As habilidades técnicas que constam no currículo do profissional jurídico e que podem ser comprovadas por meio de diplomas e certificados foram, durante muito tempo, o único critério para ingresso no mercado de trabalho. As chamadas hard skills ainda são vistas no mercado como o principal fator na hora de contratar.
Prova disso é um dado colhido por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Direito São Paulo. Resultados da pesquisa "Formando a advocacia do presente e do futuro" mostraram que 39% dos entrevistados consideram que as competências jurídicas são a habilidade mais importante do profissional.
No entanto, na era da conectividade e da interligação das várias áreas do conhecimento, a lógica muda. "A nova era tem abraçado a ideia de que o hard skill não deve ser o único aspecto considerado entre as habilidades do profissional jurídico", diz Gustavo Biagioli, COO (Chief Compliance Officer) & Legal Director da Trench Rossi Watanabe, banca eleita como uma das Mais Admiradas no ANÁLISE ADVOCACIA há 17 anos consecutivos.
Nessa mesma pesquisa da FGV, depois do conhecimento jurídico técnico, as habilidades eleitas como mais importantes para o profissional jurídico são competência de gestão (26%) e competências socioemocionais (20%) - ambas permeadas pelo que se chama de soft skills.
"O mercado hoje valoriza sobretudo a capacidade de relacionamento interpessoal, que compreende, por exemplo, trabalho em equipe e feedback (dar e receber); inteligência emocional, lidar com frustrações e erros e o domínio das próprias emoções. Soft skill é o cimento que une os tijolos da sua estrutura", afirma Biagioli.
O COO aponta algo ainda mais prático: "o comportamento continua sendo o principal motivo de desligamento de profissionais, muitas vezes brilhantes, que não conseguem se encaixar no coletivo."
Marcello Junqueira, sócio do Urbano Vitalino Advogados, banca que também está entre as Mais Admiradas do anuário da Análise, defende que competências técnicas e emocionais sejam igualmente analisadas nos processos seletivos dos escritórios. "O peso de avaliação das soft skills e hard skills de um profissional praticamente se equivalem. As duas devem ser desenvolvidas pelos profissionais do direito na mesma proporção, considerando uma atuação moderna, inovadora, multidisciplinar e humanizada", diz o advogado.
As mais importantes
Apesar de não estarem registradas em diplomas, as soft skills são evidentes e altamente perceptíveis no dia a dia do trabalho. "As mais importantes, atualmente, são a empatia, liderança, conduta ética e sólida capacidade de relacionamento interpessoal. Essas habilidades, quando combinadas com o conhecimento técnico necessário, formam um profissional de extrema relevância, capaz de liderar equipes, projetos e negócios para um nível mais elevado e diferenciado", afirma Junqueira.
Ele aponta que os cursos de direito normalmente não desenvolvem esse tipo de habilidade, o que obriga os profissionais a "buscar os caminhos e correr atrás do seu próprio desenvolvimento".
Biagioli complementa: "essas habilidades dependem muito de uma bagagem pessoal do indivíduo e são mais difíceis de serem ensinadas num momento em que o profissional já está no mercado de trabalho". Isso não significa, contudo, que elas não possam ser desenvolvidas. "É possível direcionar o comportamento do profissional neste sentido por meio de incentivos positivos e negativos", diz o COO.
Embora sejam mais óbvias, as hard skills também têm atravessado novas nuances. Além das competências jurídicas, Marcello Junqueira, do Urbano Vitalino Advogados, destaca o conhecimento tecnológico como peça fundamental. O sócio arremata: "conhecimentos em tecnologia e gestão, nos dias atuais, são fundamentais para o complemento das habilidades profissionais."