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DeepSeek: o que está por trás do interesse do mercado

A nova inteligência artificial chinesa tem código aberto, permitindo a implementação para uso próprio

31 de January 15h

Nos últimos anos, o mercado de inteligência artificial (IA) tem testemunhado uma revolução impulsionada pelo avanço dos modelos generativos. Agora, uma nova tecnologia desponta como uma promessa inovadora: a DeepSeek. A startup chinesa de inteligência artificial ganhou notoriedade após o lançamento do DeepSeek-V3, a versão mais atualizada da IA. Com capacidade de entregar resultados equiparáveis aos das grandes empresas do Vale do Silício a uma fração do custo, o modelo certamente desperta atenção e pode redefinir as regras do jogo.

Acessibilidade e Redução de Custos

O que despertou a atenção do mercado sobre a DeepSeek foi, principalmente, o custo reduzido de treinamento da IA chinesa. O investimento em poder computacional para o treinamento da Inteligência Artificial foi de apenas US$ 6 milhões, valor que representa menos de 10% do investido por suas concorrentes ocidentais.

Segundo o professor Alexandre Zavaglia, advogado presidente da Comissão de Tecnologia e Inovação da OAB-SP, essa eficiência financeira demonstra o potencial de democratização da IA generativa. "Antes dessas soluções, os projetos de IA nas empresas eram muito custosos. Com o surgimento das Inteligências Artificiais generativas, esse cenário mudou radicalmente. Modelos como o DeepSeek estão tornando a tecnologia acessível a um público muito maior, trazendo mais eficiência a custos menores", explica Zavaglia.

Por isso, a acessibilidade pode ser um fator crucial para escritórios de advocacia e outros setores que lidam com grande volume de documentos e análises. Ademais, a possibilidade de personalização e adaptação dos modelos de Inteligência Artificial para gerar bases proprietárias, com baixo investimento, pode ocasionar em mais qualidade e assertividade nos resultados, ampliando o impacto da IA no mercado jurídico.

Oportunidades e desafios

Para Renato Opice Blum, advogado especializado em direito digital, a chegada do DeepSeek é uma novidade relevante, mas requer analise cautelosa. "A princípio é uma surpresa. Com o crescimento rápido do uso, surgem questões importantes como a segurança dos dados e a governança dessas informações. O fato de ser um modelo open source pode trazer desafios adicionais de proteção de dados", alerta Opice Blum.

O aspecto da segurança é certamente a preocupação central. Em setores como o jurídico, a proteção de informações sensíveis é crítica. Por isso, o risco de vazamento de dados e a impossibilidade de garantir a rastreabilidade das fontes podem decerto ser entraves para a adoção massiva da ferramenta.

Open source assusta, mas não é novidade no mercado

O termo "código open source", ou código aberto, se refere a um software cujo código-fonte é disponibilizado para que qualquer pessoa possa visualizar e utilizar. Diferente de softwares proprietários, que restringem o acesso ao código-fonte, os programas open source incentivam a colaboração e transparência.

"As pessoas têm esse medo do open source por parecer que você tem acesso a tudo. É importante entender que apenas o código é disponibilizado, ou seja, os comandos que foram para computador. O código em si não segura nenhum dado, são apenas instruções. Não fica totalmente aberto. É realmente só para que o público entenda como o código funciona", explica Eric Grilo, desenvolvedor com passagem em empresas como IBM e Kyndryl.

Bruno Germano, cientista de dados, garante que a modalidade não é nenhuma novidade no mercado. "Empresas como Meta, Google e Microsoft criam e contribuem com diversos projetos open source mundo afora. É uma maneira de aperfeiçoar as tecnologias em uso hoje. A vantagem de ser um código aberto ao público é que qualquer pessoa ou empresa com o conhecimento técnico necessário pode fazer a implementação desse modelo para uso próprio, sem prestar contas aos desenvolvedores."

A guerra da IA e o futuro do mercado

O impacto da DeepSeek sem dúvida já se reflete no mercado, forçando grandes empresas a reavaliar suas estratégias. Com uma solução mais barata e eficiente, os modelos tradicionais podem perder espaço, o que já tem repercussões no valor de mercado de gigantes da tecnologia. A pesquisa realizada para o anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2025 serve como indicador da importância da inteligência artificial no mundo jurídico. Um em cada dez executivos fez questão de apontar inteligência artificial como área promissora, mesmo sabendo que a categoria não era considerada uma especialidade do Direito.

"A busca por eficiência e redução de custos está apenas começando. A cada novo modelo, vemos um avanço na acessibilidade da IA, permitindo que mais profissionais incorporem essa tecnologia ao seu dia a dia", afirma Alexandre Zavaglia.

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