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Transformação digital e parcerias consultivas: o futuro da recuperação de crédito

Por Rodolfo Bustamante, sócio Contencioso Estratégico do Bhering Cabral Advogados

14 de February 8h51

Nos últimos anos, o setor de recuperação de crédito tem experimentado mudanças profundas, movidas pelo avanço da digitalização, o uso de novas tecnologias e a evolução no comportamento de consumidores e empresas. Essa modernização reflete movimentos observados em outros mercados, como o de seguros, com a entrada de fintechs especializadas e uma abordagem mais estratégica por parte dos escritórios de advocacia que atuam nesse segmento.

A recuperação de crédito desempenha um papel vital no equilíbrio do sistema financeiro, especialmente em períodos de instabilidade econômica, quando a inadimplência tende a crescer. Um exemplo disso é o impacto do Programa Desenrola Brasil, que já auxiliou cerca de 15 milhões de pessoas e viabilizou a renegociação de cerca de R$ 50 bilhões em dívidas, segundo dados oficiais.

Diante desse cenário, empresas do setor, como escritórios de cobrança e agências especializadas, têm incorporado tecnologias avançadas para otimizar resultados. A inteligência artificial (IA) e o machine learning, por exemplo, estão transformando a maneira como as dívidas são cobradas, permitindo prever comportamentos, identificar os canais mais eficazes para contato e personalizar abordagens de negociação. Essa inteligência analítica não apenas acelera a recuperação, como também melhora sua eficácia.

Além disso, há uma mudança evidente no tom das cobranças: práticas mais humanizadas e empáticas vêm substituindo métodos tradicionalmente agressivos. O foco agora está na experiência do cliente (CX), com estratégias que incluem personalização, educação financeira e facilitação de pagamentos, como descontos e condições de renegociação mais flexíveis. Esse novo modelo busca evitar conflitos e fortalecer o relacionamento com os devedores.

Os escritórios de advocacia especializados em recuperação de crédito também acompanham essa transformação, ajustando suas práticas para atender às demandas do mercado. A adoção de soluções extrajudiciais tem ganhado relevância, permitindo que negociações e acordos sejam realizados fora do ambiente judicial, reduzindo custos e encurtando prazos.

Ao mesmo tempo, esses escritórios têm assumido um papel mais consultivo junto às empresas. Isso inclui o desenvolvimento de políticas de crédito e estratégias de cobrança desde a concessão inicial, mitigando riscos e prevenindo a inadimplência. Modelos contratuais mais robustos, alinhados a análises preditivas, ajudam a identificar potenciais inadimplentes e a estruturar soluções preventivas.

A digitalização no setor não se limita à automação. Trata-se de integrar tecnologia e estratégia para criar um ambiente mais eficiente e colaborativo. Ferramentas digitais, combinadas com uma atuação jurídica consultiva, permitem otimizar processos e criar soluções personalizadas que atendem às necessidades de credores e devedores.

A sinergia entre empresas de recuperação de crédito e escritórios de advocacia vai além da recuperação de ativos: ela fortalece relações e promove uma abordagem mais justa e sustentável. Esse equilíbrio entre inovação tecnológica e uma visão consultiva assegura que o setor esteja preparado para lidar com os desafios de um mercado dinâmico e digital, garantindo resultados que atendam tanto às demandas financeiras quanto à construção de relações de confiança.