Saiba qual é o profissional jurídico que o mercado busca na era da IA | Análise
Análise

Saiba qual é o profissional jurídico que o mercado busca na era da IA

A coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV aborda as novas áreas e habilidades que o escritórios procuram nos advogados

29 de October 18h54
(Imagem: Análise Editorial/Divulgação)

Não é de hoje que o Direito passa por transformações, sejam por motivos sociais ou tecnológicos. Contudo, desde a ascensão da Inteligência Artificial (IA) e da automação de serviços, escritórios de advocacia e departamentos jurídicos de empresas vêm passando por mudanças profundas em seu método de trabalho.

Durante a Fenalaw 2025, Marina Feferbaum, coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da Fundação Getulio Vargas (FGV), abordou o que escritórios buscam no mercado na era da IA e da automação. O painel foi embasado no estudo "Formando a advocacia do presente e do futuro", que entrevistou 400 escritórios de advocacia de diferentes portes em todo o país.

Quais habilidades o profissional jurídico precisa na era da IA

A coordenadora aborda quatro eixos centrais de competências necessárias para os advogados, segundo os escritórios:

  • Conhecimento jurídico: Ter domínio do conhecimento técnico-teórico e possuir habilidades relacionadas à prática do Direito.
  • Habilidades de gestão: Saber tomar decisões, administrar recursos e definir estratégias organizacionais eficazes.
  • Habilidades socioemocionais: Possuir atributos relacionais, emocionais, éticos, culturais e comportamentais, e comunicação.
  • Conhecimento tecnológico: Dominar e usar ferramentas e soluções tecnológicas plenamente.

Feferbaum alerta que, da mesma forma que essas competências são requeridas pelas bancas, elas também foram as mais difíceis de encontrar, segundo os próprios escritórios. Para ela, esse dado é um reflexo de como as universidades não têm preparado os profissionais de forma adequada.

O Modelo Delta

O Modelo Delta - uma proposta de Alyson Carrel e Natalie Runyon datada de 2019 - descreve as competências essenciais da advocacia através de um triângulo em três dimensões: Direito, Eficácia Pessoal e Negócios e Operações. A base representa o domínio jurídico (conhecimento, redação, análise e pesquisa). O lado esquerdo simboliza a eficácia pessoal (relacionamento, comunicação, inteligência emocional e caráter). O lado direito são os aspectos de Negócios e Gestão (projetos e análise de dados).

Para Marina, esse é o modelo mais atual para os advogados. Por conta de seu conceito dinâmico, a coordenadora diz que essa é a melhor forma de se adquirir habilidades e competências para se destacar no mercado. "Se sou um sócio-gestor, certamente vou precisar de mais habilidades de Gestão. Se eu for para a área de Tecnologia, precisarei saber mais sobre o assunto, e assim por diante. Então, é possível moldar sua carreira, de acordo com o delta, a partir das suas inquietações e necessidades de carreira."

As novas áreas do Direito

Feferbaum aborda que, com as novas tecnologias, novas áreas foram criadas nos últimos 5 anos. Entre as principais, estão a Proteção de Dados, Marketing Jurídico, Gestão do Conhecimento e Negociação, Mediação e Conciliação além de Gestão da Inovação.

A coordenadora da FGV aponta que a área de Regulação de Inteligência Artificial é promissora para os próximos anos. Porém, ela diz que o dado sobre Marketing Jurídico é o que mais chama a atenção, pois se choca com um pensamento comum entre os advogados, que precisa mudar.

De acordo com uma pesquisa do banco de investimento americano Goldman Sachs, soluções de Inteligência Artificial podem automatizar até 44% das atividades da profissão jurídica. Essa informação dialoga com os resultados do estudo da FGV, onde 92% dos entrevistados acreditam que a tecnologia terá um grande impacto nas bancas, gerando até mesmo a reinvenção de algumas práticas.

Feferbaum diz que, quando se fala em tecnologia na produção jurídica, geralmente ela é voltada para processos como gerenciamento de documentos, pesquisas, automações, entre outros, que nem sempre possuem Inteligência Artificial envolvida. Contudo, ainda é possível notar que isso tem gerado diversas mudanças no jurídico. "Temos visto as transformações, como novas áreas surgindo de tecnologia digital, com maior complexidade, sustentabilidade, como coisas centrais. Existe essa sensação do mercado, e a gente pode ver a flor da pele", conclui Feferbaum.

Fundação Getúlio VargasMarina Feferbaum