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Análise

Advogado corporativo: os desafios de ser gestor

Por Elias Marques de Medeiros Neto, diretor executivo jurídico da Rumo S/A

9 de September de 2020 8h

O advogado integrante de um departamento jurídico de uma empresa continua sendo um advogado?

É claro que sim. O advogado de empresa é advogado, antes de tudo. E ainda carrega consigo o desafio de ser um gestor, dominar a linguagem do business da empresa e facilitar, dentro das regras legais e das normas gerais de compliance, a realização dos negócios desenhados para a companhia.

Dentro dessas premissas, podemos afirmar que o desafio do advogado corporativo é considerável, pois além de dominar técnicas próprias do Direito, ele deve se desenvolver, e muito, na linguagem e nas ferramentas de gestão.

Esse desafio se intensifica no universo 4.0, no qual se abrem diversos canais de soluções modernas e rápidas, inclusive de inteligência artificial e tendências de jurimetria, tudo de modo a se evitar que tarefas repetitivas consumam muito tempo e demandem considerável headcount, bem como para facilitar a solução de atividades jurídicas complexas. As ferramentas hoje disponíveis no mercado, dentro desse novo universo podem ser exemplificadas no site da AB2L.

Um dos grandes objetivos dessas ferramentas utilizadas no âmbito da indústria 4.0 é possibilitar um tratamento mais célere para as atividades repetitivas, bem como viabilizar um efetivo e seguro tratamento de dados mais sofisticado, facilitando-se a atividade do advogado nas tarefas jurídicas mais complexas.

E se espera, em um determinado tempo, que as ferramentas mais qualificadas tenham as seguintes qualidades: habilidades cognitivas; habilidades de sistema; capacidade de resolução de problemas complexos; habilidades de conteúdo; habilidades de processo; habilidades sociais e em gestão de recursos.

Não há dúvida que as tarefas mais repetitivas serão naturalmente afetadas na medida em que estivermos mais familiarizados com essas soluções tecnológicas.

Assim como podemos afirmar que também deve crescer no moderno e desafiador mundo corporativo a demanda por profissionais qualificados, que dominam técnica jurídica, gestão de negócios e princípios e ferramentas da nova indústria.

Para sobreviver nesse complexo universo, o advogado deve dominar regras do Direito em geral. Deve aprender a dialogar com as ferramentas do universo digital, ser útil em atividades complexas e auxiliar na tomada de decisões jurídicas refinadas.

Por outro lado, esse profissional deve se dedicar à cultura de negócios da empresa, ser próximo das bases operacionais da companhia e traçar elos de parceria entre o mundo jurídico e o mundo da administração.

Deve aprender a ser um gestor jurídico eficiente, que domina atividades de gestão, adota a linguagem corporativa, sem deixar de se atualizar nas questões jurídicas.

O advogado que não dominar técnicas de gestão poderá não ter espaço em um cenário corporativo cada vez mais demandante por profissionais de negócios e que tenham habilidades típicas da administração de empresas. Por outro lado, o gestor jurídico que não dominar as técnicas do Direito pode não ter a força necessária para dialogar com as sofisticadas ferramentas da indústria 4.0. Sem, portanto, o drive de comando para a tomada de decisões em casos que exijam crítica e qualidade técnica.

Não se pode nunca acreditar que o advogado de empresa pode encontrar em escritórios de advocacia terceirizados a eterna e ilimitada solução para as questões técnicas de seu dia a dia jurídico. Deve-se lembrar que departamentos jurídicos também tem desafio de orçamento, sendo que a organização da empresa espera, naturalmente, que o seu próprio departamento tenha condições, em muitas das situações ordinárias, de opinar e dar o endereçamento necessário na tomada de decisões.

Por isso, o advogado de empresa é advogado, além de ter o desafio de ser gestor. E por essas primeiras impressões, essas duas qualidades - a da advocacia e a da gestão - serão requisitos básicos de sobrevivência do advogado corporativo da 4ª Revolução Industrial.

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