A Live Análise desta quinta (17) promoveu um debate centrado na sobrecarga do Poder Judiciário em virtude da pandemia, que causou muitas repactuações ou rompimentos de contratos, e na necessidade de litigar menos e negociar mais. Participaram do encontro Ane Elisa Perez, sócia do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados, Fabiana K. Leschziner, vice-presidente executiva jurídica e chief compliance officer da Embraer e Eduardo Nogueira, vice-presidente jurídico e compliance da DHL Supply Chain. Mediada por Alexandre Secco, sócio e conselheiro editorial da Análise Editorial, a conversa também contou com comentários de Silvana Quaglio, diretora presidente e publisher da editora.
Ane Elisa, que é coordenadora da equipe de mediação e arbitragem da banca que integra, explicou que o Brasil possui uma cultura de judicialização, pautada nos fundamentos do litígio. De acordo com ela, os advogados foram academicamente criados para litigar, pois não se falava em negociação na década de 90, quando ela entrou na faculdade de Direito. A sócia relatou que as técnicas voltadas para mediação e arbitragem são recentes e, por isso, temos um judiciário abarrotado de processos e pouco especializado.
A executiva Fabiana também ressaltou a cultura brasileira focada em litígios e pontuou que os efeitos da crise causada pela pandemia só podem ser amenizados com a negociação, pois o contrário fará com que o Judiciário fique ainda mais entupido. Ela lembrou que o problema atual é um problema geral, então todos devem sentar, negociar e objetivar a composição, não o rompimento entre as partes envolvidas. Citando o cenário internacional, a executiva destacou que os americanos são pragmáticos: uma disputa judicial entre empresas não impede as partes de continuarem fazendo negócio. Já no Brasil, o sentimental é mais forte e faz com que uma briga jurídica inviabilize possíveis transações comerciais, portanto, devemos utilizar a judicialização apenas como último recurso.
Ainda na questão cultural, Eduardo enfatizou que a cultura brasileira é de composição, aproximação e empatia. Para ele, o "jeitinho brasileiro", fora do escopo negativo, é uma maneira de tentar buscar a solução para um problema. Em contrapartida, o executivo explicou que temos uma cultura jurídico-brasileira que molda os advogados para litigar e não para compor, e fez um questionamento: será que os advogados estão escutando seus clientes e buscando entender o que eles querem? Para ele, não basta enxergar um problema apenas processualmente, mas também focar em encontrar uma solução.
Ao final da conversa, Silvana questionou os convidados sobre uma possível catástrofe ocasionada por processos e ações judiciais no futuro, devido à pandemia. Os três concordaram que o a crise atual é sem precedentes e torna o momento muito difícil, mas que não veem um "apocalipse judiciário", que sobrecarregue ainda mais o sistema. Eles lembraram que todos estamos no mesmo barco e temos meios alternativos, como a mediação e a arbitragem, para fazer diferente e sairmos mais fortes deste momento.
Para acessar as lives realizadas anteriormente, visite o canal da Análise Editorial no YouTube.