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Inclusão avança: 57% das bancas tem advogados LGBTQIAPN+

Mais da metade dos escritórios afirma ter um ou mais advogados que se autodeclaram pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+

14 de August 12h

A edição de 2025 do ANÁLISE ADVOCACIA DIVERSIDADE E INCLUSÃO levantou dados cos escritórios sobre a presença de advogados, sócios ou não, que fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+. O levantamento deste ano com 557 escritórios revela que 57% das bancas contam com um ou mais advogados que se declararam pertencentes a essa comunidade.

No que diz respeito aos escritórios que possuem um ou mais sócios pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+, 29% afirmaram ter essa representatividade. Em comparação com a edição anterior, houve uma queda de dois pontos percentuais, quando a porcentagem de bancas que possuíam sócios integrantes da comunidade era de 31%.

Os desafios da Diversidade LGBTQIAPN+

De acordo com Fernanda Silveira, sócia do Lacerda Diniz Machado, que atua também na área administrativa do escritório, o mercado está mais receptivo a profissionais que declaram pertencer à comunidade LGBTQIAPN+, impulsionado pelas pautas sociais. Contudo, a sócia alerta que, mesmo assim, o preconceito ainda existe, principalmente em algumas regiões e setores econômicos. Apesar de as pessoas tentarem se policiar mais em seus posicionamentos, independentemente de quão polêmicos eles sejam, a atuação desses profissionais tem servido para demonstrar a inutilidade de tais preconceitos.

Segundo Fernando Xavier, sócio da área de infraestrutura e energia do Machado Meyer Advogados e integrante da comunidade, apesar de o Brasil ter superado alguns preconceitos, a homofobia ainda se faz presente. No entanto, ao menos no ambiente empresarial, Fernando afirma que essas pessoas sentem vergonha de expor publicamente suas opiniões polêmicas. Embora singelo, esse comportamento representa um avanço positivo.

"Quando uma pessoa tem esses vieses mais preconceituosos, eu sempre pondero: De onde eles vêm? Onde isso está sendo exposto? Se, ao menos, está respeitando a convivência com os outros, já é uma grande conquista, porque não era assim antigamente", pondera Xavier.

As adversidades do diferente

A pesquisa mais recente que busca dimensionar a quantidade de pessoas que integram a comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019. Trata-se da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), conduzida de forma experimental, que apontou que 2,9 milhões de adultos se autodeclararam bissexuais, gays ou lésbicas.

Esse levantamento não incluiu dados sobre identidade de gênero, uma lacuna que permanece sem monitoramento por parte das instituições federais. Dessa forma, apesar de ser a fonte mais confiável disponível, o número ainda representa um retrato incompleto da população LGBTQIAPN+ no país.

Entre essas estatísticas está Fernando Xavier, 40 anos, casado há 12 com seu parceiro, com quem mantém uma união estável, e pai de um menino. Ele relata que, para evitar o preconceito, precisou separar rigidamente sua vida pessoal da profissional. "Eu não sofri preconceito explícito ao longo da minha carreira, porque não fui eu mesmo na minha plenitude. Mas isso foi bom? Não. Me sufocou. Eu estava entregando o meu melhor ali? Com certeza, não tanto quanto poderia", afirma.

Fernando conta que viveu uma intensa pressão interna para se tornar o "profissional perfeito", numa tentativa inconsciente de compensar sua orientação sexual. Hoje, ele tenta aconselhar advogados mais jovens a não reproduzirem esse padrão. "Eu digo para eles que não precisam ser um ‘profissional modelo’ para justificar ou compensar o fato de fazerem parte da comunidade LGBTQIAPN+", explica.

Para ele, a chamada "síndrome do bom gay" — quando a pessoa sente que precisa exceder expectativas para ser aceita — e a "overcompensation" (compensação excessiva) podem gerar impactos psicológicos duradouros. "Esse é um caminho muito difícil, e espero realmente que os mais novos consigam buscar o que é espontâneo, sem carregar traumas e pressões desnecessárias", complementa.

O que pode ser feito para mudar o cenário LGBTQIAPN+?

Na visão de Fernando, mudar esse cenário exige que as organizações criem mecanismos eficazes de combate a práticas discriminatórias e preconceituosas. Para ele, é possível tornar o ambiente de trabalho mais leve e inclusivo com ações simbólicas, como dias temáticos de diversidade — e ele até brinca que poderiam incluir "bolos coloridos" nessas celebrações. No entanto, faz um alerta: apenas isso não é suficiente. "Quando a política de diversidade se resume a um único dia de celebração, geralmente ela está completamente equivocada. Essa data tem que ser a cereja do bolo. Um ambiente livre de qualquer tipo de preconceito é o básico", reforça.

O sócio do Machado Meyer também destaca ainda que há outros recortes de diversidade que também merecem atenção efetiva. Na sua avaliação, para que a inclusão seja real, é necessário seguir dois caminhos fundamentais: o primeiro é a empresa olhar para dentro e identificar onde e como pode atuar dentro da sua esfera de influência, promovendo mudanças concretas; o segundo é buscar coordenação com outras organizações, associações e órgãos governamentais para agir de forma articulada na sociedade, indo além dos limites corporativos.

Quais são os benefícios da diversidade?

Para Fernanda, o principal benefício de contar com profissionais que se identificam como parte da comunidade LGBTQIAP+ no escritório é ampliar a capacidade de atender plenamente todos os clientes. Ela explica que tudo depende do perfil de cada cliente, das características dos profissionais envolvidos e do tipo de demanda a ser executada. "Por isso, a pluralidade é essencial para que sejamos agentes de transformação e conexão efetiva, atendendo às peculiaridades de cada um dos nossos clientes", afirma.

Já Fernando Xavier adota uma visão mais pragmática. Segundo ele, a diferença entre uma empresa e uma associação beneficente é que a primeira tem como objetivo gerar lucro. Para isso, busca sempre os melhores e mais capacitados profissionais, e impor restrições a quem pode fazer parte do time reduz drasticamente as opções disponíveis.

Apesar dessa perspectiva prática, o sócio do Machado Meyer também reconhece que a diversidade oferece um benefício significativo para os próprios colaboradores. "Quando criamos um ambiente que permite às pessoas viverem como realmente são, ganhamos outro benefício: esse se torna um local onde traumas, questões psicológicas, burnout e outras consequências de um ambiente opressor simplesmente deixam de existir", conclui.

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