A busca por eficiência e competitividade tem levado escritórios de advocacia a estabelecer parcerias estratégicas. Esse modelo de colaboração permite ganhos mútuos em diferentes frentes e se apresenta como alternativa às tradicionais fusões. Segundo Bruno Feigelson, sócio do Lima ≡ Feigelson Advogados, as parcerias "permitem o somatório de competências, a ampliação do portfólio de serviços e uma cobertura geográfica mais estratégica. É uma forma de crescer com inteligência, compartilhando cultura, clientes e know-how, sem necessariamente partir para um processo de fusão completo".
Para Pedro Eroles, sócio do Eroles Advogados, o modelo permite ampliar a atuação de bancas especializadas. "A parceria permite que escritórios focados em determinados segmentos, como o nosso, voltado para serviços financeiros, pagamentos e tributação, possam expandir sua atuação de forma multidisciplinar", afirma.
Crescimento geográfico e troca de especialização
Entre os principais ganhos está a ampliação da atuação geográfica. Ao firmar acordos com bancas em outras cidades, estados ou países, os escritórios conseguem atender clientes em diferentes praças, sem a necessidade de abrir unidades físicas. Além disso, a troca de especialização é outro benefício relevante. Escritórios com perfis distintos podem compartilhar expertise em áreas complementares e conduzir casos mais complexos de forma colaborativa.
Feigelson aposta no crescimento desse modelo. "O mercado jurídico está mais competitivo, e os clientes buscam soluções completas, integradas e com eficiência operacional. Parcerias são uma forma ágil de atender essa demanda, com menor risco e mais adaptabilidade do que modelos tradicionais de fusão", avalia.
Para Bruno Barata, sócio do BCDM Advogados, o movimento é global. "Este modelo de cooperação internacional estratégica é uma tendência crescente. A globalização dos negócios aumenta a demanda por soluções jurídicas transnacionais, especialmente para advogados que atuam com empresas com operações em mais de um país", diz.
Otimização administrativa e ganhos de eficiência
Outro benefício importante está na otimização de custos e recursos, com possibilidade de compartilhamento de tecnologias, bases de dados e inteligência jurídica. Essa dinâmica exige um alto grau de coordenação. "É preciso que as estruturas administrativas estejam em diálogo constante, com sistemas de comunicação, gestão de pessoas e governança compatíveis. Quando bem feito, isso traz eficiência e reforça o posicionamento estratégico das bancas", explica Feigelson.
Barata completa que, no âmbito internacional, não há alteração na estrutura societária ou intercâmbio permanente de profissionais. "O impacto ocorre na otimização de processos operacionais para clientes com interesses em múltiplas jurisdições. Isso envolve comunicação ágil, coordenação de estratégias conjuntas e adaptação de fluxos de trabalho pontuais, sem mexer na autonomia interna das bancas", afirma.
Diferencial competitivo no atendimento especializado
A diferenciação competitiva também é potencializada. "Parcerias bem estruturadas permitem uma atuação mais robusta em setores ou regiões onde, isoladamente, cada escritório teria menor capilaridade. Isso pode representar uma vantagem competitiva importante, principalmente para clientes que buscam expertise local com padrão de excelência nacional. Além disso, oportuniza a conexão com profissionais hiperespecializados. Desta forma, temos a segurança de entregar a melhor qualidade para nossos clientes", destaca Feigelson.
Para Eroles o ponto diferencial é a flexibilidade financeira. "Nos modelos full service, em flutuações de mercado, uma área superavitária tende a compensar outra deficitária. Em estruturas independentes, isso não é necessário, o que se reflete em preços mais competitivos aos clientes", aponta.
Já na visão de Barata, a principal diferenciação é a capacidade de oferecer soluções jurídicas verdadeiramente globais e integradas, sem abrir mão do conhecimento local. "É a adaptação do conceito ‘glocal’ (global + local) na prática da advocacia. Isso garante atendimento coordenado, segurança jurídica em operações complexas e acesso a novas oportunidades de negócio", explica.
Desenvolvimento de talentos e formação de lideranças
O impacto no desenvolvimento de talentos é outro fator relevante. O convívio entre times diferentes estimula trocas de experiências e acelera o aprendizado. "É uma oportunidade de crescimento para talentos de ambos os lados, e de formação de novas lideranças em contextos mais desafiadores e colaborativos. Quanto mais forte a rede, maior o desenvolvimento para todos os envolvidos", avalia Feigelson.
Alinhamento cultural: o maior desafio
Por outro lado, os desafios existem — e o principal, segundo Feigelson, está no alinhamento cultural. "Processos e sistemas são ajustáveis, mas valores, visões de futuro e formas de se relacionar com clientes e com o time interno precisam estar muito bem sincronizados. Sem isso, a parceria pode gerar ruído em vez de sinergia", aponta.
Barata também identifica obstáculos na comunicação e na diferença de sistemas jurídicos. "Os principais desafios incluem superar diferenças culturais, alinhar expectativas e garantir a manutenção da qualidade dos serviços em todas as jurisdições", afirma.
Parcerias nacionais e internacionais: objetivos distintos
Bruno Barata, sócio do BCDM Advogados, que recentemente anunciou parceria com um escritório de Dubai, diferencia as colaborações domésticas das internacionais. "Nas nacionais, o foco é expandir capilaridade e especialização dentro do mesmo sistema jurídico. Já nas internacionais, os objetivos são a internacionalização de clientes, atração de investimento estrangeiro e atuação em operações transnacionais, superando barreiras culturais e jurídicas", explica.
Como estruturar parcerias bem-sucedidas
Para que a integração funcione, Feigelson recomenda começar por um profundo alinhamento de expectativas e objetivos, papéis claros, governança definida e comunicação permanente. "Só assim a integração deixa de ser formal e se torna efetiva", conclui.
Barata recomenda, além do alinhamento de objetivos, a realização de uma due diligence do parceiro, mapeamento de clientes e casos potenciais e a criação de canais eficientes de comunicação, respeitando as particularidades locais. "Flexibilidade para ajustes e adaptações também é essencial", finaliza.