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Transição e sucessão nas bancas: como lidar?

Escritórios e advogados admirados revelam como é lidar com a mudança das diretorias e a aposentadoria de sócios fundadores e ‘naming partners’

9 de November de 2023 13h55

Um dos desafios que ronda a gestão de bancas tradicionais do mercado jurídico empresarial é a sucessão e a transição de lideranças diante da aposentadoria de sócios fundadores ou naming partners - aquele advogado que batiza a banca com o seu nome.

Isso porque a gestão dos escritórios de advocacia historicamente era feita de forma muito pessoal, tendência essa que têm se quebrado diante da crescente percepção da atividade jurídica como um business, que precisa de modelo e técnica, além do conhecimento teórico, para funcionar.

A transição de gerações, apesar de ser uma das demandas da gestão do negócio, ainda é insipiente na maioria dos escritórios: em 2023, 84% das bancas do país ainda não têm uma regra formalizada para aposentadoria dos seus advogados, dado obtido na pesquisa do especial ANÁLISE DIVERSIDADE E INCLUSÃO 2023.

Duas bancas que divergem dessa estatística são o Gaia Silva Gaede Advogados, o GSGA, e o Barbosa, Müssnich Aragão Advogados, conhecido pela sigla BMA. Ambas têm sede em São Paulo e são eleitas Mais Admiradas no anuário ANÁLISE ADVOCACIA.

"O escritório se preparou bastante para a aposentadoria do Fernando Gaia", conta Enio Zaha, um dos sócios fundadores do GSGA. Esse processo se espelhou no de aposentadoria de outro naming partner da banca, Severino Silva. "Ambos integram o nosso Conselho Consultivo e seguem nos ajudando a orientar certas posturas do escritório, são consultados em temas estratégicos e ainda participam de importantes ações", conta o sócio.

Para ele, o sucesso da estratégia de transição e sucessão é a banca ter regras claras sobre a data-limite da aposentadoria, "que sejam bem compreendidas e defendidas por todos os sócios". Outro ponto que Zaha levanta é a postura de quem está saindo da ativa. "Quanto mais centralizador for o sócio que está em vias de se aposentar, maior o desafio."

No BMA, o sócio fundador Paulo Cezar Aragão estrá preparando seu processo de aposentadoria. Para a Análise Editorial, ele revela que não está "pendurando as chuteiras" e que continuará contribuindo com a banca, mas de outras formas. 

"Gosto do que tenho feito e entendo que a minha experiência na área, nessas últimas décadas, pode ser útil para a turma mais nova, na linha de dividir com eles o que aprendi em todas as dezenas de operações de que participei", conta o advogado.

Ele compara a transição que está sendo feita na banca com a relação entre pais e filhos. "Acreditar na competência de meus sócios mais jovens é algo como os pais acreditarem na competência dos filhos para morar sozinhos, dirigir carros, empresas e a própria vida".

"Acreditar na competência de meus sócios mais jovens é algo como os pais acreditarem na competência dos filhos para morarem sozinhos, dirigirem carros, empresas e a própria vida", diz Paulo Cezar Aragão, sócio fundador do BMA Advogados.

Confiante na sucessão que a banca tem elaborado, Aragão arremata: "Terei então a certeza de que ajudei a criar uma sociedade bem-sucedida, de advogados competentes e bem-preparados, e que fará o orgulho dos meus filhos, que poderão dizer a netos e bisnetos que eu era o A do BMA".

Além das transições por aposentadoria dos sócios, há também a troca de lideranças, como aconteceu recentemente no Mattos Filho, escritório eleito como um dos Mais Admirados pela Análise desde 2006. Em junho deste ano, a assembleia de sócios elegeu o advogado Pedro Whitaker de Souza Dias como próximo sócio diretor. Ele fará a transição ao lado de Roberto Quiroga, que permanecerá no cargo até março de 2024.

Para que esse processo funcione, a banca aposta em um modelo de governança bastante consolidado na sua cartilha de gestão. "Sempre investimos na formação de novas lideranças de forma a garantir nosso compromisso com uma visão de longo prazo", afirma Quiroga. Segundo ele, esse modelo de transições de liderança existe na cultura da banca há 14 anos.

De acordo com Pedro Whitaker de Souza Dias, o escritório não enxerga dificuldade no processo sucessório de liderança, pois o modelo de governança do Mattos Filho proporciona segurança e transparência aos membros. "É claro que existem desafios inerentes ao negócio, independentemente de momentos de mudança de liderança ou não. Esses desafios são resultado do ambiente econômico, investimentos, etc. Construímos uma trajetória de sucesso ao longo dessas três décadas, e o objetivo é manter a evolução do escritório. Nesse sentido, o maior desafio é continuar desenvolvendo negócios e fortalecer nossa posição como parceiro estratégico de nossos clientes para qualquer demanda jurídica", explica o sócio.

Imagem: Canva
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