O advogado e a inteligência artificial: Parceiros na Justiça | Análise
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O advogado e a inteligência artificial: Parceiros na Justiça

Por Fernando Rosenthal, sócio do Rosenthal & Guaritá Advogados

21 de October 10h58

Da gestão de processos ao contato com o cliente: Por que a IA é ferramenta, e não substituta.

A centralidade do advogado na defesa dos direitos

O advogado ocupa papel insubstituível na sociedade contemporânea. É  ele quem interpreta normas jurídicas, articula argumentos, humaniza  causas e dá voz a pessoas que, sozinhas, não teriam condições de  enfrentar a complexidade do sistema judicial. A advocacia não é apenas  técnica: exige empatia, sensibilidade, estratégia e criatividade. Esses  elementos são inseparáveis da atuação profissional e não podem ser  replicados por algoritmos. Mais do que aplicar a lei, o advogado  identifica nuances em cada caso, compreende o contexto social, cultural e  emocional das partes e formula estratégias jurídicas individualizadas. A  essência da advocacia reside no raciocínio crítico e no compromisso  ético, atributos que vão além da capacidade de processamento de dados.

A inteligência artificial como acessório de valor

Se, por um lado, a inteligência artificial não pode substituir o  advogado, por outro, ela se mostra uma aliada poderosa. Aplicativos de  IA já otimizam pesquisas jurisprudenciais, automatizam tarefas  repetitivas e oferecem resumos de documentos extensos em segundos. Isso  libera tempo para que o advogado se concentre no que realmente importa: a  defesa qualificada de seu cliente. A inteligência artificial também  auxilia na organização de provas, na busca de documentos fraudados, na  simulação de cenários processuais e até na análise de grandes volumes de  dados, algo que seria impraticável manualmente. Assim, a tecnologia não  elimina a relevância do profissional, mas amplia sua capacidade de  atuação.

A aplicação no contencioso de volume

Um dos campos em que a inteligência artificial mais demonstra  utilidade prática é o contencioso de volume. Escritórios e departamentos  jurídicos que lidam com milhares de processos simultâneos - como os  envolvendo bancos, empresas de telefonia, de transporte aéreo e planos  de saúde e seguradoras - encontram na IA uma ferramenta estratégica para  lidar com a alta demanda. Softwares alimentados por inteligência  artificial conseguem: Identificar padrões repetitivos em decisões  judiciais; Classificar processos por grau de risco e relevância; Sugerir  minutas padronizadas para casos semelhantes;  Automatizar o  acompanhamento processual, reduzindo o tempo gasto em tarefas manuais.  Esse suporte tecnológico permite ao advogado garantir maior qualidade na  defesa e eficiência na gestão de milhares de ações. Em vez de  desumanizar a advocacia, a IA contribui para que os profissionais  consigam equilibrar volume e profundidade, entregando resultados mais  consistentes em menor tempo. Apesar da eficiência da inteligência  artificial no contencioso de volume, é imprescindível destacar que a  tecnologia não substitui a relação direta entre advogado e cliente. Em  litígios massificados, muitas vezes os clientes sentem-se reduzidos a  números ou estatísticas. É justamente aí que o advogado reafirma sua  importância: ouvir, acolher e orientar cada cliente de maneira  individualizada. A confiança nasce do contato humano, da empatia e da  segurança transmitida por quem compreende não apenas a lei, mas também a  realidade concreta vivida pelo cliente. A inteligência artificial pode  sugerir uma minuta ou classificar processos, mas não consegue transmitir  a sensação de amparo, nem assumir a responsabilidade ética de orientar e  defender uma empresa ou pessoa  em juízo. Portanto, no contencioso de  volume, a melhor equação é clara: IA como ferramenta de gestão e  advogado como agente humano de defesa. Essa integração garante  eficiência sem perder de vista a essência do Direito - proteger direitos  e promover justiça de forma justa e personalizada.

Convivência harmônica e complementar

A advocacia e a inteligência artificial não devem ser vistas como  rivais, mas como complementares. Enquanto a IA garante agilidade,  eficiência e acesso à informação, o advogado garante humanidade, ética e  interpretação crítica. Juntos, formam uma combinação que eleva a  qualidade do serviço jurídico prestado, tornando-o mais acessível,  rápido e eficaz. O futuro não é do advogado ou da IA isoladamente, mas  do advogado fortalecido pela inteligência artificial, utilizando-a como  instrumento para ampliar sua performance, sem jamais abrir mão do  elemento humano que dá sentido ao Direito.