Na manhã de quinta-feira, 5, aconteceu a estreia do Programa Análise Advocacia, versão aprimorada das lives que começaram durante a pandemia. Esta foi a 90ª transmissão ao-vivo da TV Análise, canal do YouTube da Análise Editorial.
O convidado desta edição foi o advogado Mais Admirado pelo ANÁLISE ADVOCACIA desde a primeira edição, em 2006, e sócio fundador do BMA Advogados, Chico Müssnich. O programa foi apresentado pelo sócio e conselheiro da Análise, Alexandre Secco, e pela diretora-presidente e publisher, Silvana Quaglio.
Marcado por simbolismos, o novo programa se propôs a trazer cada vez mais informação e conteúdo para a advocacia empresarial. No dia do empreendedor, o bate-papo também abordou temas sobre negócios e administração na advocacia.
Sentado à frente do mapa-mundí, Chico disse nunca ter se tornado um advogado, na sua visão, ele já nasceu advogado e carrega um ofício. "Advocacia é igual malária, você nunca se cura", parafraseou a frase de seu sócio Paulo Aragão.
Torcedor ilustre do Botafogo, o advogado relacionou sua atuação na administração do escritório com futebol. Como capitão do time, sempre gostou de representar e defender questões, ter liderança para apresentar pontos de vista e discordar quando necessário. "Acho importante ser o capitão [do time] jogando bola, tem muito capitão aí que não joga nada. Eu sou um capitão que joga, sou super focado", determinou.
Lembrando o passado subversivo dos Müssnich, enquanto estudante da ainda federalizada USP, seu avô liderou uma revolta contra a reforma dos estatutos da universidade e foi jubilado. A anistia veio seis meses depois. Antes disso, seu bisavô foi conselheiro do Império, em 1884, no Gabinete Lafayette - ministério formado pelo partido liberal que durou pouco mais de um ano.
Autor do livro "Cartas a um jovem advogado" (Editora Sextante, 2019), Chico se mantêm no topo desde a primeira edição do anuário ANÁLISE ADVOCACIA. Entre as passagens do livro, a frase ‘ser advogado é ter adversários’ foi destacada pelo apresentador Alexandre Secco. "Todo dia que saí de casa [o advogado] vai encontrar um adversário. Você está defendendo alguém, contra alguém que defende outro interesse, [é preciso] ser colega, ser correto e ter um trato espetacular. 99% você cria grandes amigos, mas tem 1% que deixa de ser adversário e vira inimigo. Normal, acontece, não se assustem", explicou o autor.
Com visão multidisciplinar, Chico puxou a orelha dos colegas. Segundo ele, a matemática não é valorizada durante a formação em direito, e que em seu exercício é fundamental. Ele ainda sugere que matemática financeira seja matéria obrigatória.
"Cartas a um jovem advogado" também cita pôquer e teatro. "O pôquer te ajuda a compreender as atitudes do seu adversário a mesa", observou. "E o teatro é que, como advogado, muitas vezes pra representar bem seu cliente você tem que encarnar o papel dele".
Nabor Bulhões, José Luiz Bulhões Pedreira (morto em 2006), Erasmo Valladão e Luiz Leonardo Cantidiano (2017) foram citados por Chico como grandes adversários com quem já teve embates classificados como elegantes e com galhardia.
Experiente, Chico já perdeu algumas idealizações da profissão, como a de que a defesa oral muda o jogo. "Essa ilusão que a gente tem que a defesa oral muda muita coisa eu já perdi faz tempo. O despacho mesmo que vale é o memorial que entrou, que você conversou, explicou a tese do cliente. Despachar é muito importante no judiciário. Na arbitragem você tem as duas partes juntas".
Como administrador de uma banca de grande porte, Chico reconhece as responsabilidades e valoriza, tanto nos sócios quanto nos outros advogados a capacidade de team work. Parceria e reconhecimento são mantras que o advogado diz acreditar fortemente. "Eu sou um team player".
Olhando em retrospectiva, "Cartas a um jovem advogado" seria um livro diferente se escrito hoje. Mais liberdade e flexibilidade no cotidiano do trabalho seriam temas revisitados, mas o autor ainda é entusiasta do convívio no escritório. "O que faz a gente manter a organização é o nosso convívio, coisa que o Zoom, Teams e o Google Meet não dão. Conversar, ir à sala, ter uma dúvida, aquele almoço, troca de conhecimento, isso não tem, e é fundamental. É o que cria um vínculo".
"Nada mais burro do que o sujeito que é dogmático e não muda nada", defendeu Chico, que faz doutorado na Alemanha, e continua estudando e aprendendo.