Segundo Juliano Kimura, especialista em inovação digital formado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, "a Inteligência Artificial é apenas mais um passo para um mundo ainda mais abundante", e ele não poderia estar mais certo. Pela primeira vez, o ANÁLISE ADVOCACIA DIVERSIDADE E INCLUSÃO 2025 trouxe a inteligência artificial como pauta. No maior panorama de diversidade da advocacia, os participantes foram questionados se já utilizavam IA em iniciativas de D&I — e 25% responderam que sim.
Estratégias estruturadas e Áreas de aplicação
Neste ano, o levantamento levantou se os escritórios possuem estratégias formais para o uso da inteligência artificial em práticas de diversidade. Das 140 respostas, 56% indicaram que utilizam a ferramenta de forma pontual, sem planejamento estruturado, enquanto 24% disseram que a implementação está em fase inicial.
O Meira Breseghello Advogados emprega a inteligência artificial em diferentes frentes ligadas à diversidade e inclusão. Segundo Ana Beatriz de Melo, executiva de gestão de pessoas, o escritório aplica a tecnologia nos seguintes casos:
- Treinamentos e campanhas: a IA auxilia na elaboração de materiais e apresentações práticas, interativas e adaptadas às necessidades do escritório, além de apoiar a produção de newsletters internas para promover engajamento e conscientização da equipe.
- Glossários: a ferramenta ajuda a desenvolver dicionários com termos inclusivos e específicos do setor, reforçando o respeito e fortalecendo a cultura de diversidade no ambiente de trabalho.
- Textos: a IA apoia a escrita e a revisão de redações, especialmente para os profissionais mais jovens, além de agilizar a tradução de conteúdos.
O escritório acaba sendo um retrato de como a advocacia brasileira tem usado a ferramenta em prol da diversidade no Brasil. A pesquisa também questionou as bancas sobre quais áreas a inteligência artificial é utilizada para apoiar ações de diversidade e inclusão. Do total, 54% das bancas aplicam a tecnologia para uma comunicação inclusiva. Em seguida, vêm o recrutamento e a seleção, com 46%. Já o uso da IA como ferramenta de acessibilidade e no apoio à criação de treinamentos e campanhas de conscientização aparece em empate, com 44% cada.
Impacto do uso de IA nos escritórios
O Meira Breseghello Advogados está entre os escritórios que veem na IA um impacto muito alto sobre as iniciativas de diversidade. Para Ana Beatriz de Melo, executiva de gestão de pessoas da banca, esse foi um dos fatores determinantes para a adoção da tecnologia. "Consideramos o fortalecimento e o compromisso com nossos pilares essenciais — diversidade, inclusão e inovação —, e utilizamos a inteligência artificial para potencializar nossas práticas de forma inegavelmente estratégica", afirma Ana.
Entre os 140 escritórios consultados, 34% acreditam que o uso de inteligência artificial tem alto impacto nas práticas internas de diversidade. Outros 29% consideram o impacto muito alto, 25% o classificam como médio, 11% apontam impacto baixo e apenas 1% avalia que não há impacto.
Os benefícios da IA
O uso de inteligência artificial tem ganhado espaço nos escritórios de advocacia. De acordo com o anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2025, 47% das bancas nacionais já consideram a IA como a principal ferramenta de apoio à prática jurídica. Naturalmente, diferentes frentes já começam a explorar seus benefícios, como o fomento a políticas de diversidade e inclusão.
É o que aponta Fernando Pieri, sócio do HLL & Pieri Advogados, escritório que pretende implementar soluções de IA voltadas a D&I nos próximos anos. Segundo ele, os pontos positivos da tecnologia podem ser observados em diferentes áreas:
- Recrutamento e seleção: plataformas de IA permitem ampliar testes personalizados e analisar respostas conforme o perfil definido pelo escritório, gerando resultados mais assertivos e alinhados às competências desejadas.
- Avaliações internas: a análise de desempenho e produtividade pode ser feita de forma objetiva, garantindo promoções mais justas e transparentes.
- Clima organizacional: a tecnologia contribui para identificar pontos de melhoria, fortalecendo o ambiente de trabalho.
Apesar dos avanços, Fernando ressalta que o fator humano segue sendo indispensável em qualquer processo interno, independentemente de sua finalidade.
Os desafios da inteligência artificial
Embora a inteligência artificial abra um leque de possibilidades, ainda há obstáculos em sua aplicação. Para Ana Beatriz de Melo, executiva de gestão de pessoas do Meira Breseghello Advogados, o desafio está em conciliar produtividade e eficiência sem desconsiderar a curva de aprendizado de cada pessoa, garantindo que todos se sintam confortáveis e engajados no uso da tecnologia.
Já Fernando Pieri, aponta outros empecilhos: "Os algoritmos certamente podem ser ‘contaminados’ por informações viciadas inseridas pelos usuários, o que gera distorções." Ele também alerta para riscos de privacidade e ética: "É indispensável adotar políticas claras de proteção de dados, garantindo que as informações sejam então utilizadas de forma segura e responsável."
A auditoria dos algoritmos
Apesar dos benefícios, a utilização de IA exige cautela quanto à auditoria dos algoritmos empregados. Para Walter Giuseppe Manzi, sócio do BFMM Advogados, essa etapa é essencial, pois permite diversidade de perspectivas nas equipes que treinam a ferramenta, sempre mantendo a decisão humana no centro.
Segundo Walter, o problema não está em usar a IA em políticas de diversidade e inclusão, mas em aplicar a tecnologia de forma adequada. "Com governança e supervisão humana, a IA pode se tornar uma grande aliada, ajudando escritórios a diagnosticar desigualdades e a monitorar avanços."
No Meira Breseghello Advogados, a auditoria já faz parte da rotina. Ana explica: "Todas as pesquisas e resultados gerados pela IA são auditados e revisados pela nossa equipe, garantindo alinhamento com os valores do escritório e confiabilidade das informações. Além disso, há um termo de responsabilidade que define as diretrizes para uso."
Como implementar?
As políticas de diversidade e inclusão têm um futuro promissor dentro dos escritórios, e a inteligência artificial tem se mostrado uma aliada poderosa nesse processo. Mas, para que isso se concretize, é preciso ter um direcionamento claro. Aos 35% de escritórios que pretendem adotar a ferramenta em iniciativas de D&I, Ana Beatriz de Melo, aponta o caminho:
Para Walter Giuseppe Manzi, a tendência é que a IA conquiste cada vez mais espaço nas políticas de D&I dentro dos escritórios brasileiros. Contudo, ressalta que seu papel será sempre de apoio às práticas humanas. "A tecnologia deve servir à agenda ESG — nunca substituí-la", conclui.