Há alguns meses, enquanto brindávamos a chegada de 2020, ninguém poderia imaginar que iniciávamos ali o ano que mudaria de vez a humanidade como a conhecíamos. Não é exagero dizer que estamos vivendo um momento sem precedentes para a nossa geração e que a pandemia do novo coronavírus, para além de uma questão de saúde pública, será um divisor de águas na maneira como nos relacionamos, como (e o que) produzimos, como nos deslocamos, o que consumimos - ou seja, a maneira como vemos e como nos comportamos no mundo. Viveremos um processo mais acelerado de transformação comportamental e social e ela exigirá de nós uma capacidade ainda maior de ação e reação.
Curiosamente, embora saibamos que nós seremos diferentes e que o mundo será diferente, temos grandes incertezas, seja sobre quando ou como esse momento será superado (não temos como saber quando teremos uma vacina, de que forma teremos o controle das infecções), seja sobre como as economias irão reagir ao mundo após a passagem da crise sanitária mais aguda. Como se vê, a única certeza que temos, por incrível que pareça, é justamente a de que a crise sanitária irá passar, e que a vida, com certeza, será outra. Conheceremos e seremos responsáveis por criar o "novo normal".
É preciso comunicar e dialogar
Nesse oceano de incertezas, em que projeções são muito imprecisas, a inclinação natural é entrarmos no "modo sobrevivência", buscando administrar e superar as dificuldades do dia ou de curtíssimo prazo, esperando que o dia seguinte seja melhor e que a crise naturalmente arrefeça. Não é nessa inclinação natural, porém, que acredito. Esse momento de dificuldades e incertezas demanda ação e união, combinação que nos fará vencer mais rapidamente a crise e construir uma nova realidade de vida ainda melhor do que aquela que tínhamos antes de passarmos por este turbilhão. É essa combinação que nos coloca diante de algumas conquistas importantes já consolidadas, incluindo a criação de um movimento de empresas que assumiram o compromisso de não demitir durante a crise e a união de centenas de empresas que, juntas, já anunciaram doação de mais de cinco bilhões de reais para ajudar os brasileiros a superarem a pandemia.
O sucesso da conjugação entre ação e união num ambiente de grandes incertezas demanda certamente a utilização de múltiplas ferramentas, que vão desde tecnológicas e científicas até psicológicas. E sem minimizar a importância de qualquer das ferramentas, tenho convicção de que uma das mais importantes será a comunicação. Mais do que comunicar, a importância de "over-communicate", de modo a criarmos pequenas ilhas de certeza nesse oceano de incertezas e, com isso, irmos moldando o nosso "novo normal".
O que chamo aqui de "over-communicate" abrange duas dimensões: escopo e público. Precisamos ter muita abrangência nessas duas dimensões. Apresentar nossos planos, nossas ações, nossos sucessos e insucessos; dialogar sobre nossas necessidades e entender a necessidade do outro. E a partir do diálogo e da comunicação, entender onde as ações das múltiplas partes podem ser convergentes e potencializar seus resultados. Igualmente, precisamos dialogar com todas as partes interessadas, sejam nossos familiares, vizinhos, colegas de trabalho, autoridades públicas, clientes, fornecedores, investidores, credores e assim sucessivamente. Tenho exercitado a "overcommunication" e, até aqui, os resultados têm sido positivos.
No uso da ferramenta comunicação tem sido fundamental deixar de lado algumas diferenças neste momento, para que possamos canalizar os esforços na superação da crise. Isso não significa ignorar diferenças ou minimizá-las, mas sim, com respeito a todos os entendimentos, reconhecer que agora temos todos um objetivo comum: vencer a pandemia.
Para que consigamos atingir a união positiva, precisamos ter abertura para a compreensão, solidariedade e empatia. E, aqui, o empresariado brasileiro tem exercido um papel relevante e pode continuar a contribuir de forma determinante.
Para as empresas que tenham condições de contribuir, é grande a responsabilidade de retribuir à sociedade aquilo que ela proporciona aos negócios. A economia, não nos esqueçamos, precisa de pessoas - gente que dedica sua vida, todos os dias, ao sucesso das organizações em que trabalham. É por isso que, dentre as empresas onde reter talentos é possível, é responsabilidade manter o quadro de colaboradores e respeitar o compromisso com o futuro. Aqui, destaco o movimento #nãodemita, que uniu empresários e empresas com o compromisso de não demitir durante a crise. A Suzano acredita que é parte de seu papel como empresa, e por isso é uma das signatárias do movimento.
É também responsabilidade dos empresários e grandes líderes, sempre quando possível, assumirem voz ativa na promoção da solidariedade entre as empresas e no fortalecimento de parcerias com os poderes públicos. Juntos, devemos apoiar o sistema de saúde para que não faltem materiais para salvar as vidas das pessoas. Mas não é só isso. É dever, também, promover todas as ações necessárias para garantir a saúde e segurança dos colaboradores, por um lado, e a discussão do futuro que queremos construir, por outro.
Acredito que o grande legado que devemos construir a partir desse momento único da humanidade moderna virá, portanto, da ação, da união, da comunicação e da empatia. Há muito a ser ajustado, corrigido e pensado e, para que os próximos anos não sejam uma extensão dramática do que temos vivido desde o começo de março, mas sim um mundo melhor do que aquele vivemos pré-Covid, precisamos ir além. A responsabilidade está na mão de cada um de nós.