Na última quarta-feira (6), aconteceu a 4ª edição do Fórum de Negócios sobre a Transformação Jurídica, em São Paulo, que trouxe o tema "Papel Fundamental do Legal Operations para a Tomada de Decisão Estratégica nas Empresas" em foco. Segundo a CLOB (Comunidade Legal Operations Brasil), o crescimento do Legal Operations não se restringe apenas a escritórios de advocacia. Atualmente, a comunidade assegura o envolvimento com a área em 600 empresas no país, junto ao departamento jurídico, só no último ano.
A discussão contou com a presença de Julian Isidoro, legal operations da Latam Airlines, Rafael Menin Soriano, gerente jurídico sênior da Globo, e Guilherme Tocci, senior global legal ops manager da Gympass.
Para Tocci, quando se fala em tomadas de decisões estratégicas dentro do departamento jurídico na empresa, olhando por meio do prisma de Legal Ops, surge um filme em sua mente. Segundo ele, neste momento, desde outubro até o início do próximo ano, ele e sua equipe já estão debatendo quais serão os projetos para 2024.
O primeiro projeto da área de Legal Ops na Globo foi a troca do sistema de gestão de processos. Assim como a área de LO ajuda a empresa a tomar decisões estratégicas, tem o desafio anterior de tomar a decisão de por onde começar - o que priorizar. Ao começar a avaliação, a equipe decidiu iniciar pelo contencioso, ao invés do consultivo e contratos.
Quando o sistema foi ao ar, a surpresa foi a insatisfação dos colaboradores, os mesmos que reclamavam da antiga plataforma, mas agora achavam a nova complexa, que dava mais trabalho. Nessa hora, o mantra de Rafael Menin Soriano, gerente jurídico sênior da empresa, se fez mais evidente: para ser um profissional de Legal Ops, é preciso pensar nas pessoas.
Julian Isidoro, legal operations da Latam Airlines, define que Legal Ops e implementação de sistema são eventos canônicos em todo departamento jurídico. "Dar errado é algo de praxe, se algo não der errado é que alguma coisa não deve estar sendo feita certo", afirma, complementando que "o que torna um Legal Ops cada vez mais relevante é o quanto você está sendo capaz de pegar informação e transformar em algo completo, preenchendo algumas lacunas".
Na Latam, um dos primeiros projetos foi mudar o sistema de gestão de contratos. A equipe de LO buscou identificar qual era o real problema. O problema inicial que achavam era a parte da assinatura vs jurídico, processo que demorava demais. Eles acharam que era isso, mas descobriram, no ponto final, extraindo informações, que o problema era outro.
Mandala do Legal Ops
Rafael destaca que o fato de o Legal Ops ter essa função resolutiva acaba sobrecarregando a área. As equipes acabam dependendo demais da área de LO, que muitas vezes é vista como "apagadora de incêndios".
Para Guilerme Tocci, senior global legal ops manager da Gympass, o ideal para o profissional da área de Legal Ops é conseguir chegar na empresa e ter a clareza do que você vai fazer. Ele diz que não teve essa sorte quando chegou na Gympass, pois chegou no meio de um caos referente a contratos comerciais, tanto com parceiros quanto B2B.
Guilherme explicou que "o CLOC - Corporate Legal Operations Consortium (consórcio corporativo de legal ops), dos Estados Unidos, foi super relevante, pois eles têm uma mandala com 12 competências de Legal Ops, como tecnologia, planejamento estratégico, gestão financeira, gestão de fornecedores, gestão de projetos, entre outras". A partir da solução do desafio de contratos, em novos projetos, começaram a avaliar quais das 12 competências faziam sentido para o jurídico da Gympass. O pensamento era como melhorar em todos os âmbitos.
Definir o nicho do departamento, pode ser uma boa estratégia para evitar o acumulo de demandas e falta de sucesso nos projetos. "A tomada de decisão também passa pelo fato de decidir o que o Legal Ops vai fazer. Outro evento canônico é parar, ficar olhando aquela mandala do CLOC por duas, três horas, cinco dias, e falar: eu não consigo fazer nada disso. Por onde eu começo?", afirma Julian.
Entregar é preciso
Rafael Menin Soriano, gerente jurídico sênior da Globo, afirma que tudo começa na base de dados. Na implementação da área de Legal Ops, a equipe da Globo separou todas as informações que eles queriam ter e travar para não serem mais modificadas. "Ter pessoas no time ou apoio que não tenham formação jurídica pode ser bacana também, porque precisa de alguns skills que não têm na faculdade e não é o nosso modelo mental", explica. Além disso, Rafael afirma realizar entregas é essencial para quem tem ou quer ter uma área de LO.
O trio de palestrantes concorda que a missão do legal operations é impulsionar o departamento jurídico por meio de informações e facilidades, simplificando o trabalho dos advogados ou da equipe jurídica. Além disso, que é uma relação de confiança entre os profissionais e a empresa.
Ao fim do painel, os três executivos concordam que o papel do Legal Operations é fundamental para a tomada de decisão estratégica nas empresas, desde que as necessidades e a forma como o LO pode, de fato, ajudar, estejam claras.