O avanço da tecnologia muda constantemente a forma como nos relacionamos, tomamos decisões e até mesmo executamos ações rotineiras. Mesmo os brasileiros têm ficado cada vez mais atentos e exigentes: queremos smartphones mais modernos, computadores mais robustos, planos de dados mais generosos e conexões mais rápidas e estáveis. Mas estamos, de fato, prontos para lidar com toda essa tecnologia?
A pergunta acima foi a semente de um novo projeto. Decidi estudar Direito Digital, e quanto mais buscava entender sua aplicação nas relações jurídicas, mais gritante ficava o despreparo de nossa sociedade para lidar com a internet e as consequências dos atos lá praticados. A tão propalada inclusão digital era uma falácia: não adianta facilitar o acesso da população à internet, se ela não receber o devido preparo para utilizá-la.
Passei, então, a usar o termo "educação digital" como norte para o que estava tentando criar. E, após levar a ideia ao Instituto Martinelli Solidariedade, começamos em 2013 o projeto Internauta Legal. O Instituto Martinelli Solidariedade é o braço social do Martinelli Advogados, fundado em 2008 em Joinville (SC), que reúne centenas de voluntários e doadores com o objetivo de realizar ações nos campos da saúde e da educação com foco em crianças e adolescentes.
O início foi bastante difícil e trabalhoso: como o próprio Direito Digital ainda era algo pouco difundido, criamos por conta própria todo o material e metodologia a serem usados nas palestras. Também pesou o público-alvo: estava claro que deveríamos priorizar crianças e adolescentes, não somente por serem o futuro e por estarem mais expostos, mas também porque, convenhamos, eles entendem melhor e assimilam novas informações com muito mais facilidade que a maioria de nós.
Mas como fazer com que um público-alvo tão elétrico, informal e impaciente assistisse a uma palestra? Desenhei todo o projeto para que pudesse ser apresentado de forma didática, dinâmica e descontraída, dando o máximo de espaço possível para a participação e sempre mostrando aos jovens o quão importantes eles são, não apenas para nós, mas também para o mundo. Assim, criamos o modelo do projeto Internauta Legal, que realiza palestras gratuitas para alertar jovens e pais sobre os crimes na internet e orientar a forma correta de agir. Com os ataques cibernéticos, invasões e vazamento de dados e fotos, a segurança na rede é um tema cotidiano, especialmente no uso de smartphones. Além disso, há frentes de conteúdo preventivo de combate à pedofilia, combate a abusos e cyberbullying.
Hoje o Projeto é muito maior e melhor do que quando começamos, e muito disso se deve ao trabalho de todos os voluntários, que renunciaram a muitas coisas fazendo as apresentações, atualizando e aprimorando os materiais. Também pesaram de forma positiva os valores que defendemos desde o início: todo voluntário que deseje ser "palestrante" tem a liberdade de fazê-lo da forma que lhe for mais agradável, pois isso facilita na hora de entregar excelência ao apresentar o tema. Graças a isso, hoje temos voluntários qualificados para lidar com cada tipo de público e local: atendemos crianças, adolescentes, pais, profissionais da área da educação, escolas públicas e particulares, centros comunitários, igrejas e templos de todo tipo, e já tivemos experiências até mesmo na Câmara de Vereadores.
Atualmente, o desafio tem sido apresentar o conteúdo com a mesma qualidade, apesar das restrições impostas pelo distanciamento. Nessas horas, a criatividade é uma necessidade e a busca pela empatia, que já era lei nos encontros presenciais, tem sido nossa maior aliada. Recursos visuais - camisas temáticas, planos de fundo e a inserção de imagens - e linguísticos têm sido cruciais para nos aproximar do nosso principal público-alvo. Os efeitos são notáveis e mesmo com a distância, eles se sentem próximos, tendo alguém que entende o mundo deles e está disposto a ouvi-los.
Ao longo de sete anos de "palestras", essa tem sido a maior constante: o fato de ter alguém disposto a ouvi-los e entendê-los faz toda a diferença, tanto que muitas vezes eles nos procuram para desabafar, pedir conselhos ou mesmo ouvir nossa opinião sobre assuntos que não têm nada a ver com o tema.
Ao fim de tudo, nosso trabalho é extenuante, mas infinitamente recompensador. Quiçá nossos esforços possam ajudar esses jovens a fazer de nosso futuro tão extraordinário quanto eles são. É nisso que acreditamos e que faz tudo valer a pena.