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Especialistas não descartam uma eventual fusão entre Latam e Azul

Por Simone Kafruni (Correio Braziliense)

9 de October de 2020 11h42

Apesar de Azul e Latam negarem que uma fusão entre as duas companhias estaria em estudo, após anunciarem o compartilhamento de voos em 16 de junho, especialistas do setor aéreo não descartam essa possibilidade. As empresas têm um acordo de codeshare em rotas domésticas e sem sobreposição. A Azul reconhece que, talvez, seja necessário estender esse acordo para abranger todas as rotas domésticas. ;Mas não tem conversa sobre fusão;, garantiu ontem Marcelo Bento, diretor de Relações Institucionais da Azul.

;O que temos é o acordo de codeshare. Evidentemente, há intenção de estender para abranger todas as rotas domésticas. O que apresentamos para o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) foi isso. Pode ser que valha a pena expandir para todas as rotas;, disse Bento. Segundo ele, o principal objetivo é a retomada. ;Nenhuma empresa do mundo vai conseguir retomar o tamanho que tinha. O codeshare permite que a gente encolha sem encolher tanto;, ressaltou.

A ideia, com o acordo entre as duas companhias, é ;uma se apoiar uma na outra;. ;Sempre tivemos superposição muito pequena. A Latam foca no tronco para conectar sua operação internacional. Nós temos uma característica regional, com mais capilaridade. A empresas são complementares;, afirmou Bento.

Em nota, a Latam disse que, neste momento, está focada em tornar a sua operação ainda mais eficiente e alinhada às necessidades de seus clientes. ;Neste sentido, o acordo de codeshare com a Azul já é um passo bastante importante. Inclui, inicialmente, 50 rotas domésticas não sobrepostas de/para Brasília, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Campinas , Curitiba e São Paulo (GRU), oferecendo aos clientes uma vasta possibilidade de novas e mais convenientes oportunidades de conexão. Os codeshares também irão possibilitar uma experiência de viagem mais tranquila entre os voos da Azul e Latam, com bilhetes compartilhados para check-in e despacho de bagagem.;

No entender de Eric Hadmann, advogado do Gico, Hadmann e Dutra Advogados, especialista em regulação e direito econômico, se há algo no Cade, a possibilidade de fusão não é totalmente descabida. ;Tradicionalmente, um acordo de codeshare que não tem nenhuma sobreposição não é de notificação obrigatória ao Cade. Inclusive, há um dispositivo na lei segundo o qual acordos de joint venture enquanto durar a pandemia não precisam ser notificadas;, ressaltou.

No entanto, completou Hadmann, em 24 de junho, o Cade mandou um ofício para as empresas. ;A resposta foi sigilosa;, assinalou. ;Isso pode ser um prenúncio de fusão, tanto que ao ser indagado, o CEO da Azul foi evasivo. Quando isso ocorre não é sim nem não.;

Para Ana Tereza Basilio, sócia do escritório Basilio Advogados, o codeshare é um passo inicial para quem está avaliando uma futura fusão. ;É uma fase preliminar de fusão. As empresas vão compartilhar 50 rotas e são complementares. Uma fusão daria mais capilaridade à Latam e mais consistência à Azul;, avaliou.