Nesta quinta-feira (29), a TV Análise, canal da Análise Editorial no YouTube, transmitiu o último encontro com profissionais que foram eleitos Mais Admirados pelos próprios pares na edição 2021 do Anuário Análise Executivos Jurídicos e Financeiros. O destaque desse evento virtual foi para os profissionais da área de compliance que, pela primeira vez, tiveram seus perfis descritos na publicação. Participaram do bate-papo Ana Paula Carracedo, diretora de compliance, riscos, auditoria, segurança da informação e ESG da Qualicorp; Olga Pontes, chief compliance officer da Novonor; e Reynaldo Goto, diretor de compliance da BRF. A conversa foi comandada por Silvana Quaglio, diretora-presidente e publisher da Análise Editorial, e Alexandre Secco, sócio e conselheiro editorial da Análise.
O equilíbrio de gênero na lista de executivos de compliance Mais Admirados trazida pela publicação foi ponto de partida para uma das discussões mais proveitosas do live. Alexandre Secco destacou que, além de haver uma mulher pelo segundo ano consecutivo no topo do ranking de admiração, na edição de 2020, quando a votação entre os profissionais da área ocorreu pela primeira vez, foram eleitas 14 mulheres e 13 homens. Este ano, temos 16 executivas e 14 executivos entre os figurantes do ranking.
Ao expor sua opinião sobre este cenário, Olga Pontes optou por destacar a composição da lista como um reconhecimento a seres humanos que demonstraram plena capacidade de serem lembrados. Em sua oportunidade, Reynaldo Goto revelou sua preocupação com o tema da diversidade porque ele não tem negros na equipe. Além disso, Goto compartilhou suas impressões que foram adquiridas quando decidiu entrevistar negros e PCDs em um processo seletivo para sua empresa.
O executivo revelou que a maioria dos interessados que representavam minorias eram mulheres negras que não cursaram as chamadas faculdades "de primeira linha". Ele destacou ainda que muitos desses concorrentes já haviam feito um número acima da média de cursos, muitos deles feitos através da conquista de bolsas. Em favor de critérios mais acessíveis para a contratação e formação de uma equipe diversa, o diretor de compliance da BRF indicou às mulheres que retirassem de seus currículos idade e estado civil. "Não é um critério que eu acho que seja relevante", afirmou.
Ana Paula Carracedo, que foi contratada por sua empresa quando estava grávida, concordou com a posição de Reynaldo Goto. Ela também comentou como foi sua reação quando a empresa optou por tornar público a contratação de uma gestante. No começo, ela relutou, mas depois entendeu que o seu caso precisava ser naturalizado. Ela disse que "o viés inconsciente que está dentro de nós ainda impera nas empresas". Sobre sua experiência, Ana Paula ainda revelou ter ficado chocada por muitas mulheres terem comentado, em uma matéria do Estadão sobre sua contratação enquanto gestante, que aquele gesto iria gerar custo extra para a empresa.
Quando o assunto passou a ser sobre os principais desafios da rotina dos profissionais de compliance, os três executivos Mais Admirados concordaram que a mudança de cultura está entre eles. Olga Pontes apontou que a rejeição e a resistência às mudanças são uma constante em seu trabalho, por isso é preciso aprender a lidar com elas, especialmente porque trata-se de algo natural do ser humano. Primeira chief compliance officer da Novonor, Olga trabalha desde 2016 em uma empresa que integrava o Grupo Odebrecht, envolvido nas investigações de corrupção da Operação Lava Jato. Por conta disso, a executiva "viveu um turbilhão de transformações nos últimos anos".
Durante sua fala, Ana Paula Carracedo trouxe para o centro das discussões a importância de contar com o apoio de sua equipe e de profissionais de outras áreas. Além disso, ela também expôs a importância de trazer para a sua equipe pessoas que são boas em algo que ela exatamente não é e que tenham percepções diferentes sobre a companhia. Reynaldo Goto concordou e acrescentou que o apoio da alta administração da empresa faz toda diferença. Em diversos momentos, ele citou o nome de Pedro Parente, presidente do Conselho da BRF, que o auxiliou a trazer importantes insights.
Goto não deixou de apontar o excesso de narrativas como um dos maiores desafios da atualidade. Segundo ele, "a gente não sofre mais por falta de informação, a gente sofre pelo excesso de histórias e o nosso trabalho é técnico, a gente precisa se ater as evidências". Apesar disso, os convidados revelaram haver uma unidade e troca de experiências bastante constante entre eles e outros profissionais do mercado. Um gesto muito relevante diante da complexidade dos desafios da área.
Com formações diversas que fogem do padrão que impõe aos profissionais de compliance uma formação em Direito, os executivos também falaram sobre a formação de suas carreiras, sobre a importância do reconhecimento recebido pelo mercado e, ao fim, deixaram algumas dicas para os colegas de profissão que estão começando a atuar na área ou que desejam investir nela futuramente.