vocação; outros a desenvolvem com o tempo, por meio da experiência e da escuta atenta.
Enquanto bons gestores são lembrados pelas entregas que realizam, os líderes permanecem vivos nas pessoas que foram inspiradas, transformadas e fortalecidas por suas ações.
Bons gestores orientam; líderes inspiram. Bons gestores conduzem; líderes confiam. Bons gestores reagem; líderes antecipam. Bons gestores desenvolvem profissionais; líderes permitem que eles atinjam sua plenitude. Bons gestores mostram o caminho; líderes o constroem. Bons gestores entregam resultados; líderes deixam impacto e legado.
A diferença entre ambos está na profundidade e na durabilidade dos efeitos que geram nas pessoas, nas organizações e na sociedade.
Saber liderar torna o ato de empreender mais consistente e bem-sucedido, inclusive no mercado jurídico. As organizações que contam com verdadeiros líderes cultivam culturas sólidas, propósitos claros e uma capacidade única de inspirar todos aqueles que desejam trilhar o mesmo caminho.
Glaucia Lauletta é sócia de Tributário do escritório Mattos Filho. Atende clientes nacionais e estrangeiros, de diversos segmentos econômicos, em questões tributárias relacionadas às esferas federal, estadual e municipal. Tem atuação nos tribunais brasileiros, com mais de 35 anos de experiência no contencioso judicial tributário. Atua no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive no acompanhamento de decisões judiciais em última instância relacionadas às principais questões tributárias controversas.
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