Diversidade, oportunidades e propósito | Análise
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Diversidade, oportunidades e propósito

Por Fabiana de Freitas, diretora jurídica e compliance do Grupo Boticário

3 de December de 2020 10h08

Há algum tempo, acertadamente e ainda com muita oportunidade de evolução, o tema diversidade ocupa espaços de discussões, inclusive no mundo corporativo, além de todos os aspectos de diálogo e enfrentamentos que a sociedade brasileira tem feito. Não menos importantes são as questões relacionadas à desigualdade social, que circundam também esse universo da diversidade. Afinal, o mundo é sistêmico e toda a tratativa e entendimento sobre esse tema passa também por este ponto crítico, que não faz parte destes breves apontamentos, mas que não poderia deixar de me referir, visto que é uma questão importante no contexto do tema.

Percebe-se, ao acompanhar as redes sociais, a mídia tradicional e também o comportamento do mercado de consumo, entre outros, que a intensidade que tratamos do tema atualmente não tem precedente, do que nos parece, o que inclusive traz a oportunidade de compartilhar um pouco da experiência vivida sob a ótica da diversidade quando relacionada à gestão de equipes, de diferentes perfis, ao longo da carreira.

Os enfoques e as abordagens sobre o tema diversidade vão desde os humanitários até os efeitos econômicos, destacando apenas dois eixos de apreciação. Um dos focos discutidos e pesquisados sobre o tema, que escolhemos trazer aqui, é o efeito que a diversidade traz em relação à potencialização da inovação, apenas para citar um dos pontos altos além de tantos outros que podem ser referidos.

No campo da pesquisa, segundo estudo realizado pela Consultoria Accenture, "Getting to Equal", de 2019, a cultura de igualdade impulsiona inovação no ambiente de trabalho e o relatório demonstra que a capacitação de colaboradores para inovar pode aumentar o PIB global em US$ 8 trilhões até 2028, o que é um número que impacta fortemente.

Ainda, o mesmo estudo destaca que nos Estados Unidos, a mentalidade de inovação dos colaboradores, ou seja, sua disposição e capacidade de inovar, é quase cinco vezes maior em empresas com uma cultura de igualdade robusta, em que todos podem avançar e prosperar, do que em empresas menos igualitárias.

O ponto da inovação é importantíssimo para as organizações de todo o mundo: a massiva maioria dos negócios depende de inovação em níveis diversos de importância, mas sem dúvida é também uma questão de sobrevivência no mundo globalizado.

Inovação também não deveria estar adstrita a algumas áreas ou níveis das organizações, como por exemplo as clássicas e correlatas de negócio ou desenvolvimento de produtos, mas idealmente deve ou deveria, melhor dizendo, permear todas as áreas da empresa, porque isso potencializa a criação de uma cultura que abraça a diversidade, contribuindo para que esteja no DNA das equipes e das empresas - super desafio - mas que tem muito propósito, o que já escala o tema para um patamar de valor compartilhado, conexão com o negócio e de perpetuidade.

Não é somente em inovação que ganhamos ao trabalhar com equipes diversas, na nossa visão. Além de todo ganho de respeito e oportunidades que são geradas para todas as pessoas envolvidas, o nível de visões sobre diversos temas aumenta exponencialmente e nos tira da armadilha de conforto que genuinamente procuramos, que é o local que chamo aqui de lugar de conforto, um lugar que traz muito menos oportunidades de aprendizado, de inovação e até mesmo de evolução pessoal e profissional . Quando digo isso, penso "que óbvio", mas alguém já disse e a teoria se comprova: o óbvio precisa ser dito, então está valendo.

Certamente este entendimento claro e esta visão positiva que genuinamente tinha desde cedo na minha carreira de gestora, ainda que no início não soubesse bem como fazer, não foi construída de um dia para o outro. Tive a oportunidade de trabalhar com várias equipes e lideranças ao longo da carreira e também, é claro, algumas certezas que foram descartadas ao longo do caminho, através dos acertos e equívocos vividos.

A experiência associada à curiosidade sobre o tema, a gestão de equipes com outras formações além do Direito, em negócios distintos, com pessoas de lugares diferentes do país, ainda que prioritariamente mais ao Sul onde me concentrei geograficamente, foram consolidando este conceito da importância da diversidade na construção de times de alta performance. Não foi nada fácil, mas o propósito quase sempre supera as dificuldades. O processo de seleção é um ponto forte neste foco, um momento muito decisivo.

Não é um processo simples, outros líderes que trabalham ao meu lado também precisam valorizar esta busca e efetivar a discussão deste tema também como pauta de trabalho, juntos somos sempre mais. E a equipe tem um ponto aqui também, pois precisa saber conviver dentro de um contexto plural, ou seja, o aprendizado é de todos.

Para passar do discurso à prática, é preciso efetivar na contratação e no dia a dia esta realidade, permitindo que todos tenham espaço para suas colocações e visões, em um ambiente de transparência e de fomento ao diálogo para o resultado dessa equação seja positivo. Temos um caminho de reconstrução dos processos de contratação nas organizações no geral, em diferentes níveis de maturidade, aparando alguns vieses, trazendo um modelo mais inclusivo de forma estruturada. Muito já foi feito e ainda podemos mais, nos parece.

No Grupo Boticário, o tema é pauta há vários anos, mas 2020 com todos os seus desafios trouxe ainda mais compromissos no sentido de fomentar a diversidade assumindo compromissos com foco especial na equidade racial. Para continuarmos avançando em nossa jornada rumo a uma empresa cada vez mais inclusiva estabelecemos metas para evoluir no pilar de pessoas. São elas: aumentar em 40% a contratação de talentos negros, alcançando 50% de representatividade até 2023; alcançar ao menos 25% de lideranças corporativas negras até 2023; e desenvolver todos os nossos talentos negros através de mentorias e trilhas profissionais.

É importante indicar que, em que pese a importância inegável do tema, é imprescindível que se estabeleça uma verdadeira cultura de diversidade e inclusão nas empresas. Atuar com diversidade não deve apenas ser um fim em si mesmo, mas verdadeiramente uma forma genuína de fazer negócios, que traz um olhar de valor compartilhado, empatia e respeito para todos os stakeholders, e pontos de contato da organização e com a sociedade.

Valorizar e respeitar a diversidade é importante para os negócios e para as pessoas, e é por pessoas e para pessoas que organizações se fazem e são feitas. No papel de gestora de equipes, entendo que a caminhada deste tema ainda é longa e o esforço de cada um é fundamental para construção de um caminho que não tem volta. Por isso, e como não são apenas as respostas que movem o mundo, mas também os questionamentos, cabe propor uma reflexão final: qual é o seu propósito, da empresa em que trabalha e como você pode contribuir para ampliar as oportunidades para a diversidade? Afinal, o que todos queremos é viver em um mundo melhor.

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