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Jusbrasil lança IA que promete transformar o direito brasileiro

Assistente jurídico utiliza base de 7 bilhões de documentos e busca equilibrar inovação tecnológica com responsabilidade profissional

7 de November 16h23
(Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

Após 17 anos organizando o maior acervo jurídico do país, o Jusbrasil dá um novo passo em sua missão de democratizar o acesso à Justiça. A empresa lançou o Jus IA, um assistente de inteligência artificial desenvolvido especificamente para advogados brasileiros, que promete unir a velocidade da tecnologia generativa com o rigor técnico exigido pela prática jurídica.

"Pela primeira vez, é possível transformar toda a nossa base de conhecimento em algo vivo e interativo — uma ferramenta que não apenas entrega informação, mas ajuda o advogado a pensar, estruturar e executar seu trabalho com mais clareza e eficiência", explica Flaviano Neto, Gerente de Produto do Jusbrasil, em entrevista exclusiva à Análise Editorial.

Tecnologia baseada em acervo proprietário

O diferencial do Jus IA está na sua fundação: uma base de dados com mais de 7 bilhões de documentos jurídicos — incluindo jurisprudência, legislação, doutrina, diários oficiais e peças processuais — continuamente atualizados e estruturados pela própria empresa.

Ao contrário de soluções genéricas de IA adaptadas ao Direito, o assistente foi construído utilizando uma arquitetura de Retrieval-Augmented Generation (RAG), que busca informações diretamente nesse acervo antes de formular qualquer resposta. "O nosso ponto de partida não é a internet — é o próprio acervo do Jusbrasil", destaca Neto.

O grande desafio, segundo o gerente de produto, foi transformar volume em inteligência. "Não basta ter dados: é preciso torná-los compreensíveis, relacionáveis e acionáveis por um modelo de linguagem", afirma. Para isso, a empresa desenvolveu processos complexos de extração de metadados, relacionamento entre documentos e indexação semântica, permitindo que o assistente encontre e use, em segundos, as fontes mais relevantes para cada pergunta.

Uma das aplicações mais avançadas do mundo

Alexandre Zavaglia, Diretor da Legal&Tech.Design, acompanhou as etapas de desenvolvimento da Jus IA. Para Zavaglia, "o Jus IA está entre as aplicações de IA generativa mais avançadas do mundo".

Segundo Zavaglia, a ferramenta interliga o big data jurídico, para a busca de fontes referenciadas, com o conhecimento e a expertise de cada profissional, que é o responsável por orientar todo o processo, desde a pergunta a ser respondida e a especificação para a construção de minutas, até a possibilidade de incorporar seu conhecimento para gerar respostas mais próximas de seu estilo e experiência profissional. "Isso faz com que a resposta não seja da IA, mas utilizar a IA para refletir o conhecimento jurídico e a técnica do próprio advogado", destaca.

Combate às alucinações e checagem automatizada

Um dos maiores temores em relação ao uso de IA no Direito é o fenômeno das "alucinações" — quando o modelo gera informações incorretas ou inventa citações jurídicas. O Jusbrasil enfrentou esse problema com uma abordagem em três camadas: tecnologia, curadoria humana e transparência.

"Confiabilidade é o coração do Jus IA. Sabemos que, no Direito, um erro de citação ou um argumento mal fundamentado pode comprometer todo um raciocínio", diz Neto. A empresa implementou um processo automatizado de verificação das referências normativas citadas nas respostas, além de contar com um time de especialistas jurídicos que revisa continuamente os padrões de linguagem e consistência técnica.

Entre as principais inovações do Jus IA, estão as estratégias para mitigar o efeito de alucinação. No caso da jurisprudência, por exemplo, além de restringir o modelo para responder a partir de sua base qualificada, a Jus IA tem uma camada de verificabilidade que confronta as respostas com essas fontes internas, antes de enviar ao usuário.

Toda resposta gerada pelo assistente indica as fontes utilizadas, permitindo que o advogado verifique a procedência de cada argumento. "O Jus IA foi projetado para unir velocidade e confiança — oferecendo uma experiência moderna de IA, mas com o rigor jurídico e a verificabilidade que o trabalho do advogado exige", resume o executivo.

Para Zavaglia, essa abordagem está alinhada ao que tem sido defendido nos debates sobre questões éticas, de governança e de gestão de riscos. "Ao colocar o advogado no centro e na condução de todas as etapas, e investir em pesquisa e desenvolvimento para ampliar a sua adequação às necessidades do mercado jurídico, a empresa proporciona aos usuários da IA mais segurança e qualidade nas respostas", avalia o consultor.

Ética e responsabilidade no centro do desenvolvimento

Desde o início do projeto, a equipe do Jusbrasil tratou as questões éticas como parte integrante do design do produto. O desenvolvimento seguiu três princípios centrais: transparência, veracidade e controle.

"O advogado deve estar sempre no comando da sua atividade profissional. O Jus IA foi feito para potencializar sua atuação, não para substituí-la", enfatiza Neto. A ferramenta foi concebida para auxiliar em tarefas como análise de documentos, pesquisa de precedentes, redação e revisão de peças, mas sempre mantendo o profissional como responsável pelas decisões estratégicas.

Essa preocupação reflete um compromisso que a empresa assumiu com a democratização responsável do conhecimento jurídico desde os primórdios. Para Flaviano, a tecnologia deve ser usada para ampliar o alcance e a qualidade do trabalho jurídico, no entanto jamais deve substituir o raciocínio, o julgamento ético ou a relação com o cliente que somente um advogado humano pode ter.

Foco na prática profissional

O público-alvo do Jus IA são advogados e advogadas que vivem a rotina jurídica diariamente. Essa definição influenciou todas as escolhas de desenvolvimento. "Buscamos construir uma experiência que conversasse com o fluxo real da advocacia", explica Neto.

Ao contrário de assistentes genéricos adaptados ao meio jurídico, o Jus IA foi desenvolvido a partir da rotina dos profissionais da área. "Cada detalhe — da linguagem às funcionalidades de checagem de referências — reflete o modo como o advogado trabalha e pensa", destaca o executivo.

A ferramenta permite que diferentes tarefas sejam realizadas dentro de uma única conversa, integrando pesquisa, análise, redação e estratégia em um mesmo ambiente de trabalho.

Visão de futuro

Neto revela que o plano para os próximos anos é que o Jusbrasil consolide o Jus IA como "o ambiente de trabalho de referência do advogado brasileiro". O objetivo é que a plataforma se torne o lugar onde o profissional pensa, decide e atua, reunindo informação, raciocínio e execução de forma integrada.

"Queremos que o tempo do profissional seja gasto com o que realmente importa: construir estratégia, interpretar contextos e cuidar de seus clientes", afirma Neto. Sobre novas funcionalidades a serem adicionadas no produto, Flaviano não entrou em detalhes, porém o executivo afirmou que a empresa segue evoluindo e desenvolvendo o Jus IA "com o mesmo cuidado e responsabilidade que sempre pautaram o Jusbrasil".

O lançamento do Jus IA marca uma nova fase na relação entre tecnologia e Direito no Brasil. Em um mercado jurídico cada vez mais competitivo e exigente, a promessa é de que a inteligência artificial possa ser a melhor amiga do advogado — desde que desenvolvida com rigor técnico, transparência e respeito ao papel insubstituível do profissional humano.

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