O Brasil já encabeça a lista do país com mais advogados e advogadas do mundo, segundo o mais recente levantamento publicado em dezembro de 2023 pela da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da International Bar Association (IBA), entidade que reúne profissionais e entidades de advocacia de todo o mundo. Nada não, o país tem 1,4 milhão de profissionais do Direito, o que representa uma média de um (a) advogado (a) para cada 145 nacionais.
De certo que carregar a titulação de advogado (a), regularmente inscrito na OAB, já lhe atribui um predicativo de status e uma certa "superioridade" dentre de uma honestidade necessária e desvestida de hipocrisia, uma vez que representa a defesa dos direitos de quem está numa situação de ameaça ou lesão.
No entanto, o fantástico mundo das redes sociais, mormente o Instagram, vem apresentando uma advocacia mística inexistente e recheada de elementos de suntuosidade.
A jovem advocacia brasileira está entusiasmada, para não dizer contaminada mesmo, pelo efêmero sucesso e riqueza financeira que a profissão mais bela de todos pode lhe proporcionar. Fórmulas milagrosas brotam a todo instante em perfis de outros "colegas", que prometem divulgar a misteriosa e rara receita do sucesso na advocacia. Sim, isso mesmo!
No entanto, tal compromisso divulgado se apresenta disfarçado de cursos ou mentorias que até então lhe são tão óbvias, mas que foi necessário um ser iluminado capaz de descortinar o caminho até o pote de outro no fim do arco-íris. E lhe digo uma coisa, o cardápio milagroso é para todo gostou viu!
Imagens instagramáveis em aviões e barcos caríssimos; hotéis e resort luxuosos; relógios e joias caras; vêm sendo a melhor propaganda para a venda desta prosperidade na vida advocatícia. Claro que há um mercado interessante para quem formula tal prática mercantilista de alcance do topo da carreira em um tempo meteórico. Justamente aqui, que os jovens advogados e advogadas ansiosos embarcam nesta armadilha de uma fácil recompensa profissional.
A advocacia requer dedicação e persistência, o que se traduz em custo de oportunidade por meio da linha temporal de nossas vidas. Esse "custo de oportunidade" é o que chamamos também de experiência ou expertise. Até que me provem o contrário, nenhum profissional da advocacia alcança a estabilidade mínima da profissão com menos de 10 anos.
Espacialidade essa suficiente para a maturação de quem necessita saber peticionar, despachar com juízes, realizar sustentação oral, elaborar um recurso para instância superior e todos os demais atos pertinentes ao exercício de uma advocacia militante.
Essa verdade acima que é inconteste e inelutável, jamais vai aparecer na rede Instagram pela simples lógica de que não é vendável ou comercial. Avalio que um dos grandes equívocos dos colegas iniciantes da profissão é eleger uma inspiração profissional pelo status de luxo e requinte publicizado no perfil, e não pela sua produção acadêmica ou cases de sucesso do seu escritório.
Ah nobres colegas, não pensem que essa divulgação midiática seja gratuita, pois há toda uma arquitetura desenhada para captar clientes (advogados e advogadas) em potencial, seja para a compra das famosas mentorias ou até mesmo para "legitimar" seu perfil com milhões de seguidores e engajamento orgânico.
De certo que vez ou outra, o noticiário nacional veicula matéria sobre golpes envolvendo a promessa do sucesso na representação da causa ou mesmo pessoas se passando por membros da advocacia brasileira, o que já caracteriza o crime de falsidade ideológica para começar. O exercício da advocacia é emoldurado de incerteza, sensação essa que impulsiona esse ilusório mercado milionário da "advocacia fácil e de sucesso".
Passado mais de uma década na advocacia, ainda quando não existia um judiciário virtualizado, a única certeza de que posso passar aqui é que não há essa sonhada advocacia glamourosa, tudo é uma mística construída como alavanca financeira de um terceiro sobre o sonho de milhões de jovens advogados e advogadas.
Frederico Cortez é advogado, bacharel em direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor), sócio-fundador do escritório Cortez & Gonçalves Advogados Associados. Especialista em direito empresarial com foco em negociação contratual, fusão, dissolução ou incorporação de negócios. Profissional reconhecido na área de proteção de marca empresarial, conforme a Lei de Propriedade Industrial. Entusiasta do direito digital e Co-fundador do Instituto Cearense de Proteção de Dados - ICPD Protect Data, entidade com a finalidade de implementar a Lei Gera de Proteção de Dados em empresas privadas e órgãos públicos. Autor de diversos artigos jurídicos sobre a LGPD. Assessor jurídico na Secretaria de Desenvolvimento Social do município de Caucaia-Ce.
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