241 advogadas estreiam no Análise Advocacia Mulher 2024 | Análise
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241 advogadas estreiam no Análise Advocacia Mulher 2024

Ao todo, foram apontadas 1,3 mil advogadas admiradas em 2024, das quais 17% são estreantes

A advocacia é feita de casos e de histórias. A edição ANÁLISE ADVOCACIA MULHER 2024 é o começo de uma nova etapa na carreira de 241 profissionais. Esse é o número de estreantes no ranking que mapeia a advocacia empresarial brasileira há quatro anos. Feita para destacar a mulher no universo da advocacia, a primeira edição do recorte aconteceu em 2021, quando 1,1 mil foram eleitas Mais Admiradas por executivos e responsáveis setoriais das maiores companhias do país.

Alguns escritórios foram expoentes entre as novas Mais Admiradas, o Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados teve cinco advogadas eleitas, enquanto o Demarest e o Mattos Filho tiveram seis cada um. Ao todo, os eleitores apontaram 1,3 mil Admiradas em 2024, das quais 17% são estreantes.

Débora Gartner é sócia das áreas de Fusões e Aquisições e Societário, especialidade na qual foi eleita Mais Admirada, no escritório Demarest. Ela cita que seu escritório tem se esforçado para transformar o ambiente de trabalho em um lugar mais acolhedor tanto para mulheres quanto para homens.

"No Demarest, o número de sócias tem aumentado. Hoje temos 40% da sociedade composta de mulheres, e o objetivo é aumentar esse número cada vez mais. Nos últimos cinco anos, a expansão na quantidade de sócias foi de 52,4%. Elas passaram de 21 sócias mulheres em janeiro de 2020 para 32 em janeiro deste ano", disse.

O cenário é animador, mas nem sempre foi assim. Débora já conviveu com outra realidade. Em 2015, quando trabalhou no escritório norte-americano Simpson Thacher & Bartlett, sentiu que, ao mesmo tempo em que era a oportunidade perfeita para aprender com as pessoas que sempre admirou, também enfrentava seu maior desafio. "A principal diferença [entre os EUA e o Brasil] era que, além de ser mulher em um ambiente em que o predomínio é masculino, eu era uma estrangeira em um ambiente majoritariamente americano."

A observação de Débora é ainda mais contundente quando faz o paralelo entre os cargos ocupados por homens e mulheres. Na sua visão, a hegemonia feminina que existe nas universidades não é refletida no mercado de trabalho. "É fácil perceber que o mesmo ocorre em diversos escritórios e empresas, até mesmo em eventos jurídicos, como congressos, entre outros", afirmou, acrescentando que "a diminuição [no número de mulheres] pode se dar por muitas razões, mas muitas vezes é resultado do ambiente profissional em que se encontra, que pode estar carregado com um preconceito estrutural".

Convidada a falar sobre qual o maior reconhecimento que uma advogada pode receber, a também estreante no ranking Luciana Isabel de Marchi diz que a satisfação expressa pelo cliente é um santo remédio. "Após o término de um trabalho, sinto-me muito bem, aumentando saudavelmente minha autoestima, quando o cliente reconhece o esforço e a dedicação que despendi em favor de seu interesse."

Sócia do Eichenberg, Lobato, Abreu & Advogados Associados, Luciana está sediada em Garopaba, um município com apenas 62 anos de existência, localizado no litoral sul de Santa Catarina. Eleita na área de Direito Imobiliário, a advogada enfrenta os desafios da carreira de modo altivo e rejeita qualquer tipo de distinção. "As habilidades são de cada um, independentemente do sexo, penso eu", disse. "Mas podemos pensar em melhores habilidades de um lado e do outro. O ideal é unir essas habilidades e desfrutar um resultado espetacular em prol do trabalho."

"Ideais de inclusão e diversidade só serão prósperas se as pessoas se sentirem acolhidas, respeitadas e valorizadas", segundo Luciana. "Penso que devemos, sempre, raciocinar que qualquer um, independentemente de raça, gênero ou classe, é um ser humano e, a partir disso, tratar com igualdade, aproveitando as habilidades de cada um", afirmou. "A união de pessoas e suas habilidades é a grande sacada para o negócio, e essa conquista deve se dar por meio daquele que terá a habilidade de liderar."

Mariana Telles é uma das últimas a se formar em Direito entre as Mais Admiradas desta edição. Seu diploma na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) só chegou em 2021. Mas o reconhecimento veio rapidamente. De estagiária na Defensoria Pública do Rio a associada no Trench Rossi Watanabe, Mariana já circula entre os mais influentes profissionais da área. Ela foi eleita pela atuação em Direito Societário.

"O maior reconhecimento que uma advogada pode receber no mercado de trabalho está na ocupação de cargos de destaque e liderança", comentou. "Isso enseja o reconhecimento não só de suas capacidades técnicas, mas também de suas habilidades e competências sociais", afirmou.

A liderança feminina é um tema caro para Mariana. Para ela, habilidades que antes eram dispensáveis tornaram-se fundamentais. "Embora a sensibilidade das mulheres já tenha sido objeto de críticas e um obstáculo para a ocupação de determinados cargos, o que vemos é que essas e outras habilidades têm sido amplamente almejadas pelas mulheres e encorajadas pelas empresas."

Na avaliação de Mariana, o cenário da advocacia atual propicia o trabalho em equipe: "As figuras femininas que atualmente ocupam o mercado de trabalho estão utilizando, cada vez mais livremente, suas habilidades de inteligência social e emocional, sensibilidade para o trabalho em equipe e assertividade".

O Trench Rossi Watanabe conta ainda com ações internas de equidade de gênero, étnico-racial, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e religiões. "Hoje, cerca de 60% do corpo jurídico do escritório é composto de advogadas", comenta.

Para Lígia Pereira, advogada Mais Admirada e estreante pelo Machado Meyer, tanto o profissional quanto o escritório podem impulsionar as qualidades um do outro, e, para isso, ela defende que é preciso que exista valorização mútua. "Muito se fala, entre o fim de 2023 e o início de 2024, sobre a retratação nas vagas e as medidas de inclusão e diversidade, o que confirma quão volátil é o comprometimento das empresas com essas questões", disse Lígia. "Como pessoa preta, satisfatoriamente vejo que o Machado Meyer, em sentido contrário a esse movimento, tem cada vez mais implementado programas e ações não só para aumentar o número de advogados pretos no escritório, mas para incentivá-los a permanecer e crescer aqui dentro."

Assim como Lígia é recente no ranking, sua história no Machado Meyer ainda vai completar dois anos em 2024. "A principal premissa que uma empresa deve ter, e que vale para todos os recortes de diversidade, é que ‘nada sobre nós sem nós’", finalizou.

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