A importância de se realizar treinamentos internos passou a ganhar repercussão a partir da propagação da cultura do Compliance, cujo mantra pode ser resumido como "treinar, treinar, treinar". Ou seja, a partir da criação de um material para instruir os colaboradores e a aplicação de treinamentos contínuos, com ou sem aplicação de testes de conhecimento posteriores, a instituição não somente se cerca dos cuidados para provar que cuidava da "cultura de adequação", bem como acaba por produzir e difundir conhecimentos e boas práticas.
Inspirado por esse cenário, comecei a depurar os problemas de alguns resultados ruins de processos de cobrança, e fui verificar a causa raiz dos mais emblemáticos. O resultado? Documentos de suporte mal preenchidos, modelos utilizados erroneamente e edições precárias que acabam por prejudicar todo o processo. E daí vem o mais importante: a ação, momento que cumpre fazer uma breve reflexão: é muito fácil atribuir a responsabilidade pelo insucesso de determinada medida à terceiros, quase se escorando na teoria da culpabilidade de Homer Simpson: "a culpa é minha e eu ponho em quem eu quiser". O certo contudo, é refletir sobre a dificuldade de acesso ao conhecimento jurídico, que fora da faculdade de Direito é compartilhada somente em alguns cursos e em grande superficialidade.
Diante dos diferentes níveis de conhecimento jurídico, a melhor saída é conversar com os gestores decisores a fim de explicar que o custo de treinar, especialmente se for somente de homem-hora, é bem menor do que o custo de errar e insistir no erro, e, ainda mais, entrar no ciclo de demissão, contratação e aguardo pela curva de aprendizado. E quem pode e deve ensinar? O advogado, oras.
Verdade seja dita, nem todo advogado tem aptidão para o treinamento e o ensino, mas aqui não se está falando de uma plateia tecnicamente qualificada que terá um grande julgamento de mérito, mas sim uma plateia que, presume-se, tem interesse de continuar fazendo o que faz melhor, mais rápido e forma mais eficiente.
Assim, a primeira dica é fazer uma inversão de papéis, praticando a empatia: como passar aquele conteúdo pretendido para um público diversificado? Tive um chefe que me dizia: me explique como se eu tivesse cinco anos. Exageros à parte, a ideia é válida: explicar o assunto como se estivesse falando com adolescentes ou pós adolescentes: de forma rápida, objetiva, com linguagem prática e com uma cadência descontraída. Afinal, se comunicação é a arte do interlocutor de transmitir uma mensagem ao receptor, não adianta impor a pompa e circunstância do transmissor, ou seja, do advogado, ao público leigo. Traduzindo: só vai funcionar se os jargões jurídicos e o tecnicismo forem deixados do lado de fora do treinamento.
E quais são os resultados dessa prática? Além do resultado pretendido, alguns efeitos colaterais poderão ser sentidos: uma maior aproximação do jurídico com áreas que geralmente não tem muito acesso aos advogados, fortalecendo ou até mesmo criando um relacionamento profissional diferenciado; um desenvolvimento do advogado expositor em relação à arte de falar em público, podendo até descobrir uma vocação ou uma paixão (como foi meu caso) e por fim a chance de descobrir outras lacunas e problemas existentes no processo como um todo, fortalecendo a prática não só jurídica, mas da empresa como um todo, papel do jurídico moderno. O ganha-ganha perfeito.
Então, a solução passa necessariamente por treinar, estudar o que se vai ensinar e crescer junto dos demais colegas, pois conhecimento é a única coisa que quando dividida, se multiplica.