Desafios da jornada do advogado júnior em tempos de inteligência artificial | Análise
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Desafios da jornada do advogado júnior em tempos de inteligência artificial

6 de March 8h

O início da carreira jurídica pode ser conflitante por diversos aspectos. Aos olhos do advogado júnior, o tão esperado cargo de sócio pode parecer distante por não visualizar um plano de carreira efetivo.

Segundo a pesquisa da ANÁLISE EDITORIAL, apenas 1% dos advogados eleitos Mais Admirados pelo anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2023 tem até 30 anos, enquanto os advogados acima de 41 anos representam 53% dos admirados. Os dados demostram um maior percentual de admiração nos advogados mais velhos. A falta de admirados jovens pode ser reflexo de diversos fatores, principalmente idade e  definição da área de atuação.

O crescimento da tecnologia pode ser um assunto ameaçador ao jovem advogado. No entanto considerando, que o advogado júnior de hoje é o sócio de manhã, traz um conforto ao gestor da banca entender que atualização e o uso da tecnologia virão por meio do advogado jovem. Paulo Rocha, CEO do Demarest, afirmou o interesse na advocacia jovem.

"Para Advogados, virar sócio a questão é outra, a gente quer pessoas que entrem no escritório se possível, ainda como estudantes, para que dê tempo da gente a colaborar com a formação, colaborar com o aprendizado a os primeiros anos de formado, a gente continua dando muito valor para o prata da casa", declara Paulo

O avanço tecnológico e o uso de IA para auxiliar processos demandas jurídicas têm se tornado cada vez mais comuns. Essa ajuda pode soar intimidadora ao advogado júnior, que muitas vezes depende de experiências como essas para conseguir aprimorar seu talento e adquirir confiança em seu trabalho. Aos olhos dos gestores, unir o advogado júnior, habilitando-o e oferendo qualificações para o uso adequado das ferramentas de IA, juntamente com a tecnologia pode ser crucial para o crescimento tecnológico da banca.

Sávio Andrade,advogado sênior no Machado Meyer, Advogados acredita que progressão do advogado dentro de qualquer banca é avaliada em dois aspectos: Tempo & Experiência. Entretanto existem estratégias que o "júnior" pode oferecer no decorrer da causa por ter mais contato com a tecnologia, enquanto o sênior demoraria dias para conseguir alcançar o resultado desejado. O auxílio da tecnologia pode proporcionar isso.

"A tecnologia nunca vai conseguir substituir o advogado, ela irá transformar a atividade do advogado. O conjunto de atividades que é atribuída ao Junior, pode ser simplificada. O fazer do advogado jr se transforma, junto com a tecnologia, IA e Automação, mas ele continua sendo necessário" Declarou Sávio

Camila FernandaFerreira da Silva, advogada júnior do Machado Meyer Advogados, revela que atuar como Advogada Jr é enriquecedor, permitindo aprender de perto com as histórias e vivências jurídicas de seus superiores. Ela afirma: "Sem dúvida alguma, a experiência, o aprendizado, a agregação de valores e as diversas habilidades que eles podem trazer são inestimáveis".

"O Sávio e a Sara, meus chefes e parceiros, são excelentes líderes que sempre se disponibilizam para esclarecer minhas dúvidas e me orientar no desenvolvimento profissional - e pessoal também, o que, sem dúvida, é uma das melhores formas de contribuição para a carreira de um profissional júnior, afinal, esse tipo de apoio logo no início da carreira é essencial", completa Camila.

André Zanatta, sócio do escritório Barroso Fontelles, Barcellos, Mendonça Advogados, fez uma publicação em seu LinkedIn em busca de Advogados recém-formados. Em uma conversa Zanatta ressaltou a importância desse tipo de contratação e o trabalho do Advogado júnior, dizendo que o olhar individual do advogado recém-formado pode contribuir muito para o coletivo. Ele destacou que a curiosidade e a jovialidade pode ser um fator predominante na contratação.

"Na nossa experiência, advogados recém-formados são extremamente interessados, curiosos, trazem novas ideias, novas perspectivas ao time, gostam de trabalhar em equipe, têm muita vontade de aprender e comprometimento com o trabalho. Além disso, já possuem, em regra, experiência prévia em estágios feitos ao longo da faculdade, o que pode ser útil ao trabalho realizado. Somos um escritório que gosta de investir em pessoas recém-formadas e continuar desenvolvendo sua formação, seja de forma prática, seja acadêmica.", afirmou Fragata

Já o escritório Demarest Advogados carrega uma cultura de valorização de talentos internos em sua trajetória, desde a formação do escritório até os dias atuais da banca. O projeto chamado "D- Futuro", contempla também trainees e assistentes jurídicos. Atualmente, 85% dos advogados da banca são resultado da cultura de valorização e aproveitamento do escritório.

Paulo Rocha é um exemplo da assertividade do projeto. O advogado que já foi eleito Mais Admirado pelo anuário ANÁLISE ADVOCACIA, mais de dez vezes,  entrou no escritório como estagiário em 1993, foi promovido à sociedade em 2003 e assumiu a gestão da banca em 2010, após 17 anos chegou ao cargo de managing partner.

O CEO diz que no começo da carreira é muito o recém-formado ser dominado por um sentimento de espanto, tornando-se normal alguns questionamentos.

"É óbvio que você é a mesma pessoa, mas você de repente você virou advogado. Então você passou de estagiário sénior para um advogado Junior. então você ganha algumas autonomias, incumbências, né?. Eis que você olha para o sócio mais velho, você fala, pô, será que eu vou conseguir chegar a ser parecido com ele?", conclui Paulo

Rocha acredita ter uma estruturação, um plano de carreira elaborado e verbalizar ao advogado jr o que se espera dele, são pontos importantes para conseguir bons resultados tanto para o advogado jr quanto a equipe do escritório. 

Em janeiro de 2024, o escritório promoveu cinco advogados a sócios. Dos cinco, três foram inseridos no time jurídico através do programa "D Futuro", iniciando suas carreiras no escritório como estagiários. Débora Sejtman Gartner chegou ao time do Demarest com 20 anos e, hoje, aos 34 anos, foi promovida a sócia da área de Fusões e Aquisições. Ela expressa o sentimento de se sentir valorizada dentro do escritório.

"O Demarest é um escritório que valoriza seus talentos, o que motiva os advogados a buscarem um contínuo desenvolvimento e evolução profissional. Fico muito feliz em hoje compor a mesa de sócios ao lado de profissionais de excelência, os quais admirei ao longo de minha carreira, que se iniciou há 14 anos quando eu ainda era estagiária, e que tanto contribuíram para o meu crescimento, e em poder transmitir essa experiência aos advogados mais novos do Demarest’’, disse a nova sócia.

O Demarest mantém uma parceria com a The School of Life - escola de inteligência emocional fundada em 2008, em Londres, pelo filósofo Alain de Botton. Por meio dela, uma vez por mês, estagiários, trainees e assistentes jurídicos recebem treinamentos de resiliência, trabalhos de emoções e outras matérias que os ajudam a ter envergadura para a vida profissional, podendo gerar nos jovens advogados uma expectativa de melhoria e aprimoramento de talentos.

Outro diferencial do programa é que o D Futuro tem uma administração própria. Maria Helena contribui na gestão, mas a cada dois anos as chapas formadas pelos próprios estagiários, trainees e assistentes jurídicos montam suas propostas e concorrem em eleições internas. A chapa vencedora desenvolverá as ações, interligando as áreas, pautas e demandas dos estagiários para serem debatidas com todos e efetivamente atendidas.

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