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Cinco dicas importantes para o respeito a talentos LGBT+ dentro dos escritórios

Por Lívia Moraes, advogada do escritório Barcellos Tucunduva Advogados

27 de August de 2020 8h

O mundo da advocacia é, via de regra, tradicional e conservador. Advogados vestindo terno enquanto a temperatura ultrapassa os 30 graus, estantes lotadas de livros empoeirados e formalidades de todos os tipos são algumas das características ainda existentes nesse mercado de trabalho.

A inclusão da comunidade LGBT+ nesse cenário, portanto, encontra diversos entraves: a sensação de não pertencimento ao ambiente, a necessidade de permanecer "dentro do armário" como forma de sobreviver a um ambiente padronizado e heteronormativo, entre outras questões. Para buscar evitar situações como essas, seguem algumas dicas importantes para praticar o respeito a talentos LGBT+ dentro do seu escritório de advocacia.

Criação de comitê interno

A informação é a base para o respeito. Muitas vezes o comportamento ou a fala homofóbica ou transfóbica são reproduzidos sem consciência. A criação de um comitê interno de diversidade que faça treinamentos e aborde as mais diversas pautas da comunidade LGBT+ faz com que o conteúdo atinja a todos os integrantes do escritório para que, quando for o caso, percebam a inadequação de alguns de seus comportamentos e falas. O comitê garante também ao talento LGBT+ um lugar de segurança, no qual consegue identificar aliados e pares, de forma a estruturar uma rede de apoio.

Empatia

É importante que o escritório como instituição entenda que um talento LGBT+ pode ter demandas diferentes dos demais colaboradores. Muitos estão em processo de autoaceitação, não possuem apoio familiar, sofrem agressões, são expulsos de casa, enfrentam a depressão, a ansiedade e/ou, no caso dos transexuais, disforia e processo hormonal. Essas demandas, por óbvio, podem afetar o desempenho desse profissional, que precisa provar sua valia em dobro em relação ao colega ao lado. A empatia com um advogado ou advogada LGBT+ proporciona um lugar seguro e pode contribuir positivamente para a convivência interna e para a produtividade.

Políticas para o combate de LGBTfobia

Independentemente da disseminação interna de informação e do processo de educação interna dos colaboradores, é imprescindível que o escritório tenha políticas adequadas para combate a LGBTfobia. Uma política bem estruturada, além de dar segurança, ao menos em tese, ao talento LGBT+, pode inibir comportamentos e falas que poderiam ser reproduzidas caso não houvesse uma política de compliance como elemento de controle. Além disso, a existência de uma política determina o posicionamento do escritório contra todo e qualquer comportamento discriminatório.

Uso de nome social e banheiro do gênero de identificação

Não há dúvidas de que um colaborador homem cisgênero que se chama José utilizará o banheiro masculino e será tratado pelos demais como José. Essa questão, no entanto, não é ponto pacífico quando tratamos de transsexuais, não binários e outras identidades de gêneros ainda mistificadas para muitos. Utilize sempre o nome social do colaborador e permita que ele utilize o banheiro do gênero com que se identifica. Comportamentos contrários são discriminatórios. Seu colaborador que se apresentou como João é João, e não há nada que mude esse fato.

Respeite a privacidade de seu talento e seja um aliado

Nunca exponha ou "tire do armário" a pessoa LGBT+. O processo de se assumir é individual e deve ser conduzido apenas pela própria pessoa, por ninguém mais. Ninguém apresenta um amigo a outro como "Oi, esse é meu amigo Rafael, homem hétero cisgênero"; seguindo o mesmo raciocínio, não há motivo para que isso seja feito com uma pessoa LGBT+.

Aos aliados, o papel é de suporte e parceria. Esteja presente com o seu colega LGBT+ pois, por mais que você não entenda como é a dor de seu colega, um ombro e uma escuta amiga podem salvar uma vida.

Essas são apenas algumas dicas gerais para tornar os escritórios de advocacia ambientes mais seguros para talentos LGBT+. O assunto é passível de aprofundamento e desdobramentos em cada uma das letras dessa sigla de uma comunidade ainda tão marginalizada e em cada indivíduo com a sua subjetividade. Tratar internamente de diversidade e inclusão não é mais opção, é pré-requisito.

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