Advogado do futuro: veja as habilidades essenciais para os próximos 5 anos | Análise
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Advogado do futuro: veja as habilidades essenciais para os próximos 5 anos

Transformação digital, inteligência artificial e demanda por perfil multidisciplinar redesenham as exigências para os advogados, que precisarão combinar excelência técnica, visão de negócios e soft skills

7 de July 13h39

A transformação digital, as novas demandas regulatórias e a internacionalização dos negócios devem redefinir a atuação dos advogados nos próximos anos. O setor jurídico atravessa um período de mudanças estruturais, exigindo profissionais mais conectados à tecnologia, à gestão estratégica e às pautas corporativas contemporâneas.

Formação técnica sólida deixa de ser suficiente

Para Paulo Focaccia, managing partner do FAS Advogados, a formação técnica robusta seguirá sendo indispensável, mas não será suficiente. "Mais do que nunca, os advogados precisam ter uma formação técnica muito robusta. Conhecer profundamente sua área de atuação, de fato dominar a matéria do Direito com a qual trabalham, é imprescindível. Além disso, devem estar atualizados com o mercado", afirma. Segundo ele, entender como as práticas jurídicas se aplicam aos negócios e atuar como conselheiro estratégico serão diferenciais cada vez mais valorizados.

Luciano Alves Malara, sócio da Percequillo, Cavalcanti, Malara & Munhoz (PCMM Advogados), reforça que a capacidade de aprendizado contínuo é um dos fatores mais decisivos para o sucesso na advocacia atual. "O ritmo acelerado das transformações tecnológicas não permite que fiquemos um mês desatentos, sob pena de precisarmos de um gigantesco esforço para nos reposicionarmos em um nível relevante", destaca. Para ele, investir em formação multidisciplinar e programas de imersão em ambientes de inovação, como hubs tecnológicos, amplia a capacidade de adaptação e antecipa tendências do setor.

Soft skills e habilidades socioemocionais em evidência

Dados levantados pelo Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI), da FGV Direito SP e revelados pela pesquisadora e gestora de projetos do CEPI, Ana Paula Camelo, confirmam esse cenário. Segundo a pesquisa "Formando a advocacia do presente e do futuro: habilidades e perspectivas de atuação", as competências jurídicas seguem como as mais valorizadas e escassas no mercado, mas habilidades de gestão e socioemocionais vêm ganhando destaque e ocupando posição de prioridade no curto e médio prazos.

Inteligência artificial e o mercado jurídico

O avanço da inteligência artificial também deve impactar diretamente a rotina jurídica. "Sou entusiasta da inteligência artificial. Acredito que ela veio para mudar o perfil e a forma de atuação dos advogados. No futuro, vamos usá-la não apenas para automatizar tarefas, mas também para criar, elaborar e melhorar a qualidade técnica dos trabalhos", explica Focaccia. Ana Paula, lembra que desde 2018, estudos já indicavam a reorganização de funções e carreiras na advocacia por conta da tecnologia, criando áreas e exigindo novas competências. O fenômeno se consolidou em três frentes: novas formas de executar tarefas, novos cargos e novas trajetórias jurídicas.

Profissionais multidisciplinares e com visão de negócios

A demanda por profissionais com perfil multidisciplinar e conhecimento em tecnologia tende a crescer em praticamente todas as áreas. "O advogado que não tiver um perfil multidisciplinar e conhecimento em tecnologia vai ficar para trás", reforça Focaccia. Camelo afirma que a complexidade dos casos e a digitalização acelerada exigem domínio técnico e visão multidisciplinar. Os advogados também precisam dialogar com profissionais de outras áreas. Malara recomenda foco em temas como legal tech, proteção de dados, cibersegurança, inglês jurídico, contratos internacionais, legal project management, compliance e ESG.

Além das competências técnicas, as soft skills devem se tornar fator determinante para a competitividade. "Na minha visão, o advogado do futuro será um profissional de negócios com habilidades jurídicas. Saber se comunicar, negociar e ter pensamento estratégico é essencial", avalia Focaccia. Ana Camelo destaca que atributos como inteligência emocional, empatia e comunicação interpessoal já ocupam posição prioritária no mercado e devem se fortalecer com a evolução das tecnologias jurídicas. Malara complementa que habilidades como pensamento estratégico, visão de negócios, comunicação clara e adaptabilidade serão indispensáveis em um mercado em permanente transformação.

Atualização contínua e formação complementar como diferencial

Por fim, o investimento em atualização contínua e formação complementar aparece como fator decisivo. "O advogado é um profissional multifacetado. Muitas vezes, penso que ele deveria ter disciplinas de psicologia, além de negócios, administração, negociação e até finanças", afirma Focaccia. Camelo recomenda que jovens profissionais invistam em competências de gestão, tecnologia e habilidades socioemocionais. Enquanto Malara enfatiza a importância de experiências internacionais e a busca planejada e estratégica por novos desafios e conhecimentos.  "O conhecimento é um investimento que nunca se deprecia, e a capacidade de adaptação é o ativo mais valioso que um profissional pode possuir no século XXI", conclui Malara.

Advogados do FuturoAna Paula CameloCentro de Ensino e Pesquisa em InovaçãoCentro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI), da FGV Direito SPCEPIFAS AdvogadosFGV Direito SPLuciano Alves MalaraPaulo FocacciaPercequillo, Cavalcanti, Malara & Munhoz (PCMM Advogados)