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Comitês internos: como aprimorar sua gestão organizacional

Juliana Maia Daniel e Alberto Macedo contam como a criação de comitês internos pode ajudar organizações a atingirem seus objetivos e superar obstáculos do dia a dia

31 de March 16h

As organizações buscam constantemente maneiras de otimizar a gestão e aprimorar processos internos. Nesse contexto, os comitês internos surgem como uma estratégia eficaz para fortalecer a governança corporativa, melhorar a tomada de decisão e engajar colaboradores.

O que são comitês internos?

Comitês internos são grupos formados dentro da organização para tratar de temas específicos, como inovação, diversidade, compliance, sustentabilidade e gestão de pessoas. Eles atuam como instâncias consultivas ou deliberativas, apoiando a liderança na definição de estratégias e na implementação de ações alinhadas aos objetivos da empresa.

Qual a importância dos comitês internos?

Entrevistamos a advogada Juliana Daniel, sócia do Berardo, Lilla, Becker, Segala e Daniel Advogados. Ela revelou qual a importância dos comitês internos: "Os comitês são importantes para atuar principalmente na mitigação de riscos (operacionais, reputacionais, financeiros) e na padronização de processos internos".

A advogada acrescentou que os comitês se tornam ainda mais necessários em escritórios com um alto número de advogados. "Em estruturas maiores (escritórios com mais de 20-30 advogados, por exemplo), que lidam com diversas áreas do direito e múltiplos setores econômicos, naturalmente há maior relevância, pois os advogados de diferentes especialidades precisam seguir as mesmas diretrizes e ter o mesmo padrão de atendimento aos clientes, sendo crucial para evitar conflitos de interesse e de teses".

Como escolher o tema de um comitê interno?

Entrevistamos também o advogado Alberto Macedo, atuante na área trabalhista e de compliance do escritório Böing Vieites Gleich Mizrahi Rei Advogados e membro de um comitê interno no escritório.

Alberto disse que a escolha do tema pode ocorrer de duas formas: "Algumas áreas surgem da necessidade de aprofundar temas que estão ganhando relevância no mercado e na sociedade, enquanto outras nascem do interesse genuíno dos próprios colaboradores". Segundo ele, quando um assunto tem potencial para agregar valor ao escritório e engajar a equipe, ele se torna um forte candidato para a criação de um comitê.

Para Juliana Daniel, o escopo do comitê é algo que tem que considerar a própria governança do escritório, o tamanho da estrutura, a necessidade de padronização de processos e o nível de risco envolvido. De acordo com ela, natural que os comitês tenham por escopo prioritário áreas com regulações muito específicas e alto impacto (conflitos de interesses ou teses, privacidade e proteção de dados, prevenção à corrupção e à lavagem de dinheiro, tecnologia etc.).

"A verdade, é que não existe um formato único ("one size fits all") que satisfaça todas as necessidades. Nos escritórios full-service, a tendência é criar comitês que funcionem de forma transversal, com impacto em várias áreas. Em escritórios menores e especializados, os comitês costumam focar nos temas mais sensíveis ao nicho de atuação", comentou Juliana.

Quais os temas mais importantes atualmente?

Para Juliana os temas que devem ser tratados com atenção pelos comitês internos são:

  • Proteção de Dados e Privacidade, sobretudo para escritórios que lidam com grandes volumes de informações;
  • Compliance Anticorrupção e Prevenção à Lavagem, pois a prestação de serviços jurídicos resulta, por natureza, em um risco relevante em razão da grande interação com órgãos públicos, prestação de serviços de consultoria, cobrança de êxitos, dentre outros;
  • Governança e Conflitos de Interesses;
  • Diversidade, Inclusão e ESG;
  • Gestão de Tecnologia e Segurança da Informação;
  • Marketing, sobretudo em função das restrições a que estão sujeitos os advogados pelo Código de Ética da OAB.

Além desses, um tema que pode aparecer na pauta é o concorrencial, haja vista as investigações recentes do CADE sobre troca de informações sensíveis".

Na visão de Alberto, temas como tecnologia, inovação, diversidade e inclusão, bem-estar, saúde mental, qualidade de vida e compliance estão cada vez mais em evidência. Ele alerta também que esses assuntos não só impactam diretamente o ambiente de trabalho, como também refletem o compromisso do escritório com o futuro da sociedade.

Como os comitês internos impactam no dia a dia do escritório?

