Uma década de Jurídico Sem Gravata: histórias, livro e festa | Análise
Análise

Uma década de Jurídico Sem Gravata: histórias, livro e festa

Após dez anos de atuação, os fundadores do JSG refletem sobre o legado da "gravata mental" e os novos rumos do setor

26 de September 10h35

Há dez anos, um movimento ousou desafiar as estruturas e formalidades do universo jurídico-corporativo brasileiro. O que nasceu como uma iniciativa para "tirar a gravata mental" — ir além do tecnicismo e dos formalismos excessivos — se tornou um dos grupos mais influentes do setor. Hoje, o Jurídico Sem Gravata (JSG) celebra sua primeira década de existência com um legado consolidado, o lançamento de um livro, uma grande festa aberta à comunidade e, sobretudo, a convicção de que a advocacia do futuro não cabe mais nas antigas amarras.

De lá para cá, o JSG deixou de ser apenas um ponto de encontro entre jovens advogados inquietos para se tornar referência em debates sobre inovação, diversidade, gestão e comunicação no setor jurídico. O grupo ajudou a popularizar uma nova forma de atuação, menos hierárquica e mais conectada às necessidades das empresas e da sociedade, consolidando-se como um espaço de troca autêntica e transformadora que atravessou gerações de profissionais.

O livro e a festa: marcos da celebração

O ponto alto da comemoração será o lançamento de um livro que compila artigos assinados por integrantes do grupo. Mais do que uma retrospectiva, a obra se propõe a ser um guia prático para advogados que buscam se alinhar às demandas do futuro, abordando temas como gestão de carreira, inovação, diversidade e impacto social — pilares que norteiam o JSG desde sua fundação.

A tradicional festa de fim de ano, já conhecida no calendário da advocacia corporativa, ganhará em 2025 uma edição especial. O evento será realizado em um espaço maior para acolher associados, parceiros e a comunidade jurídica e empresarial. "Queremos reforçar o espírito de abertura, diversidade e conexão que sempre norteou o JSG: um espaço democrático, inclusivo e de construção coletiva", afirma Gianfranco Cinelli, cofundador do grupo.

O início e os desafios de uma década

Para o diretor-presidente do JSG, Flávio Franco, o começo foi o período mais desafiador.

"Era uma iniciativa inovadora, e os fundadores estavam convencidos da relevância do tema, mas ainda éramos jovens, menos seguros quanto ao sucesso e à aceitação da proposta", relembra.

Como toda iniciativa voluntária e associativa, o JSG enfrentou incertezas em relação ao engajamento e à sustentabilidade do projeto. A estruturação como associação sem fins lucrativos, somada à seleção criteriosa de membros que pudessem agregar valor efetivo, foi decisiva para a perenidade do movimento.

A superação veio com a repercussão positiva entre colegas e empresas. "À medida que percebemos a repercussão positiva no mercado, ficou claro que estávamos no caminho certo", destaca Franco, que compara o grupo a "uma banda que sobreviveu ao terceiro disco" — metáfora para o desafio de manter relevância mesmo após o entusiasmo inicial.

O que significa "desengravatar"

Se no começo a provocação principal era tirar a gravata física, rapidamente ficou claro que a proposta ia além do vestuário. "Não temos nada contra a gravata física. O que combatemos há 10 anos é a ‘gravata mental’ que muitos advogados ainda insistem em manter", explica Franco.

Desengravatar, na prática, significa simplificar a comunicação jurídica, posicionar-se como parceiro do negócio, ouvir ativamente, adotar novas tecnologias e abraçar a diversidade. É, sobretudo, abandonar formalismos excessivos em prol de uma atuação mais estratégica, pragmática e conectada à realidade empresarial.

Gianfranco Cinelli aponta a comunicação como o maior desafio ainda a ser superado. 

"Muitos advogados acreditam que se expressam bem, mas poucos conseguem traduzir a complexidade jurídica em linguagem acessível ao negócio e, sobretudo, ouvir com real atenção", observa.

De diferencial a requisito de sobrevivência

O discurso do JSG evoluiu ao longo dos anos. Se em 2015 desengravatar era um diferencial competitivo, em 2025 tornou-se requisito de sobrevivência. "O mercado exige advogados que simplifiquem o direito, se posicionem como parceiros estratégicos e estejam abertos a novas tecnologias e à diversidade", afirma Franco.

Essa evolução também ampliou o público do grupo. Inicialmente focado em departamentos jurídicos de grandes empresas, o JSG hoje dialoga com profissionais de escritórios de advocacia, consultorias e do ecossistema de tecnologia jurídica, entendendo que a sintonia entre todos esses atores é fundamental para o sucesso corporativo.

O futuro sem gravata

Se a primeira década foi marcada pela consolidação do conceito de "tirar a gravata mental", os próximos dez anos serão voltados à expansão qualificada. A meta, segundo Gianfranco Cinelli, é preservar a essência do grupo como um espaço de troca autêntica, pragmática e transformadora, enquanto amplia sua influência no setor.

O legado ideal já está desenhado: consolidar um novo paradigma em que a atuação jurídica seja, naturalmente, humana, colaborativa e indispensável para empresas e sociedade. "Mais do que celebrar o passado, estamos olhando para o futuro. Em dez anos, esperamos que a proposta ‘sem gravata’ não seja mais vista como ruptura, mas como modelo natural de atuação", projeta Cinelli.

A jornada do Jurídico Sem Gravata demonstra que, embora o caminho ainda seja longo para disseminar essa mentalidade por todo o Brasil, a semente plantada há uma década floresceu, transformando a maneira como o direito e os negócios se relacionam. E, a julgar pelos próximos passos, essa história ainda está longe de terminar.

Flávio FrancoGianfranco Fogaccia CinelliJSGJurídico Sem Gravata