Nesta quinta-feira (4), a Análise Editorial recebeu mais um convidado especial em suas lives quinzenais. Desta vez, Silvana Quaglio e Alexandre Secco tiveram uma conversa divertida e enriquecedora com Alexandre S. D’Ambrosio, vice-presidente executivo jurídico e tributário da Vale S/A, uma das maiores empresas da América Latina.
Com larga experiência em escritórios de advocacia dos Estados Unidos e tendo passado pelo departamento jurídico de grandes empresas, como Odebrecht, Telemig, GVT, Votorantim e Santander, o executivo compartilhou diversas lições adquiridas durante sua trajetória, dentre elas saber aprender com a equipe e como o advogado corporativo precisa ser mais propositivo, atuando como um business partner da organização.
Mesmo desempenhando o papel de gestor, D’Ambrosio não esconde o prazer que tem em revisar peças, fazer alguns contratos pessoalmente e colocar a mão na massa para contribuir, afinal, ele nunca deixou de ser um advogado. Contudo, o profissional trouxe uma nova perspectiva para o bate-papo, ao sustentar que os advogados internos têm grande responsabilidade de agir como agente de transformação.
Tanto em seu período trabalhando na área de telefonia como quando se inseriu no mercado bancário, D’Ambrosio encontrou ambientes que passavam por mudanças no estilo de governança ou no perfil da cultura organizacional e, neste contexto, ele defende que o departamento jurídico é o que tem maior capilaridade dentro da empresa; ou seja, tem o poder de orientar, pelo viés legal, como agir e como não agir. "Se eu oriento a melhor prática do ponto de vista jurídico, eles vão fazer", afirmou.
Mesmo assumindo já ter recebido memorandos que apontavam todos os riscos e dificuldades que poderia enfrentar, sem lhe dar uma sugestão para lidar com isso, o head jurídico da Vale reforçou a ideia de que o mercado brasileiro da advocacia é muito competente. Em todo caso, deixou claro que o advogado de um escritório que preferir investir diretamente na relação com o CEO da empresa não terá vez com ele.
Umas das passagens mais delicadas e marcantes da carreira de Alexandre se deu após o rompimento da barragem da mineradora no município de Brumadinho, em Minas Gerais. O acidente vitimou milhares de pessoas e, segundo o advogado, serviu de catalizador para diversas mudanças nos protocolos de segurança da empresa e em sua relação com a comunidade. Em meio a um clima de desespero generalizado, causado pela situação adversa com a barragem, D’Ambrosio foi chamado para tomar a dianteira nas decisões, devido à serenidade característica que possui.
Após criar um comitê de crise, ele realizou uma reunião com as autoridades locais e informou que eles iriam assumir todas as responsabilidades e trazer a solução para o problema, mesmo não sabendo exatamente qual era a sua origem. Além disso, citou a adoção das mesas de conciliação para os atingidos pelo desastre, os recursos ofertados para o trabalho do corpo de bombeiros, as compensações firmadas com o Estado e ponderou sobre a importância de deixar os membros de sua equipe agirem. "Simplesmente permitir que as pessoas trabalhem, às vezes, é a melhor solução; empoderar os profissionais", resumiu.
Na conversa, Silvana Quaglio o questionou o head jurídico sobre uma pauta que está dominando, atualmente, o mercado: o ESG (Environmental, social and corporate governance - Ambiental, Social e Governança Corporativa, em português). D'Ambrosio discorreu sobre algumas iniciativas e metas estabelecidas pela Vale S/A no campo da sustentabilidade e governança, reconhecendo a importância do tema.
Já a respeito da questão social, ele refletiu sobre a postura antiga da empresa, ainda quando ela era uma estatal e não mantinha uma boa abordagem com a questão indígena e sua relação com a comunidade do entorno, analisando que o modus operandi mudou e agora a companhia leva estes fatores em consideração.
O encontro terminou com um conselho do advogado para os novos profissionais que estão chegando no mercado jurídico: todos devem manter suas mentes abertas às oportunidades.