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Análise

O que os departamentos jurídicos esperam dos escritórios de advocacia?

Especialistas da AB2L, Hyundai, TozziniFreire, Meta e Quinto Andar abordam sobre inovação, tecnologia e transparência no mercado

30 de November de 2022 19h

Realizado na última terça-feira, 29, em São Paulo (SP), o evento AB2L - Lawtech Experience, organizado pela Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) reuniu dezenas de especialistas do ecossistema jurídico para discutir, através de painéis, o futuro do Direito e suas interações com a inovação e a tecnologia.

O painel "Inovação ou Morte: Como a colaboração entre departamentos jurídicos e escritórios pode garantir o seu futuro" foi mediado por Fred Ferraz, conselheiro da AB2L, e contou com a participação dos especialistas Eduardo Hiroshi, diretor jurídico da Hyundai; Victor Fonseca, senior associate and head of ThinkFuture no TozziniFreire Advogados; Anna Carolina Kastrup, associate general counsel na Meta, e Fernando Fonseca, legal efficiency no Quinto Andar.

Matrimônio jurídico

Segundo os especialistas, uma boa relação entre os departamentos jurídicos e escritórios de advocacia deve ter dois elementos fundamentais, como em um casamento: transparência e parceria

Esse "matrimônio jurídico" é importante porque os advogados externos e internos das empresas precisam se comunicar para levar ao cliente o conhecimento necessário sobre o produto ou serviço oferecido pela organização.

Para isso, foram apontadas duas formas essenciais de cooperação: 

  1.  Inovar no serviço jurídico que já é prestado. Ao invés de inventar "coisas" novas, a companhia pode aproveitar o que já é oferecido, trazendo um conceito diferente;
  2. Os escritórios precisam colaborar para aliviar a pressão por eficiência existente dentro dos departamentos jurídicos. Segundo Victor Fonseca, o segredo está na proximidade dos advogados externos com os clientes.
"O escritório está numa posição privilegiada de ter um contato muito próximo com o cliente para entender o que ele precisa. Não existe inovação sem participação do cliente. [O escritório] precisa utilizar dessa posição privilegiada", afirmou Victor.

Nessa busca pela eficiência, os especialistas afirmam que o bom profissional precisa se atentar as oportunidades, ao invés de encarar, por exemplo, um volume de processos como só "mais um trabalho".

"Ali tem tanta coisa. Você consegue trazer questões para a empresa que são muito importantes, como identificar um problema no seu serviço ou produto, ou trabalhar nas teses jurídicas e ser melhor, e criar procedimentos internos para atender esse fluxo de demandas", ressaltou Kastrup.

Inovação não é só tecnologia

Inovação não é ser disruptivo a todo momento, mas, sim, entender que toda nova atitude organizacional, decorrente de um novo problema operacional, pode ser uma inovação - caso o solucione. 

Esse raciocínio pode ajudar a entender o conceito de tecnologia, que é uma ferramenta para resolver problemas. No entanto, há uma linha muito tênue entre a tecnologia que fornece eficiência e a que vai colocar seu negócio em apuros, segundo Fernando Fonseca.

"O problema é trazer uma ferramenta que meu recurso humano não esteja preparado para trabalhar com ela. Então isso envolve a gestão de inovação, existe uma mudança de cultura. A ferramenta nesse momento se torna menor do que o conceito de gestão de inovação", disse Fernando.

De acordo com Victor, uma ferramenta de automação, por exemplo, poderia tentar substituir o uso do programa Word pelo advogado. Mas ele pode estar habituado a usar a plataforma há 20 anos, então não seria uma tarefa simples. A inovação, neste caso, seria uma mudança de cultura, de hábito, que envolveria um contingente maior de pessoas e uma visão interdisciplinar.

É necessário, portanto, olhar para o "conceito de inovação" como algo mais amplo do que tecnologia. Apesar da estreita relação entre ambos, um projeto de inovação pode passar por outras áreas que não são necessariamente envolvidas com tecnologia.

Quem não inova, morre?

Qual o benefício de investir em inovação e tecnologia nos dias de hoje? Não ser pego de surpresa no futuro. Inovação e Tecnologia devem ser vistas como áreas focadas em auxiliar as empresas. Por isso, o importante não é apenas investir, mas saber como empregá-las dentro da organização. Investir não pode ser visto como um risco, mas, sim, uma oportunidade de estar preparado para o que vier pela frente.

Para isso, de acordo com Eduardo, é fundamental estar disposto a buscar pontos de melhoria todos os dias - por menores que sejam-, agregando valor para as operações que o advogado comanda.

"É nisso que acho que os advogados falham muito, em demonstrar para seus executivos qual o real valor de um departamento jurídico para uma empresa. Quando o pessoal me questiona qual o valor que eu trouxe, eu devolvo ‘quantas vezes entrei na sua sala para falar que tinha um problema?’ É isso!", explicou Hiroshi.

Para os especailistas, fica claro que são precisas as pequenas vitórias para se alcançar patamares mais elevados. Nenhum projeto de inovação começa apresentando gigantes resultados. O nível de maturidade de projetos de inovação vem do acúmulo não só de tempo, mas de pequenas vitórias ao longo do caminho.

Da esquerda para a direita: Fred Ferraz, mediador, e conselheiro da AB2L; Eduardo Hiroshi, diretor jurídico da Hyundai; Anna Carolina Kastrup, associate general counsel na Meta; Fernando Fonseca, legal efficiency no Quinto Andar; e Victor Fonseca, senior associate and head of ThinkFuture no TozziniFreire Advogados (Imagem: Divulgação)
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