Os comitês, se bem desenhados e com capacidade de atuação firme, impactam sobretudo na credibilidade e reputação do escritório, inclusive da perspectiva do público interno. Juliana destaca que, preocupar-se com esses temas citados anteriormente demonstra maturidade dos sócios e da organização, além de uma capacidade de se alinhar às necessidades dos clientes e melhorar o diálogo entre os sócios e advogados, podendo ser um diferencial competitivo importante.

Quais as dificuldades na manutenção dos comitês internos?

Alberto afirma que o grande desafio é manter o engajamento constante, já que todos têm agendas cheias. Mas quando o comitê faz sentido para as pessoas, ele se torna algo natural, e não apenas mais uma demanda. Já para Juliana, algumas estruturas enfrentam dificuldades na definição clara dos objetivos para garantir que o comitê gere impacto prático e não se torne apenas mais uma instância burocrática. Ela disse também que há ainda estruturas mais tradicionais que podem oferecer resistência a mudanças, dificultando a atuação efetiva dos comitês.

Benefícios trazidos pelos comitês internos:

  • Melhoria na tomada de decisões: Ao reunir profissionais de diferentes áreas, os comitês ampliam a visão sobre os desafios e oportunidades da empresa.
  • Maior engajamento dos colaboradores: A participação ativa nas discussões permite que os funcionários contribuam diretamente para o crescimento da organização.
  • Fortalecimento da cultura organizacional: Os comitês ajudam a disseminar valores e práticas que reforçam a identidade da empresa.
  • Aprimoramento da comunicação interna: O compartilhamento de informações entre diferentes setores melhora a transparência e a eficiência da gestão.
  • Fomento à inovação e melhorias contínuas: Os grupos estimulam a troca de ideias e a busca por soluções estratégicas para os desafios da organização.

Quem escolher para fazer parte de um comitê interno?

Os membros do comitê são selecionados com base em expertise técnica e envolvimento com a área. Nas estruturas maiores, os comitês incluem advogados de diferentes áreas para garantir uma visão multidisciplinar e alinhada aos mecanismos de gestão do escritório. Já em escritórios menores, os membros tendem a ser sócios e advogados estratégicos que participam diretamente das decisões.

Além da expertise, critérios como capacidade de articulação e influência dentro do escritório, interesse no tema e disponibilidade para contribuir também são relevantes na escolha dos membros dos comitês.

Tendência nos escritórios

Para os especialistas, a criação de comitês internos, ainda que de maneira incipiente, é uma tendência crescente nos escritórios de advocacia, acompanhando seu processo de profissionalização no Brasil.

"É uma evolução natural do mercado. Os clientes corporativos estão cada vez mais exigentes com as práticas internas dos escritórios que contratam, especialmente em relação a compliance, governança, diversidade e segurança da informação. A existência de comitês bem estruturados pode ser um diferencial competitivo importante para os escritórios neste cenário", afirmou Juliana.

De acordo com a pesquisa do Análise Advocacia 2025, 64% dos escritórios entrevistados possuem um comitê interno executivo. Sendo seguido por comitês de marketing com 62% e tecnologia e inovação com 60%. Além do top 3, 56% dos escritórios têm comitês internos de compliance, 50% de diversidade e 37% de responsabilidade social. Cidadania figura em último com apenas 2% de adesão, enquanto outros temas possuem 36%, a questão permitia apontar mais de uma alternativa. Dos mais de 800 escritórios entrevistados, 41% não atuam com comitês internos.

(Imagem: Análise Editorial)

Segundo Alberto Macedo, escritórios que investem em comitês internos saem na frente, pois mostram que valorizam a participação ativa de seus profissionais. "O futuro está em ambientes mais colaborativos, onde as pessoas têm voz e podem cocriar soluções que impactam não só o dia a dia do escritório, mas todo o mercado", concluiu Alberto.

Como estruturar um comitê interno eficaz

Para garantir a eficiência dos comitês internos, é essencial seguir algumas diretrizes:

  1. Definir objetivos claros: Cada comitê deve ter uma finalidade específica e metas bem estabelecidas.
  2. Escolher membros estratégicos: A composição do grupo deve ser diversificada, contemplando diferentes perfis e áreas de atuação.
  3. Estabelecer uma governança: É importante definir papéis, responsabilidades e a periodicidade das reuniões.
  4. Garantir apoio da liderança: O suporte da alta gestão é fundamental para a implementação das ações propostas pelos comitês.
  5. Monitorar e avaliar os resultados: Indicadores de desempenho devem ser utilizados para medir a efetividade das iniciativas.
